quarta-feira, 30 de junho de 2004

Centros de Decisão Internacionais

Quando fiz mestrado, tive a oportunidade de assistir a um seminário, onde o palestrante, era o Eng. Viana Baptista. Tinha sido ministro dos transportes num governo "AD", no inicio dos anos 80; estava ali para partilhar connosco uma série de experiências pessoais no âmbito da gestão de tecnologia e de políticas industriais e de inovação tecnológica.

Referiu, a certa altura, as políticas europeias nessa área e a forma como os países se movimentam nos "corredores" da União Europeia para fazer valer os seus interesses. Contou-nos como era constantemente "assediado" por uma ministra holandesa com uma pasta equivalente à sua; ela sempre arranjava um pretexto para meter conversa com ele; onde quer que ele fosse, ela arranjava maneira para se encontrar com ele; a mulher emanava charme e simpatia.

Um dia percebeu que ela fazia isso com todos os ministros europeus com pastas iguais ou equivalentes à sua. Aquilo era apenas um dos métodos holandeses para fazer lobby. E olhando para os organismos internacionais, é fácil perceber que os holandeses possuem muita gente nas cúpulas ou integrando os respectivos centros de decisão. Ou seja: o lobby holandês nos organismos internacionais parece ser bem sucedido

A Holanda é, assim, um país com 15 milhões de habitantes e uma área que é 1/3 de Portugal e consegue desta forma fazer valer os seus interesses entre a comunidade das nações.

Soubemos nos últimos dias que o nosso primeiro-ministro será o próximo presidente da Comissão Europeia. Não sei se as negociações que levaram à escolha do nosso Primeiro é fruto de um lobby português, ou resultado de um entendimento de bastidores entre os países mais poderosos da União. Neste momento, a segunda hipótese parece-me mais plausível...

A escolha de um português (fosse Durão Barroso, ou António Vitorino) para chefiar a Comissão Europeia (apesar de ter menos poderes), só pode deixar-me satisfeito. Talvez os interesses portugueses na União fiquem melhor defendidos. É certo que isto é uma visão muito portuguesa e pouco universalista sobre esta Europa que se vai construindo; afinal, o Presidente da Comissão Europeia deve defender os interesses da Europa e não apenas do seu país natal.

Mas deixem-me ser um pouco faccioso! Gosto que o Presidente da Comissão Europeia seja português. Também gostava muito que o Conselho de Segurança da ONU tivesse como membros permanentes, grandes países como o Brasil (além disso, era importante acabar com o direito de veto naquele organismo...). Também gostava que Angola ou Moçambique ocupassem a presidência da OUA por muito tempo...

Enfim! Que as vozes lusófonas se fizessem ouvir nos centros de decisão dos organismos internacionais.

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