sábado, 27 de março de 2004

Pouca transparência no 4º Poder

Desde ontem à noite que a SIC e a SIC-Notícias vêm transmitindo a notícia que o Refúgio Aboim Ascenção não aceita crianças com SIDA, nem crianças deficientes. O jornalista inicia a notícia com a frase "O país está chocado!"

O responsável pelo Refúgio esclareceu que não recebia essas crianças porque não tem condições para as receber (foi o que percebi nas suas palavras). Outras pessoas responsáveis por organizações de apoio a crianças deficientes ou crianças com SIDA apareceram a dizer que se está a fazer discriminação e que isto é inaceitável.

Nas palavras de todos os entrevistados parece claro que não há condições para ter essas crianças, mas gostariam de ter essas condições. O(s) jornalista(s) vai(vão) tentado enfatizar um sentimento de revolta nas palavras dos entrevistados.

No meu entender as crianças normais, com deficiência ou mesmo com SIDA deveriam poder brincar, estudar e estar juntas. No entanto é óbvio que isso exige condições especiais; todos sabemos como as brincadeiras de crianças podem terminar com arranhões, esfoladelas, dentadas e feridas a sangrar. Seria totalmente descabido misturar estas crianças sem adoptar as necessárias condições, permitindo que a doença se espalhasse. Também a existência de escadas ou outras barreiras físicas podem ser uma forte condicionante à presença de crianças que apenas se consigam deslocar em cadeiras de rodas.

O momento da notícia e todo o tom de escandaleira e de sensacionalismo barato é estranho.

Primeiro, porque há neste momento notícias e problemas que são bem mais graves na nossa sociedade (veja-se a estranha decisão do caso da ponte de Entre-os-Rios!)

Segundo, porque recentemente Dr. Luís Villas-Boas foi objecto de uma polémica ao afirmar que aos casais homossexuais não devia ser permitido a adopção de crianças (será esta notícia uma vingança de algum lobby?).

Terceiro: será isto uma forma de pressionar a atribuição de um apoio estatal para criar condições para receber crianças com SIDA ou deficientes? Estará o poder político tão insensível para ter sido necessário armar toda esta confusão?

Estamos claramente perante uma atitude pouco transparente do 4º Poder. Que se passará nos seus meandros?

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