sexta-feira, 6 de março de 2009

Jürgen Habermas



Geoffrey Cameron - que tem um dos melhores blogs baha’is do momento - chama hoje a atenção para um debate de ideias entre Jürgen Habermas e Paolo Flores d'Arcais sobre o papel na religião na esfera pública. Na resposta à critica secularista das suas ideias, Habermas, entre outras coisas, afirma
Os que são secularistas assumem uma atitude polémica em relação à influência das doutrinas religiosas. Aos seus olhos, as doutrinas religiosas estão desacreditadas porque não têm fundamentos científicos. No mundo anglo-saxónico, o secularismo de hoje invoca um naturalismo "hard" que afirma que as ciências naturais devem gozar do monopólio do conhecimento socialmente aceite. Vejo este cientismo como pura ideologia.
Habermas argumenta que os estados seculares necessitam que as religiões se expressem na esfera pública, se se deseja enfrentar o assalto moral do capitalismo. Designa as religiões como "comunidades interpretativas" que promovem deliberações sobre questões essenciais relacionadas com os propósitos humanos, valores sociais e bem público:
As nossas sociedades hiper-capitalistas - que recompensam apenas o foco no sucesso individual - são cada vez menos sensíveis as patologias sociais, ao falhanço dos planos de vida individuais, e à deformação de mundos de vida. … Quando chegamos ao choque de valores que têm de ser politicamente regulados, as nossas sociedades pluralistas (do ponto de vista ético e religioso) mostram-se cada vez mais divididas. É por isso que as comunidades interpretativas, que pelo menos ainda são capazes de apresentar contribuições articuladas para questões reprimidas sobre a forma de viver juntos em solidariedade, podem fazer-se ouvir tão fortemente nelas… Sobre áreas vulneráveis da vida sócia, as tradições religiosas têm a força convincente de articular as instituições morais na sua própria linguagem.
Habermas salienta que as religiões hoje enfrentam um desafio que consiste em procurar um discurso partilhado sobre as necessidades das comunidades onde se inserem. É natural que a alienação e o obscurantismo, a que algumas religiões parecem propensas, alimentem as suspeitas. Mas não é menos verdade que as sociedade plurais e democráticas proporcionam o desafio e a oportunidade para as comunidades religiosas se envolverem de forma aberta e crítica nas preocupações públicas.

5 comentários:

Anónimo disse...

Agradeço a referência ao blog de Geoffrey Cameron. A avaliar pelos temas a que acedi e embora numa leitura superficial, pareceu-me de grande qualidade.
Gostaria de ver "povodebaha.blogspot.com" mencionado na sua lista de "Bahá'i Sites".

Marco Oliveira disse...

É mais fácil eu ler inglês do que ele ler português...

Anónimo disse...

Marco,
Quando muito ele só teria de copiar as letrinhas (e a únicas palavras em português seriam "povo de")... ;-)
Seria uma forma de, através do blog dele, mais lusos ou luso-qualquer-coisa chegarem ao seu.

Marco Oliveira disse...

Essas coisas não são suficientemente grandes para mexer com o meu ego...
:-)

Anónimo disse...

Marco, trazer para aqui Habermas, é forte.
O agir comunicativo dele é uma personificação da tal CNV (Comunicação Não Verbal) de que falo.
"... mas é precisamente a relação dialéctica de simbolização linguística, de trabalho e de interacção que determina o conceito do espírito." Jürgen Habermas.

Mas deixa lá o teu self sossegadito e põe lá o blog no sítio do "Bahá'í Sites".
Um abraço.