segunda-feira, 13 de fevereiro de 2006

Uma Realidade Transcendente

A base da religião é a convicção humana de que existe uma Realidade transcendente, ou absoluta, que está para fora do alcance ou na base deste mundo físico. (...)

Uma das principais diferenças entre as religiões Orientais e Ocidentais é a sua diferença na conceptualização da Realidade Última. Os dois tipos de religiões concebem uma realidade que é maior que este universo físico, mas diferem radicalmente na sua descrição. Esta diferença inicial vai provocar diferenças nos seus relatos da relação do indivíduo com esta realidade mais elevada. Destas distinções surgem diferenças em questões como o mal, o sofrimento, a salvação, a libertação, e até assuntos como o tempo e o espaço.

Nas religiões Ocidentais dá-se o nome de Deus à realidade transcendente; este é entendido como um ser pessoal, omnisciente e omnipotente. Deus, enquanto criador, é concebido como estando totalmente separado da Sua criação. Ele é descrito de muitas formas, algumas das quais contraditórias: colérico e vingativo, mas bondoso e generoso. Deus tem uma vontade e um propósito para os seres humanos que eles devem aceitar ou enfrentar consequências desagradáveis. Mas Deus também é benevolente e amoroso em relação à humanidade, e como consequência é objecto de culto e adoração pela humanidade. O mundo, ou o cosmos, torna-se assim a arena de interacção entre Deus e a humanidade. No que toca à diferença relativamente às religiões Orientais, o aspecto mais saliente está na presença daquelas características mencionadas anteriormente, tais como raiva e generosidade, todas fazem com que Deus pareça ter uma personalidade e aja como uma pessoa. Uma entidade impessoal não teria essas características.

Em contraste, nas religiões Orientais, Budismo, Taoísmo e Hinduísmo da escola Advaita, não existe conceito de Deus enquanto pessoa; em vez disso, possuem um conceito de Realidade Última como um processo, uma verdade ou um estado de existência. Isto é frequentemente afirmado como um conceito de uma Realidade Absoluta. A expressão “Realidade Absoluta” implica que existe uma única Realidade no cosmos; tudo o resto que possa parecer real apenas possui uma realidade contingente ou relativa, ou é ilusão ou não-existência. O Absoluto é, portanto, simultaneamente transcendente e imanente. Não pode ser descrito em termos de conceitos deste mundo físico. Está privado de todas as determinações empíricas. Não é, por exemplo, um Criador omnisciente.

Moojan Momen, in The Phenomenon of Religion: A Thematic Approach, pag.31-33

6 comentários:

Anónimo disse...

Todas as religiões, tanto quanto sei, manifestaram-se sempre no oriente; portanto são todas de raízes orientais. O conceito de Deus de todas as citadas parece-me que é por todas descrita como uma força criadora do universo e de nós próprios; daí a "volta ao Pai".A única que conheço que tem um conceito completamente diferente é o Budismo, pois o budista aspira a tornar-se cada um deles num Bodishava ou seja, tanto quanto sei, numa entidade deeificada.
Nas religiões que conheço, Deus omnipotente (força) está acima do seu Manifestante, Profeta ou Filho, conforme o caso e até há o conceito triptico de Pai, Filho e Espirito Santo.
Por mim e quanto mais conheço, mais vejo que todas são a mesma, só que falam para populações de eras diferentes.

Marco Oliveira disse...

O autor, Moojan Momen, classifica como “Ocidentais” as religiões abraâmicas e como “Orientais”, o Budismo e o Hinduísmo. Os termos usados podem parecer estranhos, mas na verdade, este agrupamento justifica-se se se atender aos paralelismos que possuem entre si num série de ensinamentos. Conto em breve publicar outra citação do autor para se perceber esses paralelismos e diferenças.

. disse...

Nunca fui grande estudiosa de questões religiosas, mesmo quando estas se traduzem em grandes viagens ao interior de nós próprios. Ainda não consegui encontrar a estrada que se ajusta à minha forma de sentir e de ser. Muitas vezes sinto que ando a vaguear. Ora tento impedir-me de ser "mais um" neste Planeta, ora me deixo avassalar por tantos defeitos mundanos, como a maldade, a intolerância ou até a inveja. O social, a vida em comum com outros é mais de competição do que de amor. O meu Deus, sem rosto, é um Deus generoso, presente na Natureza, que tanto amo, sublime, cheia de força. Um Deus que tenta que olhemos para as coisas importantes da vida, que aprendamos sempre para sermos melhores. A caminhada afigura-se-me longa e penosa. Tenho perdido mais batalhas espirituais do que as que tenho ganho. Quando tinha 15 anos lembro-me de ter pensado que não queria ser adulta. Não me revia naqueles rostos cinzentos, sem alegria, sempre preocupados e zangados. Esta foi a batalha mais dura de perder: não conseguir ser apenas luz, confiante no amanhã.


PS: Um xi ao seu agente secreto.

AlTaher disse...

Hoje é um dia especial. Salam.

Marco Oliveira disse...

Estrelinha,
Cada um de nós é um mundo e tem o seu próprio caminho. Eu encontrei a minha estrada de Damasco já há alguns anos. Mas a vida é mesmo assim. Parafraseando o Alcorão: "Não basta dizer «Acredito» para sermos deixados em paz." Parece-me que Deus nos testa constantemente.

AlTaher,
Desculpa a ignorância, mas qual é a efeméride?

Anónimo disse...

Curioso.
Sem nunca ter lido ou ouvido antes, cheguei à conclusão de que Deus também poderia ser um processo.
Ângelo
anjocel@gmail.com