segunda-feira, 3 de julho de 2006

A Acusação da ONU:

Bahá'ís iranianos vítimas de expropriações

Um relatório das Nações Unidas divulgado na semana passada durante uma conferência de imprensa afirma que os bahá'ís do Irão são vitimas de "uso abusivo de expropriação de propriedades". Segundo Miloon Kothari, o Relator Especial das Nações Unidas para a Habitação, "as propriedades identificadas incluem residências e terrenos agrícolas, mas também lugares sagrados, nomeadamente santuários e cemitérios".

Miloon KothariO Sr. Kothari afirmou que estava "preocupado com as evidências claras de conduta discriminatória em relação às propriedades bahá'ís, incluindo residências". "Os proprietários lesados alegadamente não receberam, ou não tiveram a oportunidade de receber, informação antecipada sobre os processos de expropriação".

Muitas das expropriações foram feitas por Tribunais Revolucionários Islâmicos; alguns dos veredictos examinados pelo relator da ONU continham justificações do tipo "a expropriação de propriedade da «seita maligna dos baha'is» foi legalmente e religiosamente justificavel". Nas áreas rurais as expropriações foram acompanhadas por ameaças e violência física antes e durante as expulsões forçadas.

Na conferência de imprensa, o Sr. Kothari afirmou que continuava a receber relatórios sobre baha'is cujas terras tinham sido confiscadas. E acrescentou: "Nos últimos dois anos, tem havido um aumento no número de bahá'ís proeminentes que foram detidos sem qualquer acusação e foram libertados apenas após o pagamento de uma caução muito elevada. E a única forma que têm para pagar a caução é dar as suas propriedades como garantia. Isto parece outro método de expropriação."

Este relatório anual, que foi escrito no âmbito de um mandato de seis anos para análise das políticas de habitação em todo o mundo, centra-se este ano nas discriminações de habitação, e aborda extensivamente as visitas do Sr. Kothari ao Irão e ao Cambodja.

Este relatório esteve para ser publicado em Março, durante a sessão da Comissão dos Direitos Humanos, mas com as alterações neste organismo, a divulgação do relatório acabou por ser divulgado apenas na semana passada.

Na opinião de Diane Alai, representante da Comunidade Internacional Baha'i junto das Nações Unidas, "o que o Sr. Kothari conseguiu documentar foi o actual problema dos baha'is iranianos. Confiscação de propriedades, juntamente com o impedimento de acesso ao ensino superior, discriminação no local de trabalho, e a proibição de actividades religiosas por parte de baha'is, reflecte todo a campanha do governo iraniano para estrangular lentamente a Comunidade Bahá'í no Irão, enquanto tenta evitar a condenação internacional"

Notícia Original(BWNS): Iran confiscates Baha'is' properties, says UN
Notícia na Voice of America:
UN Investigator Calls for Halt to Forcible Evictions in Cambodia, Iran
Relatório da ONU
aqui.

4 comentários:

Elise disse...

admiro a resiliência dos bahais no Irão.Não é fácil!

Marco Oliveira disse...

Elise,
Desde 1980 até hoje, temos uma geração de baha’is iranianos que viveu sob a opressão e discriminação. Que efeitos terá todo este processo persecutório sobre essa geração? Consigo imaginar o empobrecimento social dos baha’is (menos pessoas com estudos superiores, menos pessoas com um nível de vida de classe média); mas não consigo imaginar os efeitos sob o ponto de vista psicológico. Como se sentirá alguém que durante praticamente toda a sua vida foi acossado e discriminado devido à sua religião?

Anónimo disse...

Achei muito bonita a preocupação do Marco no entanto acrescento que desde 1980 até hoje, temos três gerações baha’is iranianos que vivem sob perseguição sistemática e que são privados de ensino superior, pois é, são três gerações; mas isto não fez com que eles empobreçam socialmente ou que tenham menos pessoas com estudos superiores ou menos pessoas com um nível de vida mais baixo. Muito pelo contrário, o que os mullas não puderam tirar deles foi mesmo a cultura de aprendizado tão incentivado nas escrituras bahá’í. Eles, nas suas três gerações, têm tido esforçado bastante para prosseguir os estudos através dos cursos que a própria comunidade lhes proporcionou. Os cursos que são aceitos em algumas das grandes universidades dos Estados Unidos. Mas até isto lhes foi tirado de uma maneira brusca e violenta. E esta questão de desapropriação abordada no texto não é nenhuma novidade. Desde início da Revolução Islâmica isto acontece só que agora a ONU descobriu ou lembrou. Seja como for acho muito bom que tem gente falando e protestando estas atitudes.

Marco Oliveira disse...

Daniella, (tenho uma sobrinha com esse nome)
Obrigado pela sua visita.
Eu referia "geração" no sentido de intervalo de tempo (aproximadamente 25 anos).
E acho bom que a ONU se tenha lembrado (mesmo que tarde). Não nos podemos esquecer que na agenda política internacional há problemas bem mais graves do que o dos baha’is no Irão.