domingo, 19 de junho de 2005

A Decisiva Importância da ONU

No Expresso de ontem uma crónica assinada por Mário Soares sob o título "A decisiva importância da ONU". Algumas frases e ideias a reter:
Num mundo sujeito a uma globalização inelutável, mas desregulada e sem ética, em que os repetidos atentados contra o Planeta são escandalosamente e inconscientemente ignorados, a decisiva importância da ONU avulta como um recurso insubstituível e uma referência.

... a ONU não foi capaz de estabelecer por forma legítima a paz universal (...) , nem nunca conseguiu libertar a Humanidade do medo - e do risco - de concretização das armas nucleares...

... a ONU não teve força para impor regras éticas que assegurassem uma certa ordem nos grandes interesses económicos que dominam e exploram o mundo, com o objectivo único do lucro pelo lucro e ignorando as pessoas e o seu necessário bem-estar.

...pensa-se na necessidade de um governo mundial, ao qual só se pode chegar por via consensual, por uma inteligente reforma da ONU. Não se pode lá chegar, razoavelmente, nem por via do hegemonismo de uma só potência (...), por mais forte que seja militarmente, nem mediante um pseudo-directório de países ricos (o G7 ou o G8) sem legitimidade democrática e que em si mesmo - e pelo que representa - constitui um ultraje para a esmagadora maioria dos Estados que nele não participam.

A ONU ressurge assim como único areópago de carácter mundial a que os povos injustiçados podem recorrer e onde há probabilidades de serem ouvidos.

Veremos se a reforma das Nações Unidas, tão urgente, vai ter finalmente um começo de concretização e países emergentes como o Brasil, a África do Sul e a Indonésia (...) venham a ser admitidos como membros permanentes do Conselho de Segurança.

Veremos se a Assembleia Geral das Nações Unidas será capaz de definir uma estratégia inteligente contra o terrorismo (...) sem pôr em causa o respeito pelos Direitos Humanos e pelas garantias ínsitas na Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Apesar de concordar com as críticas feitas tenho de reconhecer que as expectativas do Dr. Mário Soares relativamente à reestruturação do Conselho de Segurança e às decisões da próxima Assembleia Geral, mesmo que se concretizem não serão suficientes para que a ONU se torne suficientemente forte no que toca ao seu papel no estabelecimento da paz universal e de regras que controlem a actividade dos grandes grupos económicos mundiais. Mas serão, sem dúvida, um pequeno passo para que a ordem mundial não seja tão injusta.

2 comentários:

João Moutinho disse...

Não sei se vem muito a propósito, mas lembras-te daquelas manifestações antiglobalização em que o neoliberalismo era demonizado tal como muitas vezes o governo norte-amtericano em particular?
Havia até uns miúdos ricos a partir montras e coisas do género.
É engraçado porque havia protestantes (não os da reforma...) desde os U2, aos sem terra e aos agricultores franceses. Unia-os o facto de estarem contra a globalização mas muitas vezes os motivos eram antagónicos.
A PAC impede que muitas países em vias de desnvolvimento se emancipem mas quem está disposto a acabar com o proteccionismo. Talvez não seja o governo francês que tanto clama contra as injustiças mundiais.
Marco, a India tem 1 bilião de habitantes a França e Reino Unido tem 60 milhões. Gostavas de tirar os países europeus do Conselho de Segurança?
Sempre nos sentimos um pouco mais seguros, não é?

Marco Oliveira disse...

João,
Já assisti a algumas reportagens na BBC e no Odisseia sobre as manifestações anti-globalização. Ali há muito mais do que montras partidas e gases lacrimogéneos. Existem negociações entre os grandes grupos financeiros mundiais e os governos dos países mais poderosos do mundo cujos resultados - pouco conhecidos - são profundamente gravosos para a enorme maioria dos povos do mundo. O livre comércio mundial tem de obedecer a regras éticas; não era o caso dessas negociações.

Sobre a PAC sei pouca coisa. É melhor não me pronunciar.

Quanto ao Conselho de Segurança: Lembro-me de umas palavras de Bahá'u'lláh que dizia que para Ele "a mais amada de todas as coisas é a justiça". Assim, penso que seria justo que os países mais populosos do mundo tivessem representação no CS. Isso significa a inclusão da Índia, Indonésia, Brasil. E talvez pudéssemos substituir o Reino-Unido e a França pela União Europeia e União Africana. Parece-me que seria mais justo.

Claro que este tipo de mudanças só por si não seriam a resolução de todos os problemas da ONU, mas seriam um pequeno passo para que a Ordem Mundial não fosse tão injusta.