terça-feira, 28 de junho de 2005

Fiel ou Infiel?

A mais recente aberração televisiva chama-se "Fiel ou Infiel". Trata-se um programa em que um elemento de um casal pretende testar a fidelidade do seu parceiro(a). A equipa do programa cria uma situação em que o elemento a testar é colocado perante uma situação de sedução. Invariavelmente, o elemento "apanhado" cai vítima da sedução de um actor/actriz. Posteriormente, dá-se o encontro em palco do parceiro enganado com o parceiro seduzido, uma cena que acaba com insultos e com seguranças tentando evitar agressões entre o casal.

Podíamos discutir se este é o tipo de programas que o povo gosta ou o tipo de programas que uma estação de televisão sabe fazer. Mas um programa de entretenimento em que o espectador é reduzido à condição de mirone de uma "traição amorosa" induzida - e consequentes cenas de peixeirada - deixa muito a desejar.

Um amigo meu tem uma teoria curiosa sobre este programa: "Se é lixo, então deve ser reciclado!" E sugere que a ideia base deste programa seja aplicada à actividade de figuras públicas. "Imagina o que seria um programa destes em que se testa se um político, um dirigente desportivo ou qualquer outra personalidade conhecida é corrupto ou não..."

Para quase todo o grupo de amigos que ouviu esta ideia foi impossível não imaginar ver na TV um político conhecido ser sujeito à tentação de conseguir benefícios pessoais à custa da aceitação de uma proposta desvantajosa para o interesse público, um dirigente desportivo aceitar viciar o resultado de um jogo, um director de jornal negociar uma primeira página,...

Lembro-me que houve um programa nos EUA que fez algo semelhante com um senador ou um congressista. No final da sua carreira política impoluta, o senhor aceitou fazer uns favores a um pretenso príncipe saudita que pretendia refugiar-se nos Estados Unidos. O programa causou enorme polémica e questionava-se até que ponto era legítimo por em causa a reputação de alguém com um facto criado artificialmente, e que legitimidade tinham os autores do programa para fazer uma coisa daquelas.

Sabemos que a televisão é um reflexo da nossa sociedade. Ali vemos o melhor e o pior daquilo que somos capazes. Este tipo de programas parece-me reflectir o pior: a ganância pelo lucro numa guerra de audiências legitima que a podridão (independentemente de ser induzida, ou não) seja transformada em espectáculo. Apetece citar Pacheco Pereira: "Pobre país, o nosso..."

6 comentários:

João Moutinho disse...

"...e consequentes cenas de peixeirada". Mas porquê estes estereótipos com as peixeiras, provavelmente ainda não apareceu nenhuma peixeira no programa.
Mas voltando ao programa, lembro-me na altura do "Perdoa-me" ter lido um artigo num jornal em que a audiência televisiva correspondia à classe média e média/alta que assistia àquele programa de forma cínica.
Se "O fiel e infiel" está na programação da TVI é porque vende e as pessoas gostam de o ver.
Só de pensar que a TVI começou por ser um canal de inspiração católica, possuidora de "shares" baixos e que para dar o salto precisou do "Big Brother", estamos conversados...Em todo o caso é capaz de haver encenações nesses programas.

Marco Oliveira disse...

Mesmo correndo o risco de parecer uma espécie de "Mário Cortes" ou "Diácono Remédios", insisto: a dignidade de um programa não depende do tipo de audiência; de igual modo, a dimensão da audiência (e a luta pelo seu alargamento) não pode justificar que a degradação humana seja transformada em espectáculo.
Se esse argumento fosse levado um pouco mais longe, corríamos o risco de legitimar a pena de morte sobre o pretexto de termos muita audiência durante as execuções (isso acontece em alguns países). Também aí as pessoas parecem gostar de ver execuções.

João Moutinho disse...

O Elfo & C.ª deve achar o "Fiel e Infiel" tão interessante que não diz nada. Talvez se falássemos sobre a Idade Heróica em que multidões aplaudiam os martírios dos Bábis, aí ele já aparecia.
Não deixam de ser doi espectáculos degradantes, mas com diferenças descomunais como é óbvio.

Elfo disse...

Meu caro João Moutinho não sei se algum dia andaste à procura de "tesouros" numa lixeira, ou se algum dia tiveste o azar de ter meter as mãos num contentor de lixo a abarrotar de desperdícios de jantares e coisas do género só porque alguém deixou ir no saco do lixo uma camisa acabada de comprar..., bom, o cheiro é nauseabundo e não aconselho ninguém a fazer fazer isso pois ainda se arrisca a contrair alguma doença, ou a gostar como parece ser o caso dos teleespecatadores que gostam do telelixo. Lá em casa temos um comando para fazer zapping e em última análise posso sempre desligar de vez a TVI, mesmo correndo o risco de ser linchado por causa da porcaria dos morangos rançosos com açucar que já cheiram mal. É o único programa que a tvi lá consegue meter em casa.

E, por favor, João Moutinho, se prezas a nossa amizade não tornes a comparar o telelixo com os Martírios da Idade Heróica da Fé Bahá'í.

João Moutinho disse...

Bom, talvez não tenho sido muito feliz na comparação, mas o que quis dizer é que não seria o "Fiel e Infiel" e coisas afins a trazer-te para o blog.

Eu referi-me aos mártires como sendo um tema que te atraíria muito mais para os nossos debates.

Anónimo disse...

Apesar de tudo eu não acho que aquilo - essa porcaria - seja a sociedade que somos mas a sociedade que desejam que nós sejamos. E bago a bago....
Concordo com o Elfo - mudar de canal é a única solução!
Mas é lamentável realmente que tudo quanto é fofoquice tenha largas audiências e as coisas que têm a ver com a nossa vida, acabem por ser relegadas para 2º plano.
Isto é o principio da alienação das massas. Dentro de algum tempo só se safa a ver tv quem tiver os canais todos da TVCABO e pode escolher 3 ou 4 porque o resto também é lixo!
Tenho que saber quando é que "isso" passa que já agora quero ver... vocês aguçaram-me o interesse pela desgraça...seus maus!

Bjitos para todos,