sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Alterações Climatéricas

Aqui fica a tradução do artigo Getting Warmer? de Dale E. Lehman, publicado no site Planet Baha'i.
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Desde há alguns anos que a questão do aquecimento global tem estado na mente de muitas pessoas. Pondo de parte todas as questões políticas, existem poucas dúvidas de que a temperatura média no nosso planeta está a aumentar e poucas dúvidas de que pelo menos parte de aumento se deve à actividade humana. Existem muitas incertezas e várias previsões sobre as consequências. Mas apesar disso, há uma coisa que parece certa: o clima está a mudar, e mais tarde ou mais cedo essa mudança terá um impacto profundo na civilização humana.

A mudança não é, em si, uma coisa má. Sem a mudança não haveria vida na terra; tudo evolui. Mesmo sem intervenção humana, o clima na Terra não é imutável. Tem mudado no passado e continuará a mudar no futuro como resultado de vários factores, incluindo alguns pormenores da órbita do planeta em torno do sol e a deslocação dos continentes na superfície deste. E, no entanto, as mudanças que agora ocorrem podem parecer alarmantes devido à forma como nos afectarão a nós e a outras criaturas.


As alterações climáticas podem resultar na extinção de muitas espécies, inundação de cidades costeiras e alteração significativa das terras agrícolas. Na verdade, existem indícios de que no passado distante alterações súbitas no clima dispersaram povos e até contribuíram para o colapso de civilizações.

E assim, muitas entidades lançam o alarme e apelam a uma acção imediata que ponha termo à produção de gases que contribuem para o efeito de estufa. Os lideres religiosos também entraram no frenesim, oferecendo aquilo que julgam poder ser uma base moral para a tomada de decisões relevantes sobre o assunto. E aqui poder-se-á questionar, o que é que a religião Baha’i tem a dizer sobre o assunto.

Na questão específica do aquecimento global não tem muito a dizer. Isto deve-se ao facto do assunto estar muito politizado, e consequentemente qualquer comentário que se faça possa ser entendido como um tomar partido no debate político. Mas oferece princípios gerais que são aplicáveis para este e outros assuntos relacionados com questões ambientais. Estes princípios encontram-se resumidos num documento intitulado Conservation and Sustainable Development in the Bahá’í Faith. Datado de 1995, este documento foi apresentado pela Comunidade Internacional Baha’i à Cimeira da Aliança entre Religiões e Ambiente, patrocinada pelo World Wild Fund for Nature, pelo Duque de Edimburgo, e outras organizações. Esta cimeira contou com a presença de lideres de nove religiões: Baha'i, Budista, Cristã, Hindu, Islâmica, Jain, Judaica, Sikh e Taoista.

Summit on Religions and Conservation 1995

Neste documento começa-se por mostrar que Bahá’u’lláh descreve a natureza como um reflexo dos atributos de Deus:
A Natureza na sua essência é a personificação do Meu Nome, o Originador, o Criador. As suas manifestações são diversas, devido a diferentes causas e, nessa diversidade, há sinais para homens de discernimento. A Natureza é a Vontade de Deus e é Sua expressão no mundo contingente e através deste. É uma dispensação da Providência determinada por Aquele que ordena, a Suma Sabedoria. (Bahá'u'lláh, Epístolas da Sabedoria)
Além disso, as Escrituras Baha’is contêm numerosas referências ao mundo natural como metáforas de uma realidade espiritual. No seu todo, esses excertos inspiram um profundo respeito pelo mundo da natureza.

Claro que os Baha’is não adoram a natureza. A natureza reflecte Deus, mas não é o próprio Deus. Deus estabeleceu um propósito para todas as coisas criadas, e pelas Escrituras de Bahá’u’lláh sabemos que os seres humanos estão destinados a criar uma civilização em contínuo progresso.

Mas Bahá’u’lláh não fala apenas de uma civilização material; para Ele, a civilização espiritual tem igual importância. O equilíbrio entre as duas é importante para o progresso. E, de facto, a experiência recente tem mostrado que surgem problemas quando a civilização material se sobrepõem à civilização espiritual.
A civilização, tão frequentemente enaltecida pelos brilhantes eruditos das artes e das ciências, se lhe for permitido ultrapassar os limites da moderação trará grande mal aos homens. Assim vos adverte Aquele que é o Omnisciente. Se for levada a um excesso, a civilização se provará ser tão prolífica fonte de mal como o é de bem, enquanto mantida dentro dos limites da moderação. Meditai sobre isto, ó povo, e não sejais dos que vagueiam enlouquecidos nos desertos do erro. (Bahá'u'lláh, SEB CLXIII)
Assim, devemos assumir-nos como zeladores do mundo natural. Para desempenhar esse papel devemos ter a necessária atitude de humildade e respeito pela natureza (a fonte do nosso bem-estar material), e devemos aplicar moderação em todas as coisas; também devemos tentar compreender a natureza. O que significa que a ciência e a religião devem andar a par. Quanto mais soubermos sobre a natureza, melhor compreenderemos outra verdade apresentada nas Escrituras Bahá'ís: a interdependência de todas as coisas.


