domingo, 16 de março de 2008

Os filhos do último Profeta



Aqui fica a transcrição do artigo publicado ontem na revista Única (do jornal Expresso).
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Reportagem de Mário Robalo (texto) e Tiago Miranda (fotografias)

Seis milhões de bahá’ís em todo o mundo celebram, na próxima sexta-feira, o Ano Novo. Afirmando-se o «manifestante de Deus», substituindo todos os anteriores[1], o persa Bahá'u'lláh profetizou, no século XIX, a instauração de um governo mundial para todos povos e a união de todas as fés. Em Portugal, existem nove mil fiéis.

Os miúdos fixam-se no olhar de Neda que lhes fala com uma ternura cativante: «Porque dizemos 'bom-dia' aos nossos pais, pela manhã, quando não sabemos ainda o que vai acontecer?» A pergunta provoca um coro de desconcertantes respostas. Mas Núria, apoiando o rosto moreno entre as mãos, coloca a sua questão, quase excessiva para os seus dez anos: «É porque queremos que os outros também estejam felizes...» Neda agarra a ideia, dando-lhe coerência: «Pois... é como se alguém estivesse a tossir por cima de vocês, ficariam constipados. O mesmo se passa quando olhamos a vida de forma positiva. Essa nossa alegria passa para os outros, é contagiante.»

Aos sábados, a iraniana Neda Bakhshandegi faz, com o marido e as três filhas, o percurso entre Évora e Lisboa. Não apenas para animar um grupo de crianças no Centro Nacional Bahá'í, «mas também para que a família não perca a relação com a comunidade», diz enquanto agasalha Sama Isabel, a filha mais nova, de 8 meses, para regressarem a casa numa tarde cinzenta e húmida. Esta mulher, que herdou do pai o gosto pela arquitectura, teve de fugir da sua Teerão natal quando tinha 12 anos, juntamente com os pais e um irmão, em Maio de 1978, um ano antes da revolução do ayatolah Khomeni. «Foi a instituição islâmica que criou o mal-estar», acusa ao evocar um ambiente depressivo que então já se vivia, com pessoas a anotarem as matrículas dos carros de quem os visitava. Os diferentes regimes iranianos desencadearam uma feroz perseguição contra os crentes bahá’ís, que agora entram no ano 164[2]. Em 1844[3], Bahá'u'lláh proclama-se o profeta anunciado pelas fés judaica, cristã e muçulmana. Desde então, o número de fieis condenados à morte já ultrapassou os 20 mil. O clero islâmico considera-os heréticos. Depois da proclamação da República islâmica do Irão, os funcionários públicos bahai foram despedidos e mais de 200 execuções foram confirmadas pela ONU e a União Europeia (UE), que por diversas vezes condenaram a situação de prisões arbitrárias e desaparecimentos. A última condenação da UE foi em Fevereiro, lamentando «a expulsão de estudantes de liceus e universidades». Após a entrada de Khomeni, mais de 700 mil bahá’ís[4] viram-se forçados a abandonar o país. Portugal acolhe uma centena.

Neda e a família acabaram por chegar a Nova Jersey (EUA) com visto de refugiados. Em Israel, durante um trabalho voluntário na sede da sua religião, conheceu Shakib Shahidian, um iraniano refugiado com a família em Portugal desde os 10 anos. Agora Neda dedica o seu tempo a suscitar vontades para acções cívicas, como a realização de concertos a favor de uma associação de pais de crianças deficientes ou a limpeza de uma barragem de abastecimento à cidade de Évora com crianças de escolas.

«A fé bahá'í é uma ferramenta que nos permite participar, de modo responsável, na construção de uma cultura de respeito por toda a humanidade e pela Natureza», reconhece Shakib. E este professor de Engenharia Agrícola na Universidade de Évora recupera as profecias de Bahá'u'lláh sobre a «nova civilização mundial» que será sustentada por uma federação governativa universal: eliminação da pobreza, garantia de cuidados de saúde e de ensino para todos, criação de uma língua universal[5], reconhecimento da harmonia da religião com a razão e o conhecimento científico, e igualdade entre mulher e homem.

