quinta-feira, 3 de abril de 2008

Sam Harris e o Fim da Fé (7)


RELIGIÃO: PROGRESSO OU RETROCESSO?

No livro O Fim da Fé, Sam Harris critica as ortodoxias religiosas por fecharem a porta a “abordagens mais sofisticadas da espiritualidade”(p.23). É curioso que num livro onde abundam críticas violentas às religiões abraâmicas, se encontrem também apelos ao desenvolvimento de novas formas de espiritualidade, e ao progresso da religião. O contraste entre estas duas ideias é surpreendente.
O progresso da religião, como noutros domínios, deve ser uma questão de investigação no presente, e não uma mera repetição de doutrinas no passado. Aquilo que é verdade hoje deveria ser observável agora, e passível de descrever em termos não insultuosos em relação a tudo o resto que sabemos do mundo. Nesta medida todo o projecto se afirma retrógrado, já que não consegue resistir às mudanças que se operam em nós culturalmente, tecnologicamente e até eticamente. (p.25)

A maior parte daquilo que hoje consideramos sagrado só o é pela simples razão de assim ter sido considerado no passado (p. 27)

Não há nenhuma razão para que a capacidade de nos apoiarmos emocional e espiritualmente não evolua com a tecnologia, a política e a cultura em geral. Na verdade, a haver algum futuro para a humanidade, é forçoso que isso aconteça. (p.43)
Penso que a maioria dos Bahá'ís identificarão estas frases de Sam Harris com duas ideias chave: o progresso e a necessidade de livre (e independente!) pesquisa da verdade.

A nossa experiência colectiva enquanto espécie leva-nos a acreditar que as sociedades e as civilizações não conseguem progredir se a transmissão de conhecimento assentar na mera repetição de ideias e processos do passado. Também sabemos que as grandes evoluções em diversas áreas do conhecimento se deram quando se questionaram conceitos transmitidos. O que seria hoje a ciência se Copérnico ou Darwin não tivessem questionado as ideias do passado? Haveria liberdade ou democracia se os pais do Iluminismo não tivessem posto em causa as instituições tradicionais e os costumes da sua época?

Mas a evolução também existe na história das religiões. O aparecimento de cada religião constituiu um ponto de rotura com as religiões do passado; é nesse momento que se questionam dogmas, rituais, instituições e tradições; é também aí que se lançam as bases de uma nova etapa da evolução espiritual e social de um, ou mais, povos.

Nas palavras acima citadas encontro um apelo a que se ponham de lado os dogmas e tradições, e se investigue realmente o que existe na essência das religiões. É a defesa da livre e independente pesquisa da verdade; nesta matéria, não posso deixar de concordar com o autor d’O Fim da Fé.

Por outro lado, quando Sam Harris declara que "todo o projecto [religioso] se afirma retrógrado", leio nas suas palavras uma expressão de frustração pelo facto de muitas instituições religiosas não serem capazes de se adaptar à modernidade. É como se tivessem ficado cristalizadas nos seus dogmas e rituais, e de forma arrogante se proclamam detentoras exclusivas de verdades absolutas.

Não creio que todo a religião seja retrógrada. Prefiro antes acreditar que todo o projecto religioso tem o seu tempo. É como uma planta. A semente germina, surge uma pequena planta, que ao longo do tempo crescerá, dará os seus frutos, e por fim definhará e acabará por morrer. Acontece com todas as religiões. Incluindo a minha.

2 comentários:

Héliocoptero disse...

Sem tirar nem pôr! Pelo menos que me ocorra...

Anónimo disse...

Fica-se então com a ideia que este senhor não tem ideias fixas. Ou que anda à prcura de alguma coisa.

Se o tipo se tornar baha'i quero ver a vossa cara!