terça-feira, 8 de maio de 2007

Falta de comparência



Segundo a BBC Online, na Noruega, um jogo de futebol entre sacerdotes cristãos e muçulmanos acabou por ser cancelado quando os muçulmanos tiveram conhecimento que na equipa cristã haveria mulheres. A Igreja da Noruega decidiu retirar as mulheres da equipa para que o jogo se pudesse realizar; e naturalmente que as mulheres se sentiram ultrajadas e o capitão de equipa decidiu que também não participaria em protesto contra a decisão da Igreja.

Há alguns anos que cristãos e muçulmanos têm explorado formas de desenvolver o diálogo inter-religioso na Noruega. Este jogo inseria-se num evento chamado “Ombro a ombro”, mas claramente não incluía contactos físicos entre ombros de sacerdotes muçulmanos e sacerdotisas cristãs.

Como sabemos, quando um jogo de futebol acaba por não se realizar devido à falta de comparência, a(s) equipa(s) faltosa(s) e os responsáveis pela organização do jogo são responsabilizados; além disso, o futebol em si acaba por ficar desacreditado.

Também aqui, me parece que acontece algo semelhante; os Muçulmanos da Noruega, Igreja da Noruega, os dinamizadores do diálogo inter-religioso e a própria religião em si, acaba por ficar desacreditada.

Esperemos que os organizadores do evento percebam as consequências destas decisões.

9 comentários:

Anónimo disse...

Só faltava mais esta!
Agora as religiões da Noruega estão ao nivel de um clube de futebol como o nosso Gil Vicente!

Anónimo disse...

Isto parece mais um problema cultural do que religioso.
Ana

Helena Araújo disse...

Mas o que é que eles deveriam ter feito?
Ultrajar as mulheres, ou ultrajar os muçulmanos?

Neste caso, estou completamente do lado das mulheres.

Contudo, será que há maneiras criativas de evitar o conflito e promover o diálogo?

Esta história causa-me uma certa estranheza. De momento estou a fazer um curso de danças folclóricas com muçulmanos (da Palestina), e não há o menor vestígio de problemas por causa da presença de mulheres. Pretende-se fifty fifty.
Será que esse muçulmanos que se recusam a jogar futebol com mulheres estão a tentar medir forças, ver até onde podem impor os seus princípios contra os princípios dos outros?

Marco Oliveira disse...

Helena,
Acho normal que se desenvolvam actividades criativas onde se encoraja o diálogo e o conhecimento mútuo.

Também me parece, como diz a Ana, que isto é mais um problema cultural do que religioso.

Só não percebo é porque é que isto foi divulgado se se tratava de uma actividade em relação à qual não havia consenso.

É que com isto ficaram todos mal vistos.

Elfo disse...

Meu caro Marco e Helena, então se o jogo se realizasse num país de caríz muçulmano, os critãos também insistiriam em incluir senhoras na equipa cristã? É que se o Ocidente quer fazer um consenso entre os povos do Oriente e do Ocidente, não tem necessariamente de se pôr de cócoras perante os muçulmanos, nem perante ninguém. Se gostarem e quizerem participar, muito bem, se não quizerem, muito bem na mesma. Ou será que estavam com medo de levar "uma abada" de uma equipa que incluia senhoras? Isso faz-me lembra, tristemente, um senhor que não admitia negros nos olímpicos e que acabou por ter de admitir que a sua famosa "raça ariana" ficou muito além das capacidades dos africanos. Desculpem lá a comparação, mas é que estou farto de ver os Ocidentais de cariz cristão a defenderem uma integração da sua cultura na cultura dos Orientais.

Gabriel Silva disse...

O jogo foi patrocionado pelo Freitas do Amaral?

Ou pelo Sampaio?

Anónimo disse...

Marco, vou tentar enviar de novo o comentário de ontem que ainda não chegou.

Elfo,
ninguém aqui está a pôr-se de cócoras. Contudo, procurar o confronto aberto também não é muito inteligente.
A Paz e o entendimento entre as pessoas não se faz na base do braço de ferro.
Se o jogo fosse num país muçulmano, nem me passaria pela cabeça que me deixassem jogar.
E então: vamos pagar na mesma moeda? Vamos querer ser como os fundamentalistas?
Era essa a questão que coloquei ao Marco: entre aceitar as regras deles, ou impor as nossas, qual pode ser uma terceira via?

Marco,
porquê censurar essa informação?
O diálogo entre culturas faz-se também do debate sobre as dificuldades. Acho essa informação importante, para perceber onde é que o processo falha, e para nos questionarmos sobre o que é realmente importante.

Li um livro terrível, sobre uma miúda nascida na Alemanha mas enviada para a Turquia para ser criada pela avó. Quando regressou à Alemanha tentou integrar-se na vida desta sociedade, mas os pais não o permitiram, e a escola não teve a coragem de se interpor - por exemplo, não a obrigou a frequentar as aulas de desporto e natação (que era o maior desejo da rapariga!). Acabou por ser casada à força com um bronco qualquer que a violava dentro dos poderes concedidos pelo casamento...

"Eles" não é um grupo uniforme e seguro da sua identidade.
A propósito: recentemente discutiu-se a possibilidade de dar aulas de religião a muçulmanos, nas escolas, paralelamente às dos católicos, dos protestantes e dos judeus. O problema é que o ministério da Educação não tem um representante dos muçulmanos com quem se possa entender para preparar esta medida. São muitos grupos, e não se entendem entre si! O que inviabiliza o cumprimento da Constituição. Mundo complicado, o nosso.

Marco Oliveira disse...

Helena,
Pelo que percebo o Blogger continua a fazer desaparecer algumas mensagens.

Debater as dificuldades do diálogo inter-religioso e inter-cultural é uma coisa; mas potenciar essas dificuldades parece-me que não faz sentido
E creio que foi isso que aconteceu; tentou-se levar avante uma iniciativa que antecipadamente se sabia que não ia dar certo.

Claro que é um absurdo caracterizar em termos absolutos os seguidores de qualquer religião; quem o faz só pode fazê-lo por má fé ou por ignorância. Cada religião tem diversas comunidades compostas de grupos multifacetados... É como dizes: o mundo é mesmo complicado!

Gabriel: tinha-me esquecido dessa do Freitas do Amaral!
:-)

FL disse...

Julgo que aqui há dedo do Valentim Loureiro ;)