A chegada a Portugal em 1976, «causou uma sensação de alívio para a família». Os pais de Shakib, médicos, eram ameaçados constantemente, apesar de prestarem serviço em pequenas aldeias no sul do Irão. «O meu pai chegou a receber um 'recado' com uma faca desenhada. Por isso, «viver em Vila Nova de Gaia com uma única panela em casa, que servia para aquecer a água do banho e fazer comida, não significou qualquer incómodo». Até ir para Évora fazer o curso, os pais sobreviveram a vender flores e plantas. Demorou sete anos até que a mãe conseguisse um lugar no Hospital de Peso da Régua. Em Angola, onde trabalhou numa empresa agrária, Shakib voltou a experimentar o ambiente de medo que experimentara na sua terra. «Quando cheguei a Luanda, os bahá'ís ainda tinham de esconder os livros sob o chão das casas»

Quem nunca teve de suportar a violência da perseguição religiosa foi Margarida e João Ganso, treinador do atleta Nelson Évora, também bahá’í. Ele e a mulher conheceram a fé depois de Abril de 1974 – até àquela data a polícia política por diversas vezes invadiu as reuniões dos crentes bahá’ís. Nascidos em famílias católicas, o seu abandono da Igreja «não resultou de nenhuma atitude de rebeldia», confessa Margarida, para quem «a opção pela fé bahá’í significou um passo em frente», devolvendo-lhe outra dimensão das religiões. «Na Igreja Católica, a certeza da fé apenas reside na sua doutrina. Agora tenho a noção de que existe algo de válido noutras religiões...» A ideia desta advogada é interrompida pelo seu filho David «apenas» quer acrescentar: «Nunca tentei mostrar a um amigo que outra religião está errada. Ela está correcta, mas incompleta, porque Deus vai-se revelando progressivamente.» Os ensinamentos bahá’ís sustentam que cada «manifestante de Deus» - Krishna, Zoroastro, Abraão, Moisés, Buda, Jesus e Maomé - revelou partes do plano divino para a Humanidade. Bahá'u'lláh trouxe «a mensagem da unidade», que se concretizará na «cidadania mundial». Foi esta convicção que levou David, engenheiro civil, 24 anos, a integrar um grupo de dança teatral internacional bahá’í, com jovens de 10 nacionalidades diferentes.

Durante um ano percorreram um sem-número de países, «transmitindo mensagens de confiança na Humanidade». O pai de David recorda entretanto que, antes da conversão, o casal procurou respostas em outras Igrejas cristãs. João Ganso sublinha que os «benefícios» da sua nova fé se revelaram a nível do relacionamento humano: «O ambiente na família melhorou significativamente. Oramos juntos, quando temos dificuldades. E eu que vivi em Angola trazia uma ponta de racismo. Agora estou inserido num grupo de pessoas africanas que frequentam a nossa casa.»

A casa de Maryam Sanai, na Praia da Rocha (Portimão), também está disponível todas as sextas-feiras para acolher um grupo de cerca de 20 pessoas. Reúnem-se para dialogar sobre temas tão diversos como «as mulheres lideres no mundo» ou «a relação de afecto entre pais e filhos». Um dia, numa acção da fé bahá’í, esta iraniana ouviu alguém sustentar que o desenvolvimento humano precisa de nutrição. «Foi como um clique a despertar-me para uma acção concreta». A partir de então, sempre que surge a oportunidade, «particularmente junto de pais com filhos ainda pequenos», Maryam integra na conversa «a necessidade de desenvolvermos virtudes que alimentam o nosso interior e as relações humanas». Não se trata de proselitismo camuflado, garante. Até porque a sua fé não lho permite. Ela própria tem experiência de que a religião não se impõe: «É uma busca individual, que se cultiva naturalmente, mas que primeiro passa por uma decisão íntima.»

