terça-feira, 6 de novembro de 2007

Um desafio a Khatami

Sam Qandchi, editor do Iranscope, publicou hoje um vigoroso editorial onde desafia o governo iraniano a reconhecer a Fé Bahá'í. O texto coloca uma questão muito simples ao antigo presidente iraniano, Khatami, que é agora o representante iraniano no "Aliança de Civilizações": "Sr. Khatami, nos seus esforços em prol de uma maior unidade nacional, estará disposta a ajudar com o reconhecimento da Fé Baha'i na República islâmica do Irão?"

Qandchi lembra que há já alguns anos que Khatami fala do diálogo entre as civilizações. Mas é irónico que ele viva num país que nos últimos 28 anos negou o reconhecimento da Fé Baha'i, uma das grandes religiões mundiais e a maior comunidade religiosa do Irão, logo após os Xiitas. A ausência de reconhecimento está implícita na Constituição Iraniana que apenas garante o reconhecimento dos Cristãos e dos Judeus como "povos do Livro"; e também reconhece superficialmente os Zoroastrianos.

O argumento do regime islâmico tem sido que os Baha’is não são mencionados no Alcorão, e por esse motivo não podem ser reconhecidos.

O editorialista prossegue com a seguinte questão: os Xiitas são mencionados no Alcorão?

Claro que não! Em nenhuma parte do Alcorão se referem os Xiitas, uma corrente que foi criada depois do Alcorão ter sido revelado. E, de facto, de acordo com as tradições sunitas aceites em todos os países árabes e em algumas partes do Irão. Os Xiitas são infiéis e hereges. Esta é a opinião de 90% dos muçulmanos do mundo.

Qandchi interroga-se, então, sobre o que leva uma seita - que foi formada após o Alcorão e não é mencionada no Livro Sagrado, e é considerada herética pela maioria do mundo islâmico - a negar o reconhecimento de outra religião, apenas com base no argumento de que a Fé Baha'i não é referida no Alcorão!

O texto conclui com um apelo a Khatami – que está empenhado na reconciliação entre o Islão e o Cristianismo – a começar por curar as feridas da sua própria nação. Se após 160 anos de perseguições sistemáticas e massacres de Baha'is, o Irão não consegue libertar-se dos seus preconceitos e da sua profunda ignorância que manifesta no seu ódio aos baha'is, então como pode ter a ousadia de falar em reconciliação com outras nações?

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COMENTÁRIO: Jorge Sampaio é o Alto Representante para a Aliança das Civilizações. Será que o ex-presidente português terá coragem para colocar uma questão destas ao ex-presidente iraniano? É que os problemas de direitos humanos não são questões internas de nenhum país. São questões de toda a humanidade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Existe uma coisa que se chama pragmatismo político (e que o povão vulgarmente designa por "cobardia") que pode ser um obstáculo nessas conversas entre figurões da política.

Lembra-te da visita do Dalai Lama a Lisboa e do pragmatismo dos nosso governantes; e depois o que lhe aconteceu na Alemanha? Alguém se acagaçou entre os governantes alemães?

Não esperem nada do Jorge Sampaio. O mundo da política é um mundo de cinismos. Habituem-se!