segunda-feira, 1 de novembro de 2004

Há 159 anos: a primeira notícia no Times

Há algumas semanas atrás, no Terra da Alegria, publiquei um texto mencionando aquilo que os bahá'ís americanos gostam de designar como a primeira referência à fé bahá'í no Ocidente. Os bahá'ís na Europa discordam, naturalmente, desta perspectiva americana; antes daquela referência outras houve na Europa, em livros jornais e revistas. A primeira referência que surgiu na Europa foi no The Times, de Londres.

O Times é daqueles jornais que estão irremediavelmente associados à imagem do Reino Unido. É quase um ex-libris britânico. O próprio Eça de Queirós, descreveu o Times com "um diário que inspira orgulho a todo o inglês sinceramente patriota, e que aos olhos respeitosos do estrangeiro aparece como uma das mais fortes colunas da sociedade inglesa, como a própria consciência da Inglaterra posta em letra redonda... esta austera gazeta que preferiria despedaçar as suas magníficas máquinas a consentir que elas imprimissem um bon-mot, uma pilhéria, uma linda bagatela, ou uma jovial anedota; este papel tão pudico que evita o nome de Zola como uma indecência..."[1]

Pois foi no venerado Times que, em 1 de Novembro de 1845, se publicou a primeira notícia sobre o surgimento de um novo movimento religioso e se descreveram as primeiras perseguições religiosas vividas pelos babís da Pérsia:

Pérsia
Recebemos a seguinte carta de Bushire, datada de 10 de Agosto:
Um mercador persa, que regressou recentemente de um peregrinação a Meca, tem estado desde há algum tempo a esforçar-se por provar que ele é um sucessor de Maomé, e portanto, tem o direito de exigir a todos os verdadeiros muçulmanos que o mencionem como tal na sua profissão de fé; já conseguiu reunir um bom número de seguidores que secretamente o ajudam a espalhar as suas ideias. Ao fim do passado dia 23 de Junho, fui informado por uma fonte fidedigna, que quatro pessoas, que foram ouvidas em Shiraz a repetir a profissão de fé de acordo com a forma prescrita pelo novo impostor, tunham sido detidas, julgadas e considerados culpados de blasfémia imperdoável. Foram condenados a ter as barbas queimadas com fogo. A pena foi executada com todo o zelo e fanatismo de verdadeiros crentes em Maomé. Considerando que perder as barbas não era uma punição suficiente para os crentes no impostor, foram ainda condenados a ter as suas caras pintadas de preto e expostas pela cidade. Cada um deles foi levado por um Mirgazah (carrasco) que lhes fez um furo no nariz e por onde lhes passou uma corrente, que puxava por vezes com uma tal violência que levava os seus companheiros a gritar por misericórdia do carrasco ou por vingança do Céu. É costume na Pérsia, nestas ocasiões, os carrascos recolherem dinheiro dos espectadores , particularmente dos lojistas no bazar. Ao fim do dia, quando os bolsos dos carrascos estão cheios de dinheiro, levam as infelizes até às portas a cidade (…)

Depois disto, os Mollahs em Shiraz enviaram homens a Bushire com ordens para deter o impostor e levá-lo para Shiraz, onde, ao ser julgado ele muito sabiamente negou a acusação de apostasia que lhe era feita, e assim escapou à punição
[2]
O autor da notícia não é indicado. Mas a notícia contém um conjunto de elementos conhecidos de historiadores bahá'ís, nomeadamente a peregrinação do Báb a Meca, a prisão dos Seus seguidores e consequente punição e exílio decretado pelo governador da província de Fars, o envio de homens a Bushir para prender o Báb e o Seu julgamento em Shiraz.

À data de publicação desta notícia tinha passado pouco mais de ano e meio sobre a declaração do Báb em Shiraz; poucos persas tinham conhecimento da Sua existência ou das Suas pretensões. Sendo um jornal de referência para os britânicos quase fica a impressão que as notícias do aparecimento do Báb chegaram mais rapidamente aos britânicos do que aos persas.

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Referências
[1] – Cartas de Inglaterra e Crónicas de Londres, Ed. Livros do Brasil, pag. 183
[2] – Citado em The Babi and Bahá'í Religions, Some Contemporary Western Accounts, Moojan Momen, pag. 69
Sobre as primeiras referências à religião bahá’í no ocidente ver Early Western Accounts of Bahá'í (and Bábí) Faith.

1 comentário:

Anónimo disse...

Agradeço aos bahaís que me fizeram crer que vale a pena viver, não quero dar maus pensamentos e sujeit-me à censura, mas Abdul Bahá não disse qaue se vós soubésseis o que é a morte vós vos precipítaríeis para ela. Praticas o google bombing?