Quando chegou a Portugal, em 1980, com o marido, Siavash Sanai e a filha Tina, então com três anos, Maryam trazia como currículo a sua carreira de jornalista na televisão estatal do Irão. Por causa da sua convicção religiosa foi, primeiro «desterrada para a biblioteca» e, depois, despedida. Oito anos antes tinha casado com um arquitecto, em cuja família diversos membros foram presos ou executados por confessarem Bahá'u'lláh.

Ao chegar a Portimão, Siavash ainda pensou poder ali exercer a sua profissão. «Um engano». Uma empresa de construção quis aproveitar-se da sua formação. Como não podia assinar projectos, «pagavam um ordenado tão pequeno, 33 contos (hoje 165 euros), que quase não dava para pagar os 28 (140 euros) da renda da casa». A casa onde agora recebem as pessoas que aderem à iniciativa de Maryam foi projectada por ele. E o negócio de peles e malas garante-lhes a sobrevivência. Inicialmente aventuraram-se a tomar conta de uma mercearia. «Um atrevimento. Ainda não falávamos português», lembra Siavash, interrompido pela mulher, para recordar que «eram os clientes quem nos ensinava o nome dos produtos» Mas não bastava a simpatia da clientela.

O negócio era fraco, e, entretanto, em 1985, nascera-lhe um rapaz, Sahba. «Chegámos a não ter dinheiro para levar os filhos ao médico», diz Maryam, concluindo com satisfação: «Mas tudo se conseguiu». O filho está a terminar o curso de engenharia em Lisboa, onde participa na actividade da comunidade. A filha, Tina, exerce medicina em Beja. E no quotidiano de tensão rodeado de problemas humanos, esta médica diz sustentar-se no lema bahá’í: «Sejam actos e não palavras o vosso adorno».

Todos os membros da família Sanai estão naturalizados portugueses, situação que não escapou à vigilância do governo islâmico de Teerão. Através de um «comissário», fez saber que a família não deve voltar à pátria. Siavash retribui: «no meu país nasci como um estrangeiro, em Portugal sou da casa. Aqui a religião nunca foi um perigo nem um obstáculo.»

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A «GLÓRIA DE DEUS»

Bahá'u'lláh, que significa «glória de Deus», nasceu na Pérsia em 1817, com o nome de Mirzá Husayn-Al [6]. O governo do seu país e as autoridades islâmicas não toleraram que ele se tivesse anunciado como o «manifestante de Deus» e «o prometido» - o último profeta de todas as religiões do passado[7]. Acabaram por lhe decretar o exílio e sucessivas detenções.

Faleceu a 29 de Maio de 1892, em Akka (Israel)[8] onde se encontra sepultado. As suas escrituras são consideradas revelações divinas para os seis milhões de crentes dispersos por mais de 200 países.

A fé bahá’í fundamenta-se na necessidade de «regenerar a Humanidade» com vista à formação de um governo único para todas as nações.

Os bahá’ís não têm clero nem culto[9]. O casamento é uma instituição e o divórcio é tolerado. O álcool e as drogas estão proibidas. Também lhes está vedada a participação na política partidária bem como cargos de governação.

Os lideres locais e nacionais são eleitos[10], a exemplo do seu órgão máximo, a Casa Universal de Justiça, em Israel. A primeira notícia sobre a fé bahá’í é dada em 1926, durante uma conferência no Clube Rotário, em Lisboa. Antes, Eça de Queiroz já se referira , em «correspondência de Fradique Mendes», ao triunfo de um movimento religioso na Pérsia, chamado «babismo». Por diversas vezes, a PIDE interrompeu as reuniões da comunidade, confiscando livros de orações e documentos internos. Alguns dos seus membros tiveram mesmo de responder na sede daquela polícia. Mário Marques, actual director dos Assuntos Externos, foi um dos crentes que, por diversas vezes, foram inquiridos pelos agentes da polícia política do Estado Novo.