Mas como podemos equilibrar o progresso da civilização com o respeito e a protecção do ambiente? Será possível ter ambos? Mais uma vez, as Escrituras Baha’is oferecem orientações gerais sobre este problema. Um factor primordial no processo de tomada de decisão nas comunidades baha’is assenta numa consulta franca e aberta entre os seus membros.

Este é um assunto que daria muito para escrever; resumidamente podemos dizer que este processo consiste no envolvimento de todos os diferentes elementos da comunidade (incluindo as pessoas afectadas pela decisão) numa discussão aberta e honesta de todas as alternativas e procura das melhores soluções. Este processo de consulta bahá’í é muito diferente de um debate político. O objectivo não é confrontar diferentes opiniões em conflito, ou alcançar um compromisso entre esses diferentes pontos de vista. Em vez disso, implica a união das partes envolvidas, apelando ao exame de todas as ideias e opiniões apenas com base no seu mérito, procurando a melhor solução, independentemente de quem a apresenta.

Em último caso, a abordagem do tema das alterações climáticas ou de qualquer outro assunto ambiental depende da nossa capacidade para equilibrar o material e o espiritual. O documento atrás referido afirma na sua conclusão:
"As Escrituras Baha’is ensinam que, enquanto guardiã dos vastos recursos e diversidade biológica do planeta, a humanidade deve proteger a «herança das futuras gerações»; vendo na natureza um reflexo divino; abordando com humildade a Terra, a fonte de dádivas materiais; moderando as suas acções; e deixando-se guiar pela verdade espiritual fundamental da nossa época, a unicidade da humanidade. A velocidade e facilidade com que estabelecemos um padrão de vida sustentável dependerá, em última análise, da medida em que desejarmos ser transformados, através do amor de Deus e obediência às Suas Leis, em forças criativas no processo de criação de uma civilização em contínuo progresso"
Quanto mais cedo enfrentarmos estas verdades, mais cedo seremos capazes de encontrar e implementar verdadeiras soluções para os problemas ambientais.

9 comentários:

Mikolik disse...

Para mim os problemas relacionados com as questões ecológicas são essencialmente as mesmas daquelas do foro económico e social. Depois de Cristo ter ensinado o amor ao próximo e Maomé à nação, Bahá'u'lláh vem ensinar o amor ao mundo como um só país, só quando percebermos que estamos todos no mesmo barco é que o risco dele se afundar desaparecerá.

Ao mesmo tempo o homem vem evoluindo espiritualmente, estando a atingir o seu estado de maturidade, significando assim ter uma percepção mais holística do propósito da criação e da vida neste mundo, a sua vida material.
Atingido este estágio de desenvolvimento social entre a maioria da população mundial, teremos então a maior parte dos problemas, desde os ecológicos aos económicos, rapidamente resolvidos. Nessa altura o pensamento científico e a inspiração religiosa trabalharam de mãos dadas, porque a ciência tornar-se-á mais espiritual e a religião menos dogmática e mais racional.

É esta resumidamente a perspectiva positiva de futuro, ensinado pela Fé Bahá’í. E mais importante que tudo, ela dá-nos as ferramentas para construirmos esse futuro.

Anónimo disse...

Quanto aos problemas climatéricos, as religiões apenas podem contribuir com o desenvolvimento dos valores éticos na atitude das pessoas para com o meio-ambiente. Penso que é possível depreender esses valores éticos nas Escrituras de todas as religiões.

Mas pensar que o vosso processo de tomada de decisão pode substituir todas as politiquices que rodeiam as negociações sobre o ambiente, é um pouco de ingenuidade. Na maioria dessas negociações os intervenientes não estão de boa fé e alguns até têm dificuldade em perceber os pontos de vistas opostos apenas por mero preconceito. Na prática, vocês estão a pedir aos intervenientes dessas negociações que actuem de boa fé e sejam honestos. Não vos parece que isto é demasiado idealismo?

Num âmbito mais vasto, penso que o vosso processo de tomada de decisão (em que dizem que todas as opiniões são escutadas) apenas funciona para uma pequena comunidade. Se o vosso número de crentes se multiplicasse por 100, tenho muitas dúvidas que ainda conseguissem manter esse processo.

