domingo, 27 de abril de 2008

A crise alimentar

Chamo a vossa atenção para o tema de fundo da edição de hoje do Público. Destaco dois excertos:

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Desta vez, não se trata de calamidades naturais ou guerras civis, mas de uma fome causada pela vertiginosa subida dos preços. Quem se revoltou não foram os 845 milhões que hoje sofrem de "malnutrição crónica", mas aqueles que não se resignam a nela cair e se batem pelo futuro dos filhos.

Os governos temem a generalização dos tumultos, pois mesmo que as ajudas sejam rápidas, as causas permanecem. E receiam, acima de tudo, o contágio das classes médias, também afectadas mesmo se de uma forma menos dramática. É que, nesse caso, se passaria do motim, à revolta social e política.

Os motins forçam os governos a tomar medidas: em muitos países o pão ou o arroz foram subsidiados; perante o alarme, os governos de países produtores suspenderam as exportações; em muitos, a tropa foi posta na rua, e guardar padarias ou armazéns de arroz; a comunidade internacional começou a organizar uma ajuda de emergência, enquanto se espera uma retoma da exportação de cereais pelos países que têm reservas.

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Países como as Filipinas, a Indonésia, o Egipto ou a Nigéria sabem que a sua segurança alimentar está ameaçada. Outros, como o Vietname, a Tailândia ou a Índia, os maiores exportadores de arroz, tratam de preservar as suas reservas de forma racional: têm de garantir o abastecimento e oscilam entre auxiliar os vizinhos, para segurança própria, ou maximizar o lucro. A redução das exportações funcionou como factor de perturbação, criando pânico e provocando uma situação crítica nos países importadores, dos africanos às Filipinas ou à Bolívia.

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Jorge Almeida Fernandes

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Mas, ao contrário dos óculos de sol e dos parafusos dos automóveis, o pão e o leite têm um valor primordial que os separa da categoria dos bens sujeitos às regras exclusivas do mercado – até a Wall Mart, um ícone do capitalismo global, restringiu a venda de arroz. Resolver a crise alimentar actual e garantir que no futuro haja menos pessoas a lutar pela sobrevivência é mais que um problema económico ou político. É, fundamentalmente, um imperativo moral.

Editorial assinado por Manuel Carvalho

4 comentários:

Anónimo disse...

o pior é que só vão ser pensadas (e não tomadas) medidas quando algum amigo de amigo americano não conseguir comprar arroz porque não o deixam comprar arroz para a festa que vai dar lá em casa.
até lá vão continuar a subir os preços do comer, vão continuar as pessoas a morrer à fome, vamos continuar a querer um carro melhor para ir jantar aquele restaurante XPTO com um "arroz" magnifico

João Moutinho disse...

Não sou tão pessimista quanto a "filha do administrador" no respeitante à tomada de medidas. Mas lá que podemos estar à bem de uma crise alimentar com as consequentes migrações, aí concordo.

Anónimo disse...

De lamentar, mais uma vez, que quem tem responsabilidades na protecção e bem-estar das populações não tome medidas pró-activas, evitando que situações destas (e doutras) dimensões aconteçam.
Deverão ser os motins a forçar os governos a tomar medidas, que frequentemente resultam em repressão, ou, pelo contrário, os governos evitarem a todo o custo estes descalabros sociais?
Parece-me que o "mais vale prevenir do que remediar" está invertido! Bem, talvez eu esteja a ver mal a coisa, talvez nem todos os ditados se apliquem universalmente...
Agora a ONU cria um grupo para responder à crise alimentar? Ok, esperemos os resultados!

Marcela Orraca disse...

Hola Marco.
Vi tu comentario en mi blog. Y bueno, pues esa es la informacion que a mi me dieron cuando me contaron sobre los baha'i. Pero estoy segura que tienes razon, y no es justo entonces que yo escriba sobre esto si no lo conozco de cerca. Por eso, para evitar malos entendidos o lo que sea, quité de la entrada en mi blog todas las referencias a los Baha'i. Gracias por las correcciones, siempre es bueno aprender algo nuevo.