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COMENTÁRIO
Mesmo podendo passar a ideia errada de que a Comunidade Bahá'í em Portugal é maioritariamente constituida por refugiados iranianos, penso que este artigo apresenta uma interessante imagem do que são os baha’is em Portugal, das suas preocupações e interesses. Existem pequenos detalhes (que assinalei ao longo do texto) no texto que não são totalmente correctos e, por esse motivo, merecem alguns esclarecimentos.
[1] - Bahá'u'lláh não pretende substituir os Manifestantes anteriores. Ele apresenta-Se como mais um na sucessão de Mensageiros Divinos que acreditamos que Deus tem enviado à Humanidade. Também não acreditamos que Ele seja o último, no futuro a Humanidade terá outras necessidades, e por esse motivo é natural que surjam novos Mensageiros Divinos.
[2] - Segundo calendário Bahá’í, vamos entrar no ano 165.
[3] - Baha'u'llah anunciou a Sua missão em 1863 (a um conjunto restrito de pessoas) e em 1867 (de uma forma pública).
[4] - É um número exagerado. No Irão vivem cerca de 300.000 a 350.000 baha’is. Nos Estados Unidos o número de refugiados baha’is iranianos ronda os 10.000.
[5] - O sobre este tema, os princípios bahá’ís defendem a criação ou adopção de uma língua auxiliar internacional.
[6] - O nome próprio de Bahá'u'lláh era Husayn-'Alí.
[7] - Bahá'u'lláh apresentou-Se como o prometido de todas as religiões, mas nunca afirmou que a sua revelação fosse derradeira ou a última.
[8] - Quando Bahá'u'lláh faleceu, ainda não existia Estado de Israel. Seria mais correcto afirmar que ele faleceu em Akka, na Palestina Otomana.
[9] - O que se considera culto? Se estamos a falar de actividades praticadas ciclicamente seguindo um certo conjunto de regras (mesmo que genéricas), então poderemos considerar as Festas de 19 Dias como uma acto de culto. E também existem um conjunto mínimo de rituais; veja-se a Oração Diária Longa, ou a cerimónia de casamento.
[10] – Não se trata da eleição de lideres, mas sim de órgãos administrativos. Nenhum membro eleito de um órgão da administração bahá’í pode ser considerado um líder.

Alem disto, numa das fotos que acompanha a reportagem há uma legenda que refere 'Abdu'l-Bahá como "Guardião da Fé». O titulo de Guardião da Fé não se aplica a 'Abdul-Bahá, mas sim ao Seu neto, Shoghi Effendi.

17 comentários:

Anónimo disse...

Eis um exemplo de como "pequenos" detalhes e "inexactidões" numa notícia podem fazer a diferença, não de su menos importância. Como expectável os esclarecimentos foram feitos, mas, se apenas neste espaço, o leitor do Expresso será induzido em erro, lamentavelmente.
Mais atenção e rigor, senhores jornalistas, por favor!

Marco Oliveira disse...

entãoséassim...
Só o ponto 8 é que incomoda.
Mas o resto são detalhes que não me parece fazerem grande diferença.
Repara: ninguém deixa de ficar melhor ou pior impressionado com a Fé porque se escreveu que Baha'u'llah revelou a Sua missão em 1844; ninguém fica desinformado porque o ano baha'i não estar correcto ou o número de refugiados ter sido exagerado.

Anónimo disse...

