sábado, 17 de fevereiro de 2007

Até as crianças!

A luta pelos direito cívicos da população negra dos Estado Unidos é hoje tema análises políticas e sociais, romances, filmes e séries de televisão. Aos olhos de um europeu no início do século XXI, parece inacreditável que há algumas décadas atrás, na América, a discriminação da população afro-americana fosse social e legalmente aceite em vários Estados Americanos. No auge dessa luta, Martin Luther King tornou-se figura lendária na luta pela igualdade de direitos cívicos para todos os americanos, independentemente das suas origens étnicas.

Esta luta pelos direitos cívicos nos Estados Unidos parece hoje um pesadelo do passado. Mas noutras partes do globo subsistem situações muito semelhantes. Uma dessas situações que tenho referido regularmente neste blog é a situação dos bahá’ís no Egipto, que se encontram numa situação semelhante à da população negra dos Estados Unidos há algumas décadas atrás. Impedidos de obter documentos de identificação devido a uma lei que os obriga a identificarem-se como muçulmanos, cristãos ou judeus, (o que equivale a obrigar um bahá’í a negar a sua religião!) encontram-se privados dos mais elementares direitos cívicos naquele país.

Crianças de famílias bahá'ís no Egipto.
Nem elas escapam à politica discriminatória do Governo Egípcio.

Um caso particularmente chocante foi recentemente exposto por Bilo, autor do blog Baha’i Faith in Egypt: na cidade de Ismailia (região do canal do Suez) três crianças egípcias encontram-se privadas dos seus direitos mais básicos apenas porque são filhas de pais baha'is. A crianças são Asser (de 5 anos), Sandrella Hany Ahmed Mousa (de 4 anos), e o sua prima Mona Dia el-Deen Ahmed Mousa (de 1 ano).

Os repetidos pedidos para obtenção de certidões de nascimento apenas têm recebido como resposta recusas e humilhações. O Director da Autoridade de Saúde Publica em Ismailia afirmou a um dos progenitores que “teria muito gosto em passar uma certidão de óbito para as crianças, mas nunca passaria uma certidão de nascimento”.

Estas atitudes foram motivo de um protesto junto do Conselho Nacional Egípcio para a Infância e Maternidade, onde se descrevia que esta situação tem impedido as crianças de se inscreverem na escola ou até mesmo de serem vacinadas (e no Egipto os programas de vacinação são controlados pelo Governo). Os motivos apresentados para as sucessivas recusas na obtenção de certidões de nascimento têm sido:
  1. os pais não possuem documento de identidade;
  2. o seu certificado de casamento bahá'í não é reconhecido como válido no Egipto.
Consequentemente, à luz da lei egípcia é como se não existissem.

Para lá do Egipto da "democracia musculada", do Egipto onde germina a “irmandade Muçulmana, do Egipto turístico, este é o Egipto profundo.

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A ler: Three Children: No Birth Certificates -- No Rights

4 comentários:

Pedro Reis disse...

Este tipo de coisas quando metem crianças ainda doem mais...

Marco Oliveira disse...

Pois é Pedro, pois é.

Mas isto está a tornar-se uma tragédia que ninguém quer ver.

Anónimo disse...

Uma violação directa e clara do Estatuto de Direito da Criança no Egipto e uma crueldade sem tamanho do funcionário público – seria melhor que alguém passasse a certidão de óbito do homem.
E a luta dos baha’is do Egipto pela conquista dos seus direitos da cidadania acabou?
Agora o que vai acontecer? Vão acatar à decisão do tal Tribunal? E estas crianças vão crescer como? O que vai ser da vida deles e muitos outros que certamente virão a este mundo cruel?
Espero bem que a luta continue embora sendo difícil.
Certamente estas atitudes cruéis são resultados da propaganda negativa que existe contra os baha’is nos países islâmicos, seja qual for ele mas no entanto estas discriminações não se resumem contra os baha’is.
É como o outro caso no Irão: os filhos dos pais afegãos ou mistos nascidos no Irão não tem direito a cidadania, não têm certidão de nascimentos, nem frequentam escolas.

Anónimo disse...

Outras crianças são massacradas no Darfur, ou mortas por balas perdidas em favelas do Rio de Janeiro.
Mas são todas crianças. Indefesas num mundo de adultos violentos e egoístas.