quinta-feira, 30 de abril de 2009

Otto von Bismarck


Foi recentemente publicada em Portugal uma biografia de Otto von Bismarck, de autoria de A.J.P. Taylor (Edições 70). A obra descreve a vida política de um dos mais influentes políticos europeus do século XIX, reconhecido como o fundador da Alemanha moderna, e recordado como primeiro-ministro da Prússia e primeiro Chanceler do Império Alemão.

O que me parece ser um resumo da sua postura na vida política encontra-se nas seguintes palavras do autor:
Nunca se comprometeu irrevogavelmente com nenhum rumo. Em política externa, as suas alianças conduziam frequentemente a guerras e as suas guerras foram prelúdios de alianças. A aliança com a Áustria, em 1864, levou à guerra com a Áustria , em 1866; por sua vez, esta guerra deu origem à aliança com a Áustria-Hungria, em 1879 – uma aliança que talvez se tivesse desfeito se Bismarck tivesse permanecido mais tempo no poder. À quase aliança com a França, em 1866, seguiu-se a guerra de 1870 e não foi por culpa de Bismarck que o conflito não conduziu a uma aliança renovada, em 1877, ou mais tarde, entre 1883 e 1885 – com um novo período de hostilidade em 1886. A Itália foi o único aliado contra o qual Bismarck não entrou em guerra, o que se deveu apenas à falta de oportunidade – as suas frases foram frequentemente bastante hostis. Nos assuntos internos, foi a mesma coisa. Bismarck equilibrou-se entre rei e parlamento, depois entre imperador e Reichstag, manipulando-os um contra o outro. Estava sempre pronto para dizer ao Reichstag que a sua responsabilidade era exclusivamente para com o imperador - «o meu único constituinte» - e avisou os políticos que nem sequer lhe podiam baixar o salário – estava consagrado na constituição e ele defendê-lo-ia em tribunal. As coisas eram muito diferentes quando Bismarck ia à corte. Nessas ocasiões, insistia que o imperador devia aceitar a vontade do Reichstag - interpretada por ele, é claro. (162-163)
Bismarck era o homem por detrás das políticas de Guilherme I, o Kaiser alemão a quem Bahá'u'lláh se dirigiu numa das Suas Epístolas. E se percebermos o que foi a influência do Bismarck nas políticas de Guilherme I, torna-se claro que muitas das advertências dirigidas pelo fundador da religião Baha’i eram, na verdade, destinadas ao próprio Bismarck.

A ler.

11 comentários:

Carlos Moreira disse...

Bismarck era defensor da política do mais forte. Quem tem mais poder prevalece. Qualquer traço de preocupação ética que ainda poderia existir em decorrências das tradições monarquicas,sempre preocupadas com aspectos de legitimidade, foram esquecidas. Era a realpolitik que dava o tom da política externa e que assegurava a integração germânica a qualquuer custo. Foi neste ambiente conturbado que Bahá'u'lláh emitiu epístolas advertindo os monarcas de seguirem suas vãs fantasias e se prepararem para aquilo que poderia assegurar um futuro de paz. Ouvidos surdos. Os olhos testemunharam aquilo que trouxe guerras e ruínas.

Diogo disse...

And now, for something completely different:

Barack Obama repudiou o cristianismo e está a converter-se ao Islão.

Jon Stewart, do Daily Show, explica-nos, com humor, como os Media nos EUA dão a entender que Barack Obama é um muçulmano encapotado.

VÍDEO legendado em português

Marco Oliveira disse...

Diogo: essa é muito boa! :-)

Marco Oliveira disse...

Carlos,
A história mostra o que têm sido os resultados destes modelos de fazer política sem escrúpulos.

Pedro Fontela disse...

Eu lamento dizer que quem tenha ilusões que as coisas mudaram está redondamente enganado... lá porque se arranjam desculpas humanitárias para as massas comerem não quer dizer que a essência das relações humanas tenha mudado, ou que vá mudar no futuro.

Marco Oliveira disse...

Pedro,

O que aconteceu desde os tempos do Bismarck? Muita coisa, não é verdade?

Na verdade, se analisarmos friamente até podermos concluir que muita coisa mudou.
Naquele tempo os destinos da humanidade estavam nas mãos de uma dúzia de famílias reais; hoje, uma parte significativa da humanidade pode escolher os seus governantes.
A esperança de vida aumentou, a alfabetização alargou-se, os cuidados de saúde estenderam-se... em resumos, os níveis de bem-estar aumentaram.

E quando falas de relações humanas falas de quê? No tempo do Bismarck, os jornais amaldiçoavam os povos estrangeiros, fazendo eco das políticas dos regimes políticos. E Hoje? Será que apesar de todas as vicissitudes, a imprensa que temos hoje, não é melhor do que era antigamente? O Bismarck criou um sistema de segurança social para alargar a sua base de apoio político; hoje os benefícios da segurança social são considerados um direitos para um vasto número de cidadãos.