Não será pela gravidade das "falhas", mas já que se faz o levantamento de algo a ser publicado porque não ser-se mais rigoroso?
De facto, datas e números (embora gostasse de saber como aparecem os 700.000!) não terão importância, mas não reduzo o "incómodo" ao ponto 8, senão vejamos: [1], onde Baha'u'llah vem "substituir" os anteriores profetas; [7] referindo-se ao "último" profeta. Talvez tivesse sido conveniente a referência ao conceito de "Revelação Progressiva"; [10] onde são eleitos "líderes" (?)- parecia que estava a ler algo relacionado com o comando de uma seita, de tropas, ou qualquer tipo de organização onde as chefias imperam. Saber que não existem hierárquias será importante.
Não se trata de nenhuma procura obsessiva de gaffes (que saltam à vista naturalmente) ao longo do texto, mas penso que a escolha das palavras deve ser cuidada, sobretudo quando feita por pessoas que têm responsabilidades na publicação de notícias.
Já agora, que me perdoem os que encontrarem provas de ignorância ou falhas no meu raciocínio ou vocabulário... (mas tenho uma desculpa: não sou jornalista! :-))

Anónimo disse...

Indo por passos, o resto vem depois...;-)
"Portugal acolhe uma centena."
Dá impressão que Portugal acolheu, abrigou, os bahá'ís mesmo na categoria de refugiados...
Será esta verdade?
...

José Fernandes disse...

De qualquer maneira é muito importante que ciclicamente apareçam reportagens destas, mesmo com algumas imprecisões.
É interessante quando alguém nos diz que afinal já percebeu que a Fé Bahá'í não é nenhuma seita do Islão. Pelo menos isso já é reconfortante.

Marco Oliveira disse...

Entãoéassim…:

As falhas parecem-me superficiais; podem ser óbvias a quem tem conhecimentos razoáveis sobre a história e ensinamentos da Fé Baha’i. Mas um trabalho jornalístico é feito por uma pessoa (que tem uns contactos pontuais com os baha’is) com objectivos profissionais; regra geral não se trata de um trabalho feito por alguém que contacta com regularidade com bahá’ís e faz esse trabalho num âmbito de uma investigação pessoal mais profunda.

Mas penso que nenhuma destas falhas é uma gaffe; nenhuma distorce a realidade; nenhuma tem um efeito caricato. Se fossem gafes, a coisa era diferente.

Daniella:
Não te sei responder sobre esse assunto. Talvez outra pessoa melhor informada consiga dizer alguma coisa.

Anónimo disse...

Muita drama Marco, muita drama, quer dar uma imagem de vitimas, dos coitadinhos; não gosto: "Esta mulher, que herdou do pai o gosto pela arquitectura, teve de fugir da sua Teerão natal quando tinha 12 anos" (só falta umas gotas de lágrimas); teve que fugir???!!! ainda antes da Revolução???!!! De avião para USA.
e ainda tenta dar uma má imagem do Irão de antes da Revolução;
...
PS. Quanto à outra pergunta faz favor de indagar... se for possível, é claro

Marco Oliveira disse...

Daniella,
Uma vez li uma frase mais ou menos assim: «Há uma diferença entre aquilo que pensamos que somos, aquilo que os outros pensam que somos, e aquilo que realmente somos».

O que temos aqui é uma perspectiva externa sobre os bahá'ís. É aquilo que os outros vêem em nós. E penso que do ponto de vista mediático é bem possível que sejam mais interessantes as histórias destes baha’is iranianos que passam dificuldades e conseguem dar a voltar por cima. Não podemos exigir que um jornalista faça uma peça que retrate fielmente uma perspectiva baha'i, ou que escreve como se ele próprio fosse um crente. Afinal nós defendemos a livre e independente pesquisa da verdade.

Há algo mais importante: nos últimos anos este tipo de reportagens têm aparecido com alguma regularidade na imprensa portuguesa. E o Expresso é o semanário mais influente na sociedade portuguesa...

Anónimo disse...

Pois a mim parece-me natural o facto do jornalista se focar na história de refugiados iranianos. Afinal muitas das vezes que os baha’is falam – ou são referidos – em público, é para abordar a questão das perseguições religiosas no Irão (e no Egipto). Mesmo neste blog se verifica isso; afinal com que frequência são afixados neste blog posts sobre perseguições e discriminações no Egipto e no Irão?

