quarta-feira, 19 de maio de 2004

Civilização e Barbárie

Tentando responder ao Manuel
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Ao longo da história da humanidade sempre assistimos actos de tremenda crueldade. Foram cometidos por uma pessoa contra outra, por uma família contra outra, por um povo contra outro, uma classe social contra outra, um grupo étnico contra outro.

Por vezes esses actos foram cometidos dentro de uma ordem legal existente (os judeus na Alemanha nazi) ou de uma mentalidade de uma certa época (os guaranis no Brasil colonial), ou emergiram como fruto de preconceitos sociais, políticos e raciais não necessariamente enquadrados num quadro legal.

Mas apesar de tudo isto, eu acredito que a humanidade evoluiu.

A evolução ao nível de valores permite que hoje existam cada vez mais a pessoas a revoltar-se contra a barbárie, a dizer basta, a gritar que não podemos continuar a viver assim. Existem organizações que apoiam as vitimas; existem organismos internacionais que impedem que outros massacres se repitam. Por vezes surpreendemo-nos quando o coro dos nossos protestos surte algum efeito (o caso de Timor). Noutras épocas isso não acontecia; ou não havia notícias, ou a barbárie era moralmente aceitável.

No caso concretos destes abusos nas prisões iraquianas, não podemos deixar que os responsáveis fiquem impunes (esperemos que os media - e os blogs! - façam o seu papel e exerçam a sua pressão). No tipo de sociedades ocidentais em que vivemos, parece-me que são maiores as possibilidades dos culpados virem a ser encontrados do que seriam em regimes ditatoriais.

Mas mais grave que a barbárie das prisões iraquianas são outras barbáries que vão por esse mundo fora e merecem menos atenção mediática; se os povos da Libéria, do Sudão, da Colômbia ou da Birmânia se fizessem ouvir... Para azar deles, aos olhos dos governos e dos media ocidentais as imagens das prisões iraquianas têm mais valor do que os seus tremendos calvários. Já aqui me lamentei várias vezes sobre estes casos menos visíveis.

Lembro-me de ter visto uma reportagem sobre uma menina na Serra Leoa a quem os "rebeldes" cortaram os dedos das mãos. Após um curativo feitos pelos médicos, perguntou-lhe com a maior inocência: "Os meus dedos voltam a crescer?" Esta menina não era suspeita de qualquer crime.

Hoje a situação na Serra Leoa tende a normalizar-se, apesar de avanços e recuos (ver aqui). Não é isto um sinal que a Comunidade Internacional evoluiu?

Muito provavelmente estas situações e estes crimes bárbaros voltarão a acontecer; talvez venhamos a ter conhecimento delas, ou não. Mas sinto que colectivamente temos de continuar a evoluir para que a probabilidade de acontecerem seja cada vez menor; temos de continuar a evoluir para acudir a muitos outros que sofrem este e outro tipo de atropelos aos seus direitos humanos. E acredito que podemos evoluir.

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