Anónimo disse...

Pois é.
Vocês parecem gente simpática, mas frequentemente não se percebe patavina do que se escreve aqui. Dizer que a religião se vai tornar “menos dogmática e mais racional”, ainda percebo. É uma aspiração legítima. Era desejável que acontecesse com todas as religiões.

Mas escrever que a ciência se deve “tornar mais espiritual” é que é coisa que não me faz qualquer sentido. O campo da ciência é material; o da religião é espiritual (pelo menos devia ser). Para que é que se quer misturar as duas coisas?

E que sentido tem desejar que “o pensamento científico e a inspiração religiosa” trabalhem de mão dadas? Que sentido tem esta espécie de sincretismo religioso-científico?

Se isto é mesmo a vossa religião, então vocês não vão muito longe. Serão sempre aquele grupinho de gente simpática.

Anónimo disse...

Só para esclarecer: os meus comentários referiam-se ao comentário do Mikolik!

Anónimo disse...

Vamos lá a ver uma coisa: as religiões têm alguma solução para resolver problemas ambientais como o efeito de estufa, a subida do nível do mar, ou a libertação de CO2 par a atmosfera?

A resposta é um NÃO.

O mais que podem fazer é publicar uma série de declarações muito bonitas sobre o respeito pela natureza. E não conseguirão fazer mais do que isso!

Vocês, os bahais, além desse declaração simpática, ainda tentam dizer que têm um método especial de resolução de problemas, em que toda a gente participa. Se têm a varinha de condão para resolver problemas da humanidade, então porque é que a confusão continua neste mundo?

Por outras palavras: vocês podem ser gente muito boa, mas precisavam de ser um pouco mais pragmáticos. Ou pensam que problemas ambientais se resolvem com caldeiradas religioso-científicas como o Mikolik propôs?

José Avlis disse...

* * *
Amigo Marco Oliveira
(do digníssimo Povo de Bahá)

Gostaria tanto que todos os bons Cristãos e Católicos fossem assim tão gentis e dedicados como o Marco Oliveira / Baha'i!
Rezemos por isso, e sobretudo para que na Eternidade nos encontremos todos, Cristãos e Baha'is, etc., na posse e glória completas de Deus, que é afinal o que mais/unicamente interessa, e que tem de ser decidido inevitavelmente neste mundo de provação (até à hora da nossa morte), a partir do livre-arbítrio de cada um, tanto quanto possível com bastante discernimento e muita sensatez.

Salvação Eterna? Só há uma oportunidade, nesta vida!
Todo o sofrimento deste mundo, se necessário, vale a pena para conquistarmos o Paraíso!

DEUS ACIMA DE TUDO !

Abraço fraternal reconhecido, com votos de Feliz Ano 2007 - objectivo Vida Eterna / Reino do Céu! -, com todas as bênção de Deus, Criador e Pai de toda a Humanidade.
José Mariano

Anónimo disse...

Tudo baseai-se na atitude e por isso considerando o que o próprio GH disse: Na maioria dessas negociações os intervenientes não estão de boa fé e alguns até têm dificuldade em perceber os pontos de vistas opostos apenas por mero preconceito.
Acredito que a religião e a educação espiritual pode ajudar neste ponto.

E em relação de espiritualização da ciência eu vejo isto como se o resultado fosse mais pelo bem estar da humanidade não pelos lucros financeiros e lembram-se que os povos e os governos são uma soma dos indivíduos e as decisões tomadas dependem de suas atitudes e daquilo que cada individuo acredita.

Sugiro ainda que os amigos ao em vez de ver a religião baha'í sendo dum grupinho pequeno em Portugal tentem procurar saber no âmbito mundial para ver o que e como este grupinho pequeno faz a nível mundial, pois eu também pensava como vocês com a diferença que eu investiguei.
Feliz 2007

Marco Oliveira disse...

Raposa,

Claro que os baha'is não têm varinha de condão para resolver os problemas ambientais. Mas quem tem?

Mas uma coisa é certa: na maioria das negociações sobre problemas ambientais, os intervenientes esforçam-se por defender os seus interesses e não os interesses de toda a humanidade (veja-se a negociação do protocolo de Quioto!)

Achas que esse é o método correcto de trabalho? Não percebemos já que dessa forma não conseguimos progressos significativos?

Quanto às opiniões do Mikolik, é ele que deve responder. Eu não concordo com algumas das coisas que ele escreveu.

M.. disse...

Oi Marco. Respondi ao seu comentário sobre o cartoon do Dry Bones lá no nosso blog. Qdo puder, dê uma olhada!
Abraço,
M..