O tema das perseguições é importante e o jornalista descobriu nele algum interesse jornalístico. Dêem-se por felizes pelo facto do jornalista não ter apanhado alguns “rabos de palha”, como por exemplo a vossa posição sobre homossexualidade, a pena de morte ou a questão das mulheres na CUJ.

Eu continuo na minha: era importante que os baha’is conseguissem vir a público falar de algo mais do que perseguições. E quando escrevo “vir a público” refiro-me a ter capacidade de apresentação das suas ideias de forma inovadora, relacionando-as com o que se passa no mundo. Falar sobre reuniões, oração e meditação, actividadezinhas comunitárias, é um discurso onde vocês aparecem a olhar só para o vosso próprio umbigo.

E o resto do mundo? Não têm uma opinião sobre o que se passa no Tibete? (só contam as perseguições no Irão?) E a crise financeira nos EUA? (vamos resolvê-la com orações?) E as alterações climáticas? (trocamo-las por uma reunião de meditação?) E a violência que se vive nos subúrbios das grandes cidades de Portugal? (vamos esquecer isso só a falar de unidade da humanidade?)

Enquanto não conseguirem correlacionar o que se passa no mundo com o que está nos vossos ensinamentos, vocês serão vistos apenas como uns tipos simpáticos, com uns ensinamentos bonitos, mas alheados do mundo real. E quanto mais tempo demorarem a fazer isso, maior é o risco de serem vistos como uma religião igual às outras. Seria uma pena que isso acontecesse.

NOTA: Este blog é uma agradável excepção nessa capacidade de relacionamento entre temas baha’is e problemas do mundo actual. Mas uma andorinha não faz a primavera.

Anónimo disse...

Tem razão Marco hoje o sensacionalismo vende mais…porém não justifica que todos os jornalistas e todas as pessoas pegam nesta onda para terem os seus 15 minutos, pois sim isto só dura 15 minutos.

Amanhã quem mais lembrará desta reportagem? o Mário Soares, por ex., continuará a chamar “babai” em vez de “bahái”…;-)

Além do mais as pessoas que saíram antes da Revolução não passaram por dificuldades no seu sentido de DIFICULDADES…

Vocês conhecem a história da Bernadete?

GH,
“Dêem-se por felizes”???!!!
Do que está a falar?
Foi cometido algum crime?
Muito curioso o seu raciocínio…

“E o resto do mundo?” Quanto às suas questões Universais devo dizer que não será possível a não ser com a EDUCAÇÃO…
Ou você acha que eventualmente os baháis de Portugal estão a falhar nestas questões…

Então vamos chamar mais andorinhas ? :-)

Anónimo disse...

Daniella,
O que eu me refiro são contradições nos ensinamentos baha’is. Por exemplo, fala-se de igualdade entre homens e mulheres, mas só os homens podem ser membros da Casa Universal de Justiça. Também é estranho que as escrituras baha’is admitam a aplicação da pena de morte. E quanto a homossexualidade, os baha’is discriminam tanto quanto a generalidade da sociedade. Além disto também há coisas incompreensíveis, como a necessidade de autorização dos pais biológicos para casar.

Quanto à tua resposta (Educação) é daquelas coisas teóricas que não dizem nada. Vamos educar os chineses que neste momento oprimem os tibetanos? Vamos educar os assaltantes que espalham o pânico nos subúrbios de Lisboa? A tua resposta é perfeitamente evasiva, como se percebe.

Anónimo disse...

Meu querido gh
Ao meu ver tudo neste mundo é relativo e a igualdade no seu sentido absoluto não existe no entanto acredito na equidade, embora parecem ter o mesmo significado mas na verdade são diferente.