Se é óbvio que evoluímos e que hoje vivemos melhor do que no passado, porque é que havemos de pensar que o futuro será pior (mesmo que os próximos anos sejam muito complicados)?

Carlos Moreira disse...

Marco,

A humanidade tem sede de justiça. Esta foi sempre sua esperança. Aqueles que têm influenciado as políticas de governo e estado trazem argumentações para fazer prevalecer suas decisões e atitudes sob esta bandeira. Os meios por vezes são apenas detalhes - como resultado a justiça se torna uma eterna disputa de forças. O elemento que falta no quebra-cabeça da história humana é a percepção da unidade na diversidade. Mais do que um simples sentimento: uma redifinição das relações entre os indivíduos e entre os Estados,conforme aponta Shogui Effendi.
Acredito, como você, que esse processo está em marcha.

Pedro Fontela disse...

Marco,

Sem dúvida que os níveis de bem estar aumentaram mas todos esses benefícios têm pequenos detalhes… as elites mantiveram-se mas o primado do político perdeu-se para o poder económico criando uma situação que do meu ponto de vista é ainda mais perversa do que a que existia pré-primeira grande guerra – as escolhas são tantas vezes apenas ilusórias que é de duvidar que se possa argumentar que temos mais escolhas reais do que tínhamos há um século. A explosão de informação resultou na cacofonia em que o que impera é a desinformação geral em que ninguém tem a mais leve ideia do que realmente se passa em cada área mas com a agravante que todos nos julgamos grandes sábios sobre todos os temas e exigimos que a nossa opinião seja tomada em conta abafando as vozes dos que realmente percebem de cada tema (necessariamente são uma minoria que não pode prevalecer).

Quando falo de relações humanas falo das permanentes. Tal como sempre existiu e vai existir amor (erótico ou não) também irá sempre existir o impulso para o poder, pode é ser canalizado de formas diferentes menos agressivas e como tal limitando os estragos. As nações continuam no seu eterno jogo de obtenção de proeminência e continuaram até à extinção da espécie, em Portugal como estamos a cair na anarquia e na falta de objectivos nacionais convencemo-nos que os outros também não os têm e que estão cheios de boas intenções – erro crasso que estamos agora a começar a pagar – aliás Bismarck percebeu isso e tentou acima de tudo fazer duas coisas: 1) Criar a Grande Prússia e 2) Manter a estabilidade das grandes potências; os seus sucessores alemães não tiveram foi o calibre para manter o que ele criou . A imprensa hoje responde perante o mesmo poder que deslocou o político o que a torna uma arma na melhor das hipóteses caótica e na pior um instrumento de mentira sistemática. Por isso não concordo que a imprensa tenha melhorado, simplesmente o seu controlador mudou e como tal os alvos a atingir também.

Isso da questão do progresso depende da perspectiva de cada um… eu não o considero uma linha de progressão inquebrável (penso que seria demasiado ingénuo pensar que o pouco que foi alcançado não pode ser destruído), aliás vejo-o como algo relativamente frágil em alguns pontos e dadas as evoluções do sistema político e económico tenho grandes dificuldades em vislumbrar esse futuro radioso que vocês falam – isso é milenarismo versão não cristã.

Marco Oliveira disse...

Pedro,
As sociedades estão a torna-se mais complexas, e as nossas análises nem sempre são fáceis. É verdade que hoje o poder económico é uma ameaça para o poder político; Mas acredito que - inevitavelmente - iremos encontrar uma forma de corrigir essa situação. E depois, enfrentaremos outros problemas que provavelmente hoje não conseguimos imaginar. A linha de progresso não é linear; por vezes, as sociedades dão alguns passos atrás, antes de iniciarem uma nova etapa de progresso.

E agora uma provocação: se vês o passado como tenebroso, o futuro como sombrio, então como te orientas no presente?

João Moutinho disse...

Não estou muito de acordo com a Epístola de Bahá'u'lláh também poder ser dirigida ao Bismark.
Para todos os efeitos só havia um "Rei de Berlim" e quando esse Rei mudou o Bismarck deixou de ser chanceler.
Ou seja, o seu a seu dono.

Pedro Fontela disse...

Marco,

Provoca à vontade :)

A imagem que descrevi pode não ser muito simpática mas penso que está relativamente perto da realidade e para mim isso é o suficiente. Dada a situação bastante complicada em que estamos metidos eu vejo o futuro mais como uma série de opções pelo "mal menor" até que se consiga retomar uma certa ordem e autonomia.