sexta-feira, 2 de setembro de 2005

Katrina e os fogos

Sucedem-se as notícias e as imagens dos efeitos do furacão Katrina, nos Estados Unidos. Contam-se os mortos, calculam-se os prejuízos e fazem-se estimativas sobre o tempo necessário para a reconstrução. As televisões mostram imagem do desespero de quem aguarda algum auxílio, das equipas de socorro e dos saques. É quase impossível não recordar imediatamente que o governo americano não assinou o protocolo de Kioto. Poderá esta tragédia levar a uma mudança de atitude em relação a problemas ambientais provocados pela actividade humana? Ou atribuir-se-ão as culpas da mesma a inevitáveis caprichos da natureza?

Em Portugal também tivemos a nossa tragédia neste verão: os incêndios. Imagens de labaredas a consumir floresta, as chamas às portas de Coimbra; contam-se os hectares de área ardida, ouvem-se acusações de incompetência a várias entidades, denunciam-se políticas florestais inadequadas, e fazem-se debates. Poderá a calamidade dos incêndios deste verão obrigar a uma mudança de política florestal do nosso governo? Ou ficaremos pela aquisição de mais alguns helicópteros e carros de bombeiros?

O furacão e os fogos foram tragédias distintas, em locais bem diferentes e com consequências distintas. Mas no seu rescaldo, as opiniões públicas devem exigir dos governantes acções concretas que minimizem os problemas que afectam seriamente o meio-ambiente.

6 comentários:

Anónimo disse...

Pois é Marco, anda toda a gente a dizer o mesmo, mas infelizmente os nossos sucessivos Governos continuam sem tomar medidas drásticas e quanto a Kyoto.... é claro...quem tudo pode...manda nos destinos de nós todos...assim são os estúpidos e os déspotas... e , infelizmente, há quem continue a votar neles

Marco Oliveira disse...

Marta,
O Miguel Esteves Cardoso disse uma vez na TV: "É muito difícil governar. As pessoas não percebem isso. Por vezes não se pode tomar a melhor decisão; tem de se tomar a decisão menos má". A verdade é que muitos de nós não percebem várias decisões que são tomadas pelos governantes. Será que eles não conseguem explicar, e justificar, o que fazem? Ou serão lobbies financeiros que nos governam?

João Moutinho disse...

Com a mediatização dos aconrecimentos muitas catástrofes "passaram" também a ser nossas.
Será a acção humana que potenciou o furacão?
A resposta será sempre especulativa e filosófica, mas lá que andamos a bricar com coisas sérias no que diz respito ao Ambiente disso ninguém me convence do contrário.
Marta,
Se passamos as culpas todas para os governos precisamos de saber quem os pôs lá.
Além que a área ambiental é muita sensível no que diz respeito a leis porque será a primeira vez que uma área do direito irá contra o próprio Homem em favor de outra Entidade.
E esse tal "Homem" estará disposto a favorecer em que o secundarizar face ao Ambiente?

Anónimo disse...

Marco

Esta do protocolo de Quioto é demasiado rasteira. Como se aquela zona não fosse zona de tufões, como se fosse um dado cientificamente adquirido a relação entre o aquecimento global e este tipo de fenómenos, como se os esmagadora maioria dos subscritores estivesse a cumprir o acordado. Percebo a tentativa de tirar dividendos para a sua perspectiva sobre a ecologia. Mas, repito, é um argumento demasiado básico.

Anonymous #2

Marco Oliveira disse...

Anonymnous #2

Os efeitos de um furacão da intensidade do Katrina numa cidade como a Nova Orleães já tinham sido antecipados num estudo publicado há quatro ou cinco anos. Também a política florestal portuguesa de permissividade em relação ao eucalipto e ao pinheiro (e a ausência de limpeza das matas) tinha há algum tempo sido anunciada como potencialmente perigosas perante os fogos. Foi isso que aconteceu.

É muito difícil estabelecer uma relação de causa-efeito entre o Katrina e não assinatura do Protocolo de Kyoto por parte dos EUA; também é arriscado considerar a política florestal portuguesa como a única causa dos fogos. Mas estas duas tragédias devem servir de pretexto para uma reflexão séria sobre aquilo que estamos a fazer ao meio-ambiente.

Por exemplo, o Público escreve hoje que o Estado da Louisiana é dos mais permissivos no que toca ao tratamento de resíduos tóxicos das industrias petrolíferas (havia imensos vazadouros). Um dos principais problemas que existe neste momento é que se encontram espalhados entre as águas milhares de toneladas de material tóxico que podem contaminar extensas áreas. Esta é uma outra catástrofe resultante da passagem do furacão. A opinião púbica americana (e os lobbies ambientalistas) têm aqui um excelente pretexto para questionar estas leis.

Elfo disse...

Estas coisas até seriam engraçadas de comentar se não fosse a tragédia grega bem real que se passa nos states. Os senhores do mundo são uns heróis a mandar ajuda humanitária e bandeirinhas para os vários tsunamis e não são capazes de enviar auxilio para a Lousiana dentro do seu próprio território, excepto a tropa que já está a entrar em força para reprimir... os saques que é o que sabem fazer no resto do mundo.
Kioto e outros tratados só servem para alertar a comunidfade internacional para as injustiças ambientais de que os states são useiros e vezeiros. Desta vez provaram do remédio a que estão habituados a ver acontecer aos outros e bastou um tornado para transformar um Estado dos states num estado do terceiro mundo... talvez tenha sido a lição de humildade de que estes senhores precisavam nesta altura.