Você fala da contradição de “igualdade entre homens e mulheres”, se me permitir eu corrijo: “igualdade dos direitos e deveres entre homens e mulheres”, eu não vejo o ser eleito para Casa Universal de Justiça como sendo direito ou dever de alguém;

“… é estranho que as escrituras baha’is admitam a aplicação da pena de morte”, se tirou isto do Livro Sagrado bahái então leia a continuação porquê “admite” mas deixa ao critério de Casa Universal de Justiça;

“E quanto a homossexualidade, os baha’is discriminam tanto quanto …”, Os bahais ou as leis baháis?
Sabe os baháis são de diferentes crenças e convicções e é evidente que ao se tornar bahái ainda guardam consigo os conceitos e os preconceitos anteriores. As mudanças acontecem gradualmente, auto-educando;

“…, como a necessidade de autorização dos pais biológicos para casar.”
Eu pessoalmente não chamo autorização mas sim consentimento. Basta olharmos a nossa volta para ver o número cada maior dos casamentos desfeitos, sem que tenham apoio sólido dos sogros (assim dizendo). Os pais de cada um toma a posição “a favor” do filho ou da filha e ao invés de ser a voz da consciência para promover a harmonia, na sua boa intenção, botam mais lenha na fogueira, pensando que estão a defender o filho ou a filha num casamento que na verdade desde principio não estavam a favor. Portanto este consentimento é para garantir a harmonia e o amor entre as duas famílias;

Quanto (Educação) meu querido, nunca pensei que você imaginasse que vamos por os chineses numa sala de aula para tentar educá-los.
Eu não acredito muito nos milagres deste género mas acredito no esforço... e, desculpe a palavra, na educação. :-/
A educação é gradual…
Quando você ensina ao seu filho uma série dos princípios, ele cresce moldando-se do mesmo jeito. Se ensina ele que as mulheres têm uma costela a menos, ele aprende isto e sempre coloca as mulheres num patamar a baixo e por mais que atesta as suas capacidades, na primeira oportunidade que tiver comete uma injustiça contra elas.
Portanto se torna orgânica…a EDUCAÇÂO. Olha uma planta, você semeia, rega, aduba, corta os ramos que vão tortos, …ao longo dos anos…
Se não fizer, logo logo entorta e vai aos subúrbios de Lisboa e espalha o pânico, a “planta” é claro.

Marco, peço desculpa por invadir o seu espaço para dar esta resposta perfeitamente evasiva ao GH…

José Fernandes disse...

Isto por aqui está a ficar bravo... querem ver que ainda se pegam... então os "rabos de palha" é valiam a pena serem notícia? Querem ver que voltamos aos forums norte-americanos dos anos '80 ? Onde é que eu já assisti a isto? Pois foi, foi mesmo nos USA até que foi necessário separar as águas e ter forums separados para Europa e os USA. Continuo a pensar que andamos, por aqui, a correr atrás da cauda... Quer-me parecer que o amigo/a ? GH gostaria de ver a sociedade gay a debater estes problemas e as mulheres a baterem-se por isto ou por aquilo... onde é que eu já vi isto.. pois foi, foi nos USA. Lá voltamos nós ao mesmo... Por acaso os Amigos já leram o livro "Quando o coração grita" de William Sears..., quer-me parecer que iam gostar de ler...
Um abraço.

Anónimo disse...

Algumas questões:

O casamento homossexual é aceite pelas leis baha’is? E pelos baha’is?

O que pode um baha’i fazer quando um dos seus pais biológicos (que pode estar há muito afastado dele) se opõe ao seu casamento apenas por casmurrice? Porque será que os pais biológicos contam mais do que os pais "de facto" (que podem ser diferentes)?

Porque é que os baha’is não emitem uma opinião oficial quando um regime totalitário (como o chinês) invade, ocupa, e coloniza outro país (o Tibete)? E porque é que só falam das perseguições que vocês são alvo?

