sexta-feira, 30 de março de 2007

Um vazio de identidade

O texto seguinte apresenta as ideias expostas por José Manuel Fernandes no debate tema “A Religião no Século XXI: Motivo de Conflitos e Construtora de Paz”. Lembro que se tratam de apontamentos pessoais que podem não representar fielmente tudo o que foi dito pelo director do jornal Público.
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Fui educado na Igreja Católica, mas deixei de acreditar na adolescência. Depois tornei-me ateu, mas com o tempo (com muita reflexão e dúvida) passei a ser apenas uma pessoa sem fé. Culturalmente sou católico, mas não pratico nenhuma religião. Por vezes tenho pena de não ter fé, pois em certas situações ajuda muito, sobretudo quando a razão não chega lá.

Estamos a assistir ao ressurgimento de formas de ateísmo não inspirado por uma ideologia, mas sim como reacção a acontecimentos dos últimos anos.

Vários livros recentes, escritos por ateus radicais, descrevem todas as religiões como estando todas errada, e sendo profundamente más. Einstein é hoje criticado por ter afirmado que a ciência não se aplica a tudo e que há espaço para tudo.

Estes ateus radicais lêem literalmente os textos sagrados e afirmam que, ou se acredita literalmente em tudo, ou então é-se hipócrita. Isto é um sinal de ignorância relativamente ao fenómeno religioso.

Houve muitas guerras com fundamento religioso, mas tinham outras raízes além dessa. As guerras têm a ver com o poder e a mobilização das pessoas. Houve tempos em que a mobilização era feita à custa das religiões ou das ideologias (nacionalismo, racismo, ódios de classe social,etc)

O fim das religiões laicas do século XX criou um vazio que deixou espaço para outros tipos de invocação; também gerou um vazio de identidade. A tentativa de construir um patriotismo europeu é um exemplo das tentativas para preencher esse vazio. A seguir ao 25 de Abril também assistimos a uma sede de identidade política e partidária; hoje isso não se vê.

Não acredito que estejamos a aproximar-nos do “fim da história”, aquele momento em que no mundo haverá apenas democracias liberais.

9 comentários:

Anónimo disse...

É bom ver que há ateus "moderados", farta um bocado ver ateus "fundamentalistas" tipo richard dawkins que defendem a ideia de acabar com *Todas* as religiões, e de essas pessoas serem "re-educadas". Pessoalmente penso que o Ateísmo Radical é um dos grandes responsáveis pelo o re-surgimento do fundamentalismo religioso no século 20 e 21, principalmente nos Estados Unidos. Quando se tenta impor crenças a outras pessoas, o natural é que elas se defendam tentando impor tambem as suas próprias crenças: Certos ateus tentam usar a evolução como "prova" da não existência de Deus, e os fundamentalistas cristãos reagem tentando impor nas escolas intepretaçoes literais creacionistas como "ciência". (isto nos estados unidos)

Resumindo, o extremismo de qualquer filosofia ou ideologia, mesmo aquela que se pensa ser considerada na razão, só dá mau resultado.

Pedro Fontela disse...

iuri,

Apesar de ter abdicado do meu ateísmo não posso deixar de corrigir essa opinião negativa do ateísmo "radical". A maior parte dos ateus "radicais" está-se nas tintas para o que cada um faz na sua vida privada (escolha de religião, seita, Igreja, etc) e considerariam qualquer imposição feita a crentes como um abuso intolerável. Existe a percepção que a religião é algo negativo, mas daí a censurar o pensamento livre vai um passo que nenhum ateu que eu conheça daria de bom grado.

ps: fala-se tanto no fundamentalismo religioso dentro das religiões do livro mas não se fala no renascimento de muitas religiões fascinantes (ex: os inumeros paganismos que florescem um pouco por todo o Ocidente). Se calhar é porque vende mais jornais...

Anónimo disse...

pedro,

o ateismo "radical" que eu me estou a referir é *mesmo* "radical", não é do tipo de ateismo que estamos habituados em portugal, mas sim o tipo de ateismo que existe nos estados unidos que tem tendência a fazer imposição sobre crentes (e o mesmo se pode dizer do evangelismo). o critico de facto não é o ateismo em si, (e muito menos o cristianismo) mas si a imposição de ideas

Anónimo disse...

O meu comentário não apareceu.
Foi censurado?

Marco Oliveira disse...

GH,
Não censurei nenhum comentário. Há muito tempo que não tenho necessidade disso.
Que browser estás a usar? E em que versão de Windows?

Pedro Reis disse...

Também já tenho tido problemas como os do GH, uma vez ou duas.

Marco Oliveira disse...

Pois é, malta...
Parece-me que isto começou a acontecer desde que mudei para a nova versão do blogger...

Elfo disse...

Iuri e Pedro Fontanela, dá-me a impressão que se está a falar aqui de atueísmo como uma ideologia. Pelo que sei o ateísmo é contra toda a forma de ideologia que se baseie em qualquer tipo de crenças, mesmo ateia. No livro de William Sears "Bahá'u'lláh e a Nova Era" fala-se explicitamente acerca do que esta Revelação trás, mesmo para os ateus, a saber: uma nova organização social a nível planetário, ou se quiserem, como agora se diz,(global).
Neste livro preconiza-se a emergência de novas ideias que se espalharão pelo planeta Terra. Já começaram a aparecer os movimentos...New Age. Coincidências?

Elfo disse...

Pois, meus amigos, o meu homónimo, José Manuel Fernandes, do Público diz algumas coisas interessantes, e segundo as palavras dele, refutadas pelo Professor Adriano Moreira, estamos a endeuzar uma constituição europeia, como se isso fosse a panaceia para todos os males da Europa Ocidental. Adriano Moreira diz que se está a construir a "casa pelo telhado" e explica o porquê e também os erros dos EEUU, que embora sejam uma Federação de Estados nunca o dizem, Ora, na Europa, que o meu homónimo defende, está a cometer-se exactamente o mesmo erro de avaliação ao tentar igualar todos os povos numa fidelização à Constituição, ou Carta Constitucional como lhe chama Adriano Moreira, e assim obrigar povos de culturas e costumes diferentes a aceitarem uma "ideologia" que lhes é imposta e que só sob a "bandeira" da fidelização à dita Constituição poderão ou não vir a integrar a UE. Estas considerações de JMF do Público, a que já nos habituou, são o reflexo do divórcio entre uma sociedade decadente e triste que já não tem capacidade de se auto-regenerar, e uma tendência a um ateísmo tolerante de que faz gala e que poderá vir a abrir a caixa de Pandora na Europa toda. Os EEUU, estão a léguas de distância desta "evolução" dos Estados Unidos da Europa, e só agora começam a perceber que afinal não são a super potência económica que foram há uns anos atrás. A UE é hoje a maior potência económica do planeta. A carta das Nações Unidas, preconizada por Bahá'u'lláh está precisamente a contrariar o que diz este meu homónimo, e não é por acaso que os EEUU se têm distanciado das NU, criando o seu próprio império baseado na supremacia marcial de que tanto se orgulha. E quando a Europa, ou a "velha Europa" como diz o imperador Bush, se reorganizar com umas forças Armadas de todos os países da UE e se revelarem serem superiores aos EEUU?, questiona-se Adriano Moreira. Pois é, tenho pena que a visão tacanha de José Manuel Fernandes, se revele nas contradições deste povo português que é incapaz de ver para além do seu próprio umbigo e ter uma visão mais abrangente de todas as contradições ideológica e idealísticas dos povos envolventes que emergem nesta Nova Ordem Mundial.