terça-feira, 28 de outubro de 2008

Diáspora

Aqui fica a tradução de excertos de um comovente artigo de autoria de Asha Shahir sobre as dezenas de bahá’ís que semanalmente abandonam o Irão, através da linha férrea Teerão-Istambul. É uma perspectiva pouco conhecida sobre a diáspora dos Bahá'ís iranianos. O texto (que merece ser lido na íntegra) foi publicado no jornal online Payvand e no Radio Free Europe. As fotos surgiram no mesmo artigo.
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Bahá'ís tomam o comboio para Istambul e abandonam o Irão


Todas as quintas-feiras de madrugada membros de uma das mais ostracizadas minorias religiosas do Irão reúnem-se na estação de comboio de Teerão.

Com olhos ansiosos e lacrimosos, estão ali para se despedir de parentes e amigos bahá’ís que decidiram desenraizar-se definitivamente e apanhar o comboio das 8H00 em direcção a uma nova vida na Turquia.

A sala de espera da Estação de Teerão

A linha Teerão-Istambul tem uma periodicidade semanal desde há 12 anos; cada viagem leva baha’is que fogem à discriminação com que vivem no Irão.

A maior minoria religiosa do país, os Baha’is, têm enfrentado a discriminação desde que a sua religião foi fundada, naquilo que é hoje o Irão, no século XIX.

Mas a República Islâmica do Irão conseguiu tornar as coisas piores. A nova Constituição não deu qualquer reconhecimento oficial à fé, vista como uma falsa religião pelo novo regime. O aumento da perseguição e hostilização levou muitos dos 300.000 Baha’is do Irão a considerar as suas opções, e durante os últimos 30 anos um grande número destes decidiu partir.

Esta noite, aproximadamente 200 passageiros vão viajar para a Turquia. Dezenas deles são Bahá’ís só com um bilhete de ida.

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Pouco antes do embarque

Se Eu Pudesse Ficar

Durante a viagem, um número superior a 80 bahá’ís concorda falar sob anonimato sobre os motivos para deixar o Irão.

"Após a revolução classificaram-me como redundante no Ministério da Educação e tive de alugar uma loja de cosméticos. Durante 10 anos estive bem, até que declararam a minha licença comercial como nula e sem efeito", diz um homem.

"Agora as minhas duas filhas estão mais velhas e querem continuar os seus estudos. E como não as posso deixar ir sozinhas, toda a minha família teve de partir", explica.

"Vendemos tudo o que tínhamos e não queremos voltar ao Irão. Pensamos ficar a viver em Kayseri [Turquia] durante algum tempo até as Nações Unidas ou a Comunidade Bahá’í fazerem alguma coisa por nós", afirma.

"Trouxemos algumas coisas para não termos de pagar mais por elas na Turquia. Não é certo quanto tempo vamos ter de ficar ali – um ano, 10 meses – e como provavelmente não vou conseguir encontrar imediatamente um emprego, também trouxemos arroz e óleo de cozinha", acrescenta.

Perguntei porque é que a sua família tinha decidido viajar de comboio.

"Certamente que não podíamos ter trazido tudo isto num avião", afirma referindo-se ao excesso de bagagem da família. "O comboio é mais barato que o avião, e para em Kayseri".

A família pagou 700 USD pelos bilhetes de comboio, uma quantia que é um peso significativo para esta e outras famílias.

"Todos nós aqui no comboio temos rendimentos relativamente baixos e temos estado sob tanta pressão ao longo dos anos que temos pouco dinheiro", afirma. "Mesmo agora que vamos para Kayseri, todos temos esperança em Deus, porque sabemos que temos dias duros à nossa frente."

"Se ao menos que pudesse ficar no Irão e viver como as outras pessoas..." lamenta-se.

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O último adeus

Uma Mãe Derrotada

Com os olhos cheios de lágrimas, uma mulher no comboio apresenta-se assim: "Desde o primeiro dia da minha vida que tenho vivido em amargura e agonia. Devido ao amor pelo meu país nunca pensei em partir".

Trabalhou como costureira desde que se casou há 27 anos para ajudar o marido – que trabalha como taxista apesar de ter um diploma universitário – a trazer comida para casa.

"Fizemos tudo o que podíamos para manter os nosso filhos no Irão e para os ver bem sucedidos na vida", diz ela. "Mas devo confessar que toda a pressão fez de mim uma falhada. Sinto-me completamente derrotada".

Apesar de ter feito o que podia para evitar partir, tudo mudou quando a filha lhe veio dizer que estava a planear deixar o Irão.

"Nos cinco ou seis meses seguintes tentei demovê-la, mas por fim tive que desistir, porque percebi que ela tinha razão na sua decisão. Mas, acredite-me, até neste momento, o meu coração e a minha alma pertencem ao Irão."

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Artigo completo: Iran's Baha'is Leave Persecution Behind On Train To Istanbul (Payvand) (também no RFE)

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