Anónimo disse...

Quanta revolta me querido gh!!!
Pelo que percebi os baháis não anunciam nem emitem nada.
Seria a sua órgão máxima, CUJ, que faz este género de pronunciamento e até hoje sei de alguns, marcando a sua posição ou opinião sobre algo, como fez em alguns acontecimento mundial, mas tudo no geral sem apontar ninguém nem nenhum governo.
Os baháis não participam na política, eles não dão opiniões vazios só para dizer que estão aqui por isso o seu pronunciamento, no caso, seria expressar por ex. o seu desprezo em relação aos actos do regime totalitário e ditatorial sem mencionar algum governo específico.
Está claro?
Está a ver? Não são os indivíduos em causa, são as atitudes…
São as atitudes que fazem os indivíduos…
Tenta perceber meu querido.
Quanto às suas outras perguntas tem que perguntar à mesma órgão máxima pois muita coisa está deixada ao seu critério. Os baháis não decretam as leis, eles, também, perguntam quando têm algumas questões semelhantes.

Marco Oliveira disse...

GH,

O casamento homossexual é tão aceite pelos baha’is quanto as “uniões de facto”. Será que alguma vez ouvimos dizer que os baha’is discriminam quem vive em união de facto? Sobre este assunto recomendo esta história bem engraçada sobre a forma como os baha’is iranianos toleram a homossexualidade: It's good to be gay! (parte 1, parte 2, parte 3)

Eu nunca concordei com o facto dos pais deverem dar o consentimento para o casamento dos filhos. Sempre achei que se não tivesse esse consentimento casaria na mesma, mesmo que não tivesse cerimonia baha’i. Mas a verdade é que tudo correu bem. E os “velhotes” até se sentiram impressionados por exigirmos que ele dessem o consentimento; acabou por ser um ingrediente de maior união familiar. Ou seja: isto que parece pouco lógico, tem uma sabedoria que eu mal percebia.

Sobre a questão no Tibete, penso que qualquer pessoa com um pouco de bom senso condena a situação. Mas será que as instituições baha’is devem ir atrás das modas das condenações políticas. Ou seja: neste momento há uma crise no Tibete; várias organizações e governos internacionais manifestaram a sua preocupação; e não falta personalidades a mostrarem publicamente o seu desagrado pela situação. Destas manifestações públicas, quantas são sinceras e quantas são show-off? Deverão as instituições baha’is esforçar-se por aparecer na fotografia da política internacional? Todos os momentos são bons para mostrar solidariedade para com os tibetanos; e este momento ainda é melhor. Mas deverá isso ser feito à luz dos holofotes? A minha experiência como baha’i diz-me que a Casa Universal de Justiça não segue a política do show-off. O assunto é demasiado sério para isso.

Quanto a outros problemas sociais (e há vários que têm consequências profundamente revoltantes), devemos ter presente que a maioria dos governantes preconiza uma solução para amenizar as dores dos problemas; raros são os governantes que conseguem perceber as raízes dos problemas, e têm coragem ou meios para atacar essas raízes. Os problemas das sociedades modernas não se resolvem em legislaturas de 4 anos; são necessárias algumas gerações. E por isso referimos a necessidade da educação; só com educação conseguiremos a necessária mudança de mentalidades e a consequente transformação da sociedade.

Anónimo disse...

GH,
Uma das primeiras criticas que se costuma fazer à Fé Baha'i, tem a ver com o facto das mulheres não poderem ser eleitas para a Casa Universal de Justiça. é apontado como um exemplo de contradição com o princípio da igualdade de direitos entre homem e mulher. Mas porque é que quando se fala disso todos se esquecem que nos ensinamentos baha'is as mulheres são discriminadas pela positiva na questão da educação?

PS - Acho que nenhum baha'i se atreverá a dizer que tem direito a ser eleito para a CUJ. Se o disser, isso é de uma ignorância tremenda.