quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Kitáb-i-Iqán (4)

Deus e os Profetas

Num post anterior, apresentei alguns conceitos sobre Deus que se encontram nos ensinamentos baha'is. Poderia resumir esses ensinamentos da seguinte forma:
  1. A essência de Deus é incognoscível e transcende todas as características humanas;
  2. Não existe qualquer relação directa entre Ele e a Sua Criação;
  3. A compreensão humana também é limitada para compreender Deus (ninguém O consegue descrever).
Estes tópicos resumem alguns ensinamentos baha'is mas, naturalmente, não respondem a todas as questões que se pode fazer sobre Deus, e muito provavelmente suscitam outras interrogações. Se Deus é incognoscível, como nos podemos aproximar dele? Qual o papel dos Profetas na relação entre Deus e a criação?

Segundo Bahá'u'lláh, por não ser possível ao ser humano conseguir uma relação directa com a Essência do Criador, Ele faz aparecer entre nós os Profetas, que nos dão conta da Sua Vontade apresentando provas claras do Seu conhecimento e poder. Semelhantes a espelhos perfeitos e límpidos que reflectem a imagem e a luz do sol, os Profetas reflectem os atributos de Deus. E tal como quem olha para a imagem do sol reflectida num espelho poderá dizer que vê o sol, também quem olha para as características de um Profeta poderá dizer que vê Deus. No entanto, tal como o sol e o espelho não possuem a mesma essência, também Deus e os Profetas possuem essências diferentes.

Sobre este assunto, Bahá'u'lláh escreveu no Kitáb-i-Iqán:
Estando a porta do conhecimento do Ancião dos Dias assim fechada ante a face de todos os seres, determinou Aquele Que é a Fonte da graça infinita... que aparecessem do reino do espírito, aquelas luminosas Jóias da Santidade na nobre forma do templo humano, manifestando-se a todos os homens, para que dessem ao mundo o conhecimento dos mistérios do Ser Imutável e relatassem as subtilezas da Sua Essência imperecedoura. Esses Espelhos santificados, essas Auroras da glória antiga, são – cada um e todos – os Expoentes na terra d'Aquele Que é o Orbe central do universo, a sua Essência e o seu Propósito final. D'Ele recebem o conhecimento e o poder; d'Ele derivam a soberania... São os Tesouros do conhecimento divino e os Repositórios da sabedoria celestial. Por eles é transmitida uma graça que é infinita, e revelada a luz que jamais se esvairá...[106]
A distinção entre a essência de Deus e a essência dos Profetas é particularmente importante nos ensinamentos baha’is. Numa outra epístola, Bahá'u'lláh descreveu a impossibilidade dos Profetas terem acesso directo a Deus, ou conhecimento da Sua essência.
Dez mil Profetas, cada um deles um Moisés, acham-se atónitos no Sinai da busca, perante Sua Voz proibitiva: "Nunca tu haverás de Me contemplar!"; enquanto miríades de Mensageiros, cada um tão grande como Jesus, estão pasmados, nos seus tronos celestiais, diante da interdição: "Minha Essência, tu jamais a haverás de perceber!" Desde tempos imemoriais, está Ele velado na santidade inefável de Seu sublime Ser; e eternamente permanecerá Ele envolto no impenetrável mistério de Sua Essência incognoscível. Toda tentativa de alcançar a compreensão de Sua inatingível Realidade tem terminado em confusão completa; todo esforço por se aproximar de Seu Ser excelso e formar um conceito de Sua Essência, teve como resultado desespero e malogro.(a)
No que toca aos ensinamentos sobre o Criador, encontramos aqui uma diferença clara entre a maioria das teologias cristãs e os ensinamentos baha'is. No Credo, afirma-se que Jesus é "consubstancial ao Pai"; nos ensinamentos baha'is, reitera-se que Deus e os Profetas possuem essências diferentes e que nem sequer os Profetas possuem acesso à essência de Deus.

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NOTAS
(a) - Bahá'u'lláh, Selecção dos Escritos de Baha'u'llah, XXVI

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Entre parêntesis rectos indica-se o nº do parágrafo citado. Sobre a numeração dos parágrafos do Kitáb-í-Iqan, ver Notes on paragraph numbering of the Kitab-i-Iqan.
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1 comentário:

João Moutinho disse...

"No Credo, afirma-se que Jesus é "consubstancial ao Pai"".
Com toda a consideração que me merecem os católicos romanos (ou outros), mas nada disso, e fazendo uma análise imparcial, é afirmado nos Evangelhos.