segunda-feira, 29 de março de 2004

Religião nos jornais de fim-de-semana

Os jornais de fim-de-semana abordaram várias vezes o tema da religião.

No Expresso (mais precisamente na revista Única), tínhamos a página de Inês Pedrosa com o título Discutir Deus; além disso, faziam parte da mesma revista um artigo sobre padres operários e outro sobre a sucessão de Bartolomeu I, o patriarca de Constantinopla.

No Público de domingo, além do habitual texto de Frei Bento Domingues (Perguntas Sobre o Terrorismo), tínhamos um artigo sobre a forma como alguns católicos vivem a Quaresma e outro sobre um grupo missionário islâmico em Portugal.

Os textos de Inês Pedrosa e de Bento Domingues merecem uma leitura cuidadosa. No entanto, em cada um dos textos houve uma frase que despertou a minha atenção. Em ambas as frases parece-me que estamos perante uma visão muito pessoal dos factos (as palavras não são os factos; são apenas uma visão dos factos). Independentemente dos comentários que tenho a fazer sobre estas duas frases, os dois textos merecem ser lidos com atenção.

MARXISMO
"Ao aumentar o seu grau de tolerância, as grandes religiões do século passado (em particular os cristianismos e o marxismo) tornaram-se me simultâneo menos impiedosas e menos populares". (Inês Pedrosa)

Acredito que classificar o marxismo como religião é absurdo; tentar reduzir as grandes religiões do século XX ao cristianismo e ao marxismo é igualmente absurdo. Será que outras grandes religiões não produziram nada de sigificativo e positivo no século passado? Poderá uma teoria política ser comparada a uma religião?

Fará sentido classificar como religião uma ideologia que considera o ser humano como um pedaço de matéria que tomou consciência de si próprio? Alguma vez Marx se proclamou mensageiro divino? Os seus ensinamentos produziram alguma civilização? O Marxismo influenciou a sociedade ocidental durante 4 ou 5 gerações; outras sociedades foram influenciadas durante menos tempo. Será isso comparável a 20 séculos de Cristianismo ou 14 séculos de Islão?

Para lá do reparo que a frase merece, o texto de Inês Pedrosa é muito interessante pois mostra como a tolerância e a dúvida podem ser mais atraentes que as certezas absolutas.

O OUTRO TERRORISMO
"Existe um outro terrorismo promovido por governos, exércitos, bancos, empresas nacionais e multinacionais, organizações, pessoas e grupos que, a céu aberto, por omissão e acção, degradam a natureza, provocam epidemias, mergulham na pobreza, na doença na fome e na morte grande parte da população mundial." (Frei Bento Domingues OP)

Nesta frase, estamos a classificar como terrorismo algo muito mais grave do que isso. Lançar o terror contra uma sociedade é diferente de destruir, saquear e lançar no desespero grandes segmentos da família humana. O primeiro pode ter um grande impacto mediático na sociedade alvo desse terror; o segundo, não obstante o menor impacto mediático, cria um processo quase sempre irreversível de aniquilação de uma parte da humanidade.

Há duas boas razões para que esta "segunda forma de terrorismo" receba outra designação que não a de terrorismo. Primeiro porque é mais grave e mais destruidora; segundo, porque ao receber uma mesma designação, pode parecer uma justificação para o verdadeiro terrorismo.

O texto de Frei Bento Domingues tem o mérito de chamar a atenção para a completa falta de escrúpulos na luta pelo domínio e pelo poder; sobre esse assunto já tinha apresentado aqui uma citação da Promessa da Paz Mundial.

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