terça-feira, 6 de dezembro de 2005

Rituais

Os seres humanos organizam grande parte das suas interacções sociais em padrões rotineiros formais. Por exemplo, no Ocidente, quando se conhece alguém pela primeira vez é costume dar-se um aperto de mão e trocar algumas palavras. Um ritual consiste num conjunto de práticas rotineiras formalizadas e relacionados com a religião. Para os seguidores de uma religião, porém, o ritual, tal com a escritura, é uma hierofania; é uma aparição do sagrado. Através da realização do ritual, o sagrado é evocado, O ritual pode incluir a leitura ou cântico das escrituras, hinos, certas acções, certos sons (como gongos, címbalos e sinos), certos cheiros (como o incenso) símbolos religiosos e música, todos eles contribuindo para a evocação do sagrado.

O ritual é provavelmente a fonte mais comum de experiência religiosa para a maioria das pessoas. Na verdade, para um número significativo de povos, o ritual é a própria religião. Para muitos indianos, japoneses xintoístas e povos tribais, a religião consiste quase exclusivamente em vários rituais (nomeadamente rituais de passagem, e rituais diários ou sazonais). Apesar destes rituais implicarem algumas crenças, estas tendem a ser uma interpretação dos académicos e normalmente não estão presentes na consciência das pessoas comuns que participam num ritual.

O ritual pode ser considerado como uma importante parte do conhecimento que o crente tem da sua religião. Enquanto que o conhecimento cognitivo pode fornecer ao indivíduo factos sobre a sua religião, o ritual dá-lhe um conhecimento do “sentimento” ou do "ambiente" da religião; transmite-lhe informação afectiva não-cognitiva (aquilo que alguns poderão designar por conhecimento holístico). Em algumas correntes do Cristianismo, o simples facto de um crente se ajoelhar perante uma imagem da Virgem Maria pode transmitir-lhe muito mais informação sobre a religião do que horas de pregação e formação conseguiriam. As atitudes em relação a si próprio, em relação a outras pessoas e em relação à Última Realidade conseguem ser transmitidos de forma mais directa e poderosa através de rituais do que qualquer outro meio. Seja o ritual realizado numa igreja a cheirar a incenso onde o sacerdote transforma o pão e o vinho no corpo e sangue de Cristo, ou técnicas de meditação que conduzem a um estado alterado de consciência, o resultado pode ser uma experiência directa do sagrado. Assim, para os novos convertidos, o ritual pode ser uma fonte de aprendizagem de factos sobre a nova religião. (...) O ritual também reforça o sentido de experiência religiosa comunitária, o sentimento de unidade e solidariedade de grupo, o sentimento de pertença a algo que é maior do que os indivíduos incluídos no grupo.

Existem numerosas formas de rituais: ritos de purificação, regeneração, agradecimento, auto-negação, penitência e propiciação. Por vezes é difícil distinguir o ritual da magia; ambos implicam um processo supra-natural. Os rituais são frequentemente ritos de passagem (isto é, relacionados com o ciclo da vida: nascimento, puberdade, casamento, morte) ritos relacionados com o calendários (rituais semanais, rituais de primavera, das colheitas, do inverno e do Ano Novo), ou encenações formais de uma história ou evento sagrado.

Moojan Momen, in The Phenomenon of Religion: A Thematic Approach, pags. 104-105

7 comentários:

João Moutinho disse...

Sempre que tenho de consultar a Internet dou um salto até ao blog "Povo de bahá", já se começa a tornar uma espécie de ritual, pois faço-o quase de forma automática.
Não é disso que o texto trata mas não faz mal, é só para dar um pequeno lamiré.

Pitucha disse...

Eu adoro rituais! Dá-me o sentido de pertença. Integra-me! Acho que é essa a ideia.
Beijos

Anónimo disse...

QUEM É QUE NO SEU DIA A DIA NÃO USA RITUAIS, SEM SE APERCEBER QUE OS PRATICA? O RITUAL É PRÓPRIO DO SER HUMANO, SÓ QUE A PALAVRA ESTÁ DE TAL MODO BANALIZADA QUE HÁ ATÉ PAVOR DE AO EMPREGÁ-LA ESTARMOS A FALAR DE "SUPERSTIÇÃO"; DAÍ ALGUMAS CONFISSÕES RELIGIOSAS DIZEREM QUE NÃO TEM RITUAIS...

Marco Oliveira disse...

Há quem diga que a religião baha'i não tem rituais. Parece-me mais correcto dizer que os baha'is têm poucos rituais. A título de exemplo recordo os movimentos descritos nas Orações Obrigatórias Média e Longa, a frase que deve ser pronunciada no casamento, e algumas orações pelos mortos onde se deve de pé ou a oração é comunitária. Segundo a descrição do Moojan Momen, a própria Festa de 19 Dias e a Peregrinação à Terra Santa podem ser considerados rituais.
Mas é óbvio que, quando comparada com outras religiões, temos de reconhecer que a Fé Bahá'í tem muito poucos rituais.

Anónimo disse...

Pelo que percebo, a vossa religião no que toca aos rituais limita-se a assegurar os serviços mínimos...
Se alguma vez vierem a ser uma religião oficial levam com uma requisição civil em cima que se lixam!
É mesmo assim! Os governos sabem que o povo gosta mesmo é de rituais!
:-)

João Moutinho disse...

Para entendermos a importância dos rituais há que entender entre a diferença entre uma civilização oral e uma escrita.
Naquela o ritual tem uma importância fulcral na transmissão da cultura e mesmo de valores, não que no segundo caso isso não ocorra mas é com menor intensidade.
Para vermos o sentido de pertença que nos dá um ritual basta assistirmos ao espectáculo que ocorre antes do início de um jogo de futebol em que a selecção nacional está representada.
Um problema que pode envolver os rituais diz respeito ao facto de poder conduzir á alienação e auto-exclusão.

Baquia disse...

Es un tema interesante. Sobre todo por que muchos Baha'is piensan que su Fe no tiene rituales.

Pero esto no es cierto - hay pocos comparado con tradiciones anteriores, pero los tenemos.

Un abrazo