segunda-feira, 3 de março de 2008

Neuroteologia

Fará sentido falar de "neuroteologia", um ramo da ciência que se propõe estudar a ligação entre a experiência religiosa e a actividade cerebral? Se existe uma região do cérebro a que alguns cientistas denominam como "ponto de Deus", então será que estamos "programados" para acreditar no transcendente? Será a experiência religiosa um artefacto do cérebro? Teremos no nosso corpo um "gene de Deus", tal como existe um “gene da homossexualidade” ou “gene da infidelidade”?

Este tipo de questões entram numa área onde os domínios da fé e da ciência se sobrepõem. Podem despertar polémicas e debates intermináveis. E são suficientemente interessantes para serem tema de um artigo de fundo do número de Janeiro/Fevereiro da revista Le Monde des Religions.

Comparação entre o cérebro num estado normal (à esquerda) e num estado de meditação.
Nota-se uma diminuição de actividade no lobo parietal (em baixo, à direita),
uma região associada à capacidade de se situar no espaço e de distinguir o "ser" do "não-ser".

O artigo refere com detalhe as investigações do neurologista Andrew Newberg que observou a actividade cerebral (com uma técnica de captação de imagens do cérebro) de monges budistas em meditação, e de monges franciscanos em oração. O tipo de actividade cerebral dos monges budistas no momento em que sentiram uma “fusão com o universo”, era muito semelhante ao de monges franciscanos no momento em que afirmaram sentir uma “proximidade intensa” com Deus. Será que isto significa que Deus existe? Ou poderemos concluir que tudo se passa apenas no cérebro?

O autor da experiência apenas é possível ver o que se passa no cérebro; nada nos permite afirmar que Deus existe ou não. Da mesma forma que quando alguém pensa numa tarte de maçãs, podemos dizer que isso tem um efeito no cérebro dessa pessoa; mas não podemos dizer se a tarte de maçãs existe ou não.

O artigo refere ainda as opiniões do neurocientista Mario Beauregard – que investiga a relação entre a neurologia e as experiências místicas – de Richard Davidson – que tem estudado os benefícios da meditação na capacidade de concentração e na velocidade de envelhecimento do cérebro - e de Michael Persinger - um neurobiologista, inventor de um capacete capaz de estimular actividade numa região do cérebro, criando uma sensação de "presença transcendente" ou de "felicidade cósmica".

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Sobre este assunto:
The God Experiments (Discover)
Spiritual Neurology (Economist)
God on the Brain (BBC)

6 comentários:

Anónimo disse...

Entao como é que sabem que aquela parte do cerebro é associada a 'capacidade de ... distinguir o "ser" do "não-ser"', como descobriram ou como se demonstra isso?

Anónimo disse...

ja agora, quanto ao capacete é interessante ler a entrada na wikipedia http://en.wikipedia.org/wiki/God_helmet

"In December 2004 Nature reported that a group of Swedish researchers, replicating the experiment under double-blind conditions, was not able to verify the effect."

Marco Oliveira disse...

Iuri,
Isso não sei responder.
Se quiseres posso enviar-te um scan do artigo.

Anónimo disse...

Pois eu confesso que não percebo como é que se consegue compreender o funcionamento do cérebro. Percebo que existam partes mais ou menos activas durante algum tipo de actividade. Mas a minha compreensão fica por aí. E nunca percebi os textos que falam deste tema.

Anónimo disse...

desculpa, mas aqui já acho que andamos a inventar teorias para ocupar o tempo...

Anónimo disse...

Vou requerer um scan do meu cérebro para perceber qual a cor que aparece relativamente à parte que não entendi... :-))