quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Charles Darwin

Para comemorar o 200 anos do nascimento de Charles Darwin, a revista Veja dedicou o seu número de 11 de Fevereiro ao prestigiado naturalista inglês. Recomendo vivamente a leitura destes artigos e deixo aqui alguns excertos (sublinhados são da minha responsabilidade).
------------------------------------------------------------




Charles Darwin é um paradoxo moderno. Não sob a ótica da ciência, área em que seu trabalho é plenamente aceito e celebrado como ponto de partida para um grau de conhecimento sem precedentes sobre os seres vivos. Sem a teoria da evolução, a moderna biologia, incluindo a medicina e a biotecnologia, simplesmente não faria sentido. O enigma reside na relutância, quase um mal-estar, que suas ideias causam entre um vasto contingente de pessoas, algumas delas fervorosamente religiosas, outras nem tanto. Veja o que ocorre nos Estados Unidos. O país dispõe das melhores universidades do mundo, detém metade dos cientistas premiados com o Nobel e registra mais patentes do que todos os seus concorrentes diretos somados. Ainda assim, só um em cada dois americanos acredita que o homem possa ser produto de milhões de anos de evolução. O outro considera razoável que nós, e todas as coisas que nos cercam, estejamos aqui por dádiva da criação divina. Mesmo na Inglaterra, país natal de Darwin, o fato de ele ser festejado como herói nacional não impede que um em cada quatro ingleses duvide de suas ideias ou as veja como pura enganação. Na semana em que se comemora o bicentenário de nascimento de Darwin e, por coincidência, no ano do sesquicentenário da publicação de seu livro mais célebre, A Origem das Espécies, como explicar a persistente má vontade para com suas teorias em países campeões na produção científica?

(...)

Outros pilares da ciência moderna, como a teoria da relatividade, de Albert Einstein, não suscitam tanta desconfiança e hostilidade. Raros são aqueles que se sentem incomodados diante da impossibilidade de viajar mais rápido que a luz ou saem à rua em protesto contra a afirmação de que a gravidade deforma o espaço-tempo. Evidentemente, o núcleo incandescente da irritação causada por Darwin tem conotação religiosa. A descoberta dos mecanismos da evolução enfraqueceu o único bom argumento disponível para a existência de Deus. Se Ele não é responsável por todas essas maravilhas da natureza, sua presença só poderia ser realmente sentida na fé de cada indivíduo. Mas isso não explica tudo. Em 1920, ao escrever sobre o impacto da divulgação das ideias darwinistas, Sigmund Freud deu seu palpite: "Ao longo do tempo, a humanidade teve de suportar dois grandes golpes em sua autoestima. O primeiro foi constatar que a Terra não é o centro do universo. O segundo ocorreu quando a biologia desmentiu a natureza especial do homem e o relegou à posição de mero descendente do mundo animal". Pelo raciocínio do pai da psicanálise, a rejeição à teoria da evolução seria uma forma de compensar o "rebaixamento" da espécie humana contido nas ideias de Copérnico e Darwin.

(...)

A ciência não tem respostas para todas as perguntas. Não sabe, por exemplo, o que existia antes do Big Bang, que deu origem ao universo há 13,7 bilhões de anos. Nosso conhecimento só começa três minutos depois do evento, quando as leis da física passaram a existir. Os cientistas também não são capazes de recriar a vida a partir de uma poça de água e alguns elementos químicos – o que se acredita ter acontecido 4,5 bilhões de anos atrás. A mão de Deus teria contribuído para que esses eventos primordiais tenham ocorrido? Não cabe à ciência responder enquanto não houver provas científicas do que aconteceu. O fato é que a luta dos criacionistas contra Darwin nada tem de científica. Em sua profissão de fé, eles têm o pleno direito de acreditar que Deus criou o mundo e tudo o que existe nele. Coisa bem diferente é querer impingir essa maneira de enxergar a natureza às crianças em idade escolar, renegando fatos comprovados pela ciência. Essa atitude nega às crianças os fundamentos da razão, substituindo-os pelo pensamento sobrenatural.

2 comentários:

alexbr82 disse...

Acho muito interessante esse artigo , numa altura apropriada, que é esta dos cento e cinquenta anos do nascimento de Darwin! Gostaria de partilhar que Darwin fez uma analogia muito interessante em relação aos seres vivos. Disse que a evolução poderia ser compreendida como uma árvore de onde se ramificavam todas as espécies actuais.
E o tronco representaria as espécies ancestrais de nos deram origem. É interessante notar que Bahá'u'lláh fala em relação á sua família da mesma forma, onde ele era o tronco e os seus descendentes os ramos. Outra coisa interessante é que na visão do Cristianismo o ser humano é uma criatura física que surgiu espontanêamente através do criador, o que pode levar a tantas pessoas se oporem à teoria da evolução, porém na fé baha'í vemos a evolução como algo verdadeiro e necessário.
Alguns autores baha'ís argumentam que o ser humano teve uma criação de um ponto de vista essencial e não do aspecto exterior. Que desde o momento em que surgiu essa nova espécie verificaram-se as condições necessárias para um "ligação" do espírito ao corpo. Isso poderia ser uma teoria para a explicação de que os nossos genes e constituição vieram dum ancestral comum com os chimpanzés e bonobos porém na nossa essência somos uma "criação nova", um ser completamente diferente, capaz de reflectir meditar e trazer ao mundo todas essas ciências e artes.

Anónimo disse...

"Em sua profissão de fé, eles têm o pleno direito de acreditar que Deus criou o mundo e tudo o que existe nele."

Esta ideia que é apenas fé contra ciência é talvez a maior falácia que nos querem impingir. Os modernos criacionsistas também têm formação científica e põem a nu os buracos e contradições do evolucionismo. A sua teoria não melhor que o evolucionismo? Talvez. Mas para aceitar o evoluciocionismo também é preciso um boa dose de fé.