terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Apenas libanês!



Segundo divulgou hoje a BBC, o governo libanês publicou um decreto que permite aos cidadãos libaneses eliminar o registo da sua filiação religiosa dos bilhetes de identidade. A notícia pode parecer irrelevante para o mundo ocidental, mas para um país onde coabitam diversas religiões e onde a religião é um importante factor de identificação pessoal da maioria dos cidadãos, esta medida tem um impacte muito positivo.

Durante a guerra civil (nos anos 1970 e 1980) diferentes milícias associadas às diversas comunidades religiosas colocavam checkpoints e pediam aos transeuntes que mostrassem os respectivos bilhetes de identidade. Nesses dias era frequente ver pessoas abatidas apenas porque mostravam documentos que revelavam a religião “errada”.

Um cidadão libanês afirmou à BBC: "Esses bilhetes de identidade mataram imensas pessoas. Agora quero ser visto apenas como libanês. Não um libanês-cristão, não um libanês-muçulmano, mas apenas como libanês."

Apesar de todo o simbolismo deste decreto, a vida política e social libanesa ainda continua regida por fronteiras sectárias bem definidas. Um muçulmano sunita pode ser primeiro-ministro, mas nunca Presidente (essa é uma posição reservada aos cristãos maronitas); o presidente do Parlamento apenas pode ser um muçulmano xiita. E mesmo quando um libanês se deseja casa, divorciar, registar um nascimento ou um falecimento, deve dirigir-se aos tribunais da sua comunidade religiosa. Tribunais civis é um conceito que ainda não existe no Líbano.

Assim, o decreto do Governo Libanês pode ser apenas simbólico. Mas nem por isso deixa de ser importante. Merece o nosso aplauso e devia ser seguido por outros países do Médio Oriente, nomeadamente... o Egipto.

1 comentário:

Anónimo disse...

O que interessa é que haja abertura mental para que tais pequenos grandes passos se comecem a dar.
Exemplos destes alimentam a esperança de uma mudança positiva.
Parabéns, Líbano!