quarta-feira, 30 de maio de 2007

O Silêncio

A experiência ensina que o silêncio faz parte da disciplina espiritual daquele que busca a verdade. A tendência para o exagero, para suprimir ou adulterar a verdade, consciente ou inconscientemente, é uma fraqueza do homem, e o silêncio é necessário para que se possa superar estes momentos. Um homem de poucas palavras raramente dirá algo impensado num discurso. Medirá cada palavra. É comum encontrar muitas pessoas impacientes para falar. O presidente de uma assembleia, em geral, recebe muitos pedidos de pessoas que solicitam a palavra. Quando a autorização é concedida, o orador geralmente excede o tempo limite. Não se pode dizer que esta conversa toda seja benéfica ao mundo. Quanto desperdício de tempo!

Este pequeno excerto das memórias de Gandhi (A minha vida e as minhas experiências com a verdade) encontram um paralelo interessante nas escrituras Bahá’ís. Segundo Bahá'u'lláh "Aquele que busca a verdade... jamais quererá enaltecer-se a si próprio acima de qualquer outro; deverá apagar da tábua de seu coração todo traço de orgulho e vanglória, firmar-se na paciência e na resignação, guardar silêncio e abster-se de palavras vãs." (Kitáb-i-Íqán, parágrafo 214).

A história mas interessante que já ouvi sobre excesso de palavras passou-se na Comunidade Bahá’í do Canadá. Ali, como entre muitas outras comunidades, nas reuniões comunitárias com maior participação (Festas de 19 Dias e Convenções) é fácil encontrar o frenesim dos oradores, das pessoas que têm muitas coisas para dizer, dos delegados que querem abordar vários assuntos durante a sua intervenção. Os índios nativos do Canadá sempre estranharam este tipo de comportamentos e afastaram-se gradualmente deste sistema de consulta comunitária.

Surgiu a ideia de criar encontros em que apenas podiam intervir os índios; quem não fosse índio podia assistir, mas não podia intervir. O resultado foi profundamente contrastante com os encontros tradicionais. Longos períodos de silêncio... intervenções curtas... ausência de frenesim dos oradores... nenhum stress...

Foi o que me contaram. Gostava de ter assistido.

10 comentários:

Pedro Reis disse...

Eu também gostava e quero lembrar-me desta história como exemplar...

Obrigado Marco

João Moutinho disse...

A história pode estar pintada de cor de rosa.
Até porque é "a falar que a gente se entende".
Basta ver que na antiga Helénia (Grécia é nome turco) o frenesim oratório era um atributo dos atenienses, enquanto os habitantes da Lacónia, os espartanos, eram bastante mais comedidos na oratória.
Se calhar queres dizer o Mário Lino deveria ter sido índio por alguns instantes...

Pedro Reis disse...

:-)

Boa piada João Moutinho.
Mas olha, realmente ele disse algumas (meias)verdades, eu confirmo que aqui "no deserto" há poucas escolas e hospitais...

Anónimo disse...

Na região de Lisboa 60% das crianças em idade pré-escolar não têm lugar nos jardins de infância públicos. Isto estava nos jornais há alguns dias atrás. Isso não é um problema da margem sul.

Além disso o governo prepara-se para fechar centenas de escolas e vários hospitais e centros de saúde.
O interior vai-se desertificando, enquanto os políticos pensam em gastar fortunas imensas em obras faraónicas. Poupa-se na educação e na saúde, para gastar em asneiras monumentais?

Que grande país!

João Moutinho disse...

Tão grande a nossa política lusa que me faz concordar em pleno com o GH.
Esta então dos infantários é uma aberração.

Pedro Reis disse...

GH eu também estou 100% de acordo contigo.

Logo no nosso país em que as mães podem ficar tanto tempo com os filhos em casa depois de nascerem e onde as avós se reformam cedo...
Enfim, chegámos a um ponto em que nem pais, nem avós, nem jardins-de-infância há para tomar conta das crianças.

Pior ainda é pensar nas consequências na formação psicológica das crianças devido a este estilo de vida, criada pela sociedade actual e, no caso do nosso país, fomentada pela classe governativa.

Pedro Reis disse...

GH se não percebeste ainda, o Pedro é o Mikolik, um dos teus velhos amigos aqui do Povo-De-Bahá :-)

Saudações amigas!

alexbr82 disse...

Gostaria de partilhar convosco o meu espanto e felicidade por ouvir essa história. Sempre fui uma pessoa de poucas palavras , e pela experiência que tenho, muitas coisas podem ser ditas sem palavras, a maior parte da nossa comunicação no dia a dia é feita por gestos (pelo menos é o que tenho lido). Acima de tudo moderação. Moderação para nós própios (isto é respeitar os própios limites) e moderação para os outros (saber até q ponto o outro está disposto a ouvir). Ha sabedorias que passam ao lado dos grandes pensadores desse mundo pela sua simplicidade, e para mim uma delas está encerrada na palavra moderação dita por Abdul'Bahá.
abraço a todos :)

Gi disse...

EStava à procura de um outro excerto e vim aqui parar. Li e não resisti, tirei-o para o meu espaço. Grata pela partilha.

Tenha uma boa noite

biomedico willian rocha disse...

muito legal as trocas de miúdos de todos e gostei muito do texto sobre o silêncio, e nao poderia deixar de falar um verso do livro que a muito tempo já falava sobre o assunto abordado"ATÉ O TOLO QUANDO SE CALA É SABIO"é através do silêncio que buscamos as melhores resposta para um grande problema, nao é por falar de mas que iremos impressionar, lembro de gandhi uma certa mulher chegou até gandhi e disse "o meu filho nao pára de comer açucar" e gandhi disse"na outra semana você traga-o novamente" e quando passou a semana a mulher retornou à gandhi com seu filho, gandhi olhou em seus olhos e disse pare de comer açucar,a mulher falou para gandhi por que você demorou uma semana para disser isso, e gandhi disse por que eu ainda estava comendo açucar,o que quero dizer com isso e melhor fazer o que tem que ser feito do que falar mil palavras que você não faz. um abração para todos que Deus nos ajude a ser mas verdadeiros.