sexta-feira, 15 de setembro de 2006

A Educação é uma obrigação religiosa?

Aos três anos, o nosso filho mais velho tem pela primeira vez à sua espera um plano de actividades escolares que exige material adequado. Consequentemente, recebemos pela primeira vez, em casa uma lista de material escolar. É mesmo material escolar! Já não é um pedido de não-sei-quantas fraldas, duas mudas de roupa, uma manta... desta vez pediam cadernos de papel cavalinho, lápis de cor, lápis de cera, um bibe, pincéis, e outras coisas do género.

A maioria das famílias portuguesas cumpre em Setembro o ritual da compra do material escolar. É um momento de aperto financeiro para muitos pais (a minha mãe, com quatro filhos, lembra-se bem disso), e diversão para os filhos (a escolha de cadernos e mochilas sempre foi divertida). Quando aguardava na fila para pagar lembrei-me das palavras de Bahá'u'lláh onde refere a importância da educação para os seres humanos:
"Considerai o homem, como uma mina rica em jóias de inestimável valor. A educação, só por si, pode fazê-la revelar os seus tesouros e habilitar a humanidade a tirar dela algum benefício." (SEB, CXXII)
Pensar que as capacidades e talentos do meu filho - tal como as de todas as crianças - podem ser comparados a uma joia de valor inestimável, é algo que me deixa lisonjeado (um pai babado é mesmo assim!); mas também sinto o peso da responsabilidade que me toca no acompanhamento e extimulo que devo dar ao desenvolvimento dessas capacidades e talentos.

Já aqui citei vários excertos das escrituras bahá'ís sobre a importância da educação, e podia ainda apresentar muitas citações sobre o assunto. Bahá'u'lláh deixou um mandamento específico sobre a obrigação de educar as crianças no Seu Livro das Leis, o Kitáb-i-Aqdas. Também 'Abdu'l-Bahá encorajou os jovens baha’is a desenvolver os seu estudos em todas as áreas do conhecimento.

Isto não significa, que todos os que seguem a religião bahá'í devem obter um curso superior ou uma pós-graduação... A educação permite desenvolver o potencial e os talentos latentes num ser humano; mas não nos podemos esquecer que cada pessoa tem as suas próprias capacidades e talentos (e nós não somos todos iguais!).

Considerando a importância que a nossa sociedade dá à educação deixo duas questões para reflexão. Quando a obrigação de educar as crianças é apresentada como uma obrigação religiosa (está no Kitáb-i-Aqdas, o livro das leis!) será que para os bahá'ís o inicio do ano escolar é um ritual social ou o cumprimento de um mandamento divino? E como devemos encarar as notícias sobre insucesso escolar: serão apenas estatísticas sobre o nosso desenvolvimento social e humano ou serão também um indicador do quanto nos afastamos das leis reveladas por Bahá'u'lláh?

5 comentários:

Anónimo disse...

Dois comentários:
1 – Penso que o que dizes aqui sobre a importância da educação é senso comum; não é preciso ser bahai, nem de qualquer outra religião para pensar assim.
2 – Gostei quando dizes que todos somos diferentes no desenvolvimento das nossas capacidades e talentos. Há pessoas que dizem “Nem todos podem ser doutores!”, mas talvez seja mais correcto dizer “Nem todos tem capacidade, ou sentem vontade, de ser doutores!”

Anónimo disse...

Acho que a importância da educação é independente do valor que a religião lhe dá...ela vale por si!

Anónimo disse...

Marco, nenhum comentário sobre as declarações incendiárias do papa?

Anónimo disse...

Joao e Cirilo,
A religião e o bom senso devem andar de mãos dadas; e na verdade, basta ter um pouco de senso comum para perceber a importância da educação.
Para um baha'i, o facto da educação das crianças constar entre os ensinamentos básicos, torna a sua importância ainda mais importante. Era isto que eu queria dizer no post.

Quanto à "gaffe" do Papa e às reacções incendiárias, escreverei mais logo.

Anónimo disse...

Tenho a certeza que a religião tem muito a ver com a educação, se um dos princípios religiosos é que todo pai e toda mãe deve fazer o máximo para educar os filhos e ainda noutro principio exorta a prioridade da educação das meninas os crentes desta religião tentam de todas as formas observar estas leis ou princípios, por outro lado outra religião possa dizer que não haveria necessidade que as meninas estudem para elas basta gerar filhos, então o que acham que acontece?
E a cerca do que João sugere, penso eu talvez, se me permita dizer, que como bahá’í não deve entrar neste fogo cruzado, no entanto talvez se escrever um pouco sobre a moderação no que falamos e no poder que as palavras têm para conquistar ou para magoar os corações humanos. Ou se escrever um pouco da harmonia, da generosidade, da paciência (a chave que muita gente perde para chegar ao sucesso), do amor (não do género de engana que eu gosto)...
A lista é muito grande e penso que a conhece melhor do que ninguém.
OB. Antes de me esquecer outro comentário (...nome...) era meu, esqueci por o nome.