sábado, 18 de março de 2006

Miguel Sousa Tavares

Excerto do artigo de Miguel Sousa Tavares, hoje no Expresso:
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Se depois de sucessivas fusões e aquisições, só restam praticamente três bancos privados portugueses, não é mau para a concorrência e para os consumidores que um deles engula outro? Com mais de meio milhão de desempregados, não é pior que as anunciadas OPA resultem também em já anunciados despedimentos? Quando se quer impor um aumento da idade da reforma, é saudável que se anunciem, como resultante da OPA, reformas antecipadas, chamadas tecnicamente de «aproveitamento de sinergias»?

E, já agora, o principal: de onde é que vem tanto dinheiro? À custa de quem foram obtidos os astronómicos lucros da EDP? É sem dúvida louvável que o presidente-cessante da empresa de despeça dando um bónus de 120 euros a cada um dos seus 8000 trabalhadores (...); mas não seria mais louvável se tivéssemos a electricidade mais barata, conforme foi solenemente prometido quando se privatizou a EDP? E o que andava a PT a fazer com tanto dinheiro que, só agora, sob ameaça, resolveu dobrar o dividendo dos accionistas, assim como só agora se dispõe a aceitar o fim do seu confortável monopólio de facto na rede fixa? Não teria sido possível, sem OPA, ter aberto o sector à concorrência muito antes, para que o telefone tivesse deixado de ser entre nós um produto de luxo e os portugueses fossem obrigados a sofrer o pior e mais caro serviço de telefone fixo de toda a Europa?

E os lucros dos bancos, santo Deus?! Como é que num país onde o PIB cresce 0,5% e os depósitos dos clientes, geridos «private» e profissionalmente, pouco mais valorizam do que a taxa de inflação (e vá lá, vá lá...), os bancos conseguem apresentar lucros de 60 e 70%? E como podem pagar em média 10% de IRC sobre os lucros - graças ao «off-shore» da Madeira, à «consolidação fiscal» e a uma série de bonificações e isenções - enquanto os seus clientes pagam até 42% de IRS e o porteiro do banco alguns 20%? Onde está a riqueza do país correspondente à riqueza destes gigantes nacionais? Onde estão as empresas que crescem e criam empregos e riqueza graças ao financiamento acessível, energia a preços concorrenciais e telecomunicações eficientes e baratas?
(...)

4 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez que leio estes género de artigos, que costumam circular também via email, fico altamente revoltado. Ontem também li um artigo com a mesma filosofia na revista Visão, mas sobre os Russos, sobre como vivem os já mundialmente famosos oligarcas "novos-russos" que fazem de Moscovo a cidade do mundo com mais multimilionários por metro quadrado. O que era aquele país e o que é hoje!?

O materialismo é o cancro da humanidade, receio que já em fase avançada, pelo que temo que isto só lá vá com quimioterapia...

É óbvio que o mundo não pode melhorar substancialmente e no geral, enquanto não houver uma profunda mudança dos valores humanos.

Voltando ao artigo do Miguel Souza Tavares, e pegando naquela famosa frase do Sr. Winston Churchil, o que eu tenho a dizer é que - Nunca tão poucos fizeram tanto mal a tantos.

Elfo disse...

Gosto muito dos comentários do MSTavares, pena é que de vez em quando dá uma no cravo outra na ferradura

João Moutinho disse...

Essa história de pensar que o mercado se auto-regula e faz descer sobre as bases os ganhos das cúpulas tem muito que se questionar.
Resta saber é se este sistema não "é o pior a seguir todos os outros".
Esperemos que não.

Às vezes gostava de estar um pouco mais por dentro dos sistemas económicos dos escandinavos, parece-me que eles conseguem conciliar de forma muito razoável o capitaismo com o direitos soiciais.

Anónimo disse...

O Sousa Tavares está a atirar com o barro à parede. Se continua a dizer verdades incómodas vai arranjar montes de inimigos!