quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O Espaço Sagrado

No livro Cristo Filósofo, Frederic Lenoir dedica várias páginas (p.228-239), ao episódio de Jesus e a Samaritana (João 4:5-27). Nesse episódio há um diálogo onde o autor encontra diversos significados simbólicos que considera de extrema importância para o Cristianismo. Há um pequeno excerto do diálogo que merece atenção:
Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que é em Jerusalém o lugar onde se deve adorar.
Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me que a hora vem, em que nem neste monte nem em Jerusalém adorareis o Pai.
Vós adorais o que näo sabeis; nós adoramos o que sabemos porque a salvaçäo vem dos judeus.
Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adoraräo o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
(João 4:19-25)
Temos aqui de ter presente que a noção de espaço sagrado está nos pilares de qualquer religião. Desde o início dos tempos que os homens religiosos procuraram sacralizar espaços: se nos tempos pré-históricos, esses espaços podiam ser grutas, fontes, ou montanhas, com as religiões monoteístas passam a ser cidades santas (Jerusalém, Roma, Meca, Benares, Constantinopla,...) e edifícios (igrejas, sinagogas, mesquitas, pagodes,...). Os próprios crentes têm necessidade de acreditar que o espaço (ou seja, a tradição religiosa) onde encarna a sua fé é o único que é verdadeiro, ou, na pior das hipóteses. Isto é muito humano.

Se considerarmos que, para os Judeus o culto em Jerusalém fazia parte da sua identidade religiosa, tal como para os Samaritanos o culto no monte Garizim era elemento integrante da sua fé, então poderemos encontrar neste diálogo questões como “Onde se deve adorar a Deus” e “Onde está a verdadeira religião?”

A resposta de Jesus destrói a pretensão de qualquer religião ser o lugar da verdade. Jesus relativiza a identificação religiosa com um espaço sagrado; o espaço de encontro com o divino passa a ser o próprio ser humano. O local de adoração é secundário; o que importa verdadeiramente é a espiritualidade interior. Podemos aqui entender que nenhuma religião se pode afirmar superior a outra.

Nas Escrituras Baha’is encontramos um texto cuja mensagem podemos considerar complementar deste diálogo de Jesus com a Samaritana.
Bem-aventurado é o lugar, a casa e o coração,
e bem-aventurada a cidade, a montanha, o refúgio,
a caverna e o vale, a terra e o mar, o prado e a ilha,
onde se haja feito menção de Deus e celebrado Seu louvor.
Interpretando este pequeno texto com os mesmo critérios que lemos o texto bíblico, percebemos que a diversidade de lugares também pode ser identificada com a diversidade de espaços sagrados que as sociedades humanas já produziram. E se eles se identificam com uma religião, então estamos na presença de uma elogio à diversidade religiosa.

Também é importante notar que entre os lugares sagrados referidos por Bahá'u'lláh, se encontra o coração humano, algo que vem de encontro às palavras de Jesus que apontava o próprio ser humano como espaço de encontro com o divino.

Assim podemos entender que Jesus afirma que nenhuma religião tem o exclusivo da Verdade; e Bahá’u’lláh acrescenta que todas são igualmente válidas.

2 comentários:

Anónimo disse...

"o que importa verdadeiramente é a espiritualidade interior."

Tipico bahai. Então "a salvação vem dos judeus" e o que importa é a espiritualidade. Repara, os samaritanos estavam errados e os judeus certos. Cristo não apela a nenhuma "espiritualidade". Ele apresenta a nova religião, a Sua, que permitirá ir directamnente a Deus, através Dele. E deixa de haver lugares sagrados, lugares onde Deus está para ser visitado. A mensagem é simples. Só complica, inventa, quem se sente incomodado por ela.

Marco Oliveira disse...

Claro que a mensagem é simples; e só se sente incomodado quem imagina possuir o exclusivo da verdade.