domingo, 5 de abril de 2009

A propósito da cimeira dos G-20



Num artigo publicado no semanário Expresso, o Presidente dos Estados Unidos escreve:
Eu sei que a América tem a sua quota de responsabilidade pelo caos com que hoje todos nos defrontamos. Mas também sei que não precisamos de escolher entre um capitalismo caótico e implacável e uma economia opressiva dirigida pelo Estado. Essa é uma falsa alternativa que não servirá o nosso país nem qualquer outro país. Esta reunião do G-20 é um fórum para um novo tipo de cooperação económica global. Este é o momento de trabalharmos em conjunto para restabelecer o crescimento sustentado, que só pode vir de mercados abertos e estáveis que utilizem a inovação, apoiem o empreendedorismo e promovam a oportunidade.
Acompanhei com atenção a reunião do G-20 e as decisões que dali saíram. A primeira coisa que me agrada é que se alargou o conjunto de países com reconhecida influência na economia mundial. É certo que muitos outros ficaram de fora (e o Presidente Obama referiu esse aspecto), mas a verdade é que é preferível que as decisões de fundo que influenciam a economia mundial sejam tomadas por vinte países e não apenas por oito. As decisões tomas criaram uma onda de optimismo nos mercados, e foram bem recebidas por analistas políticos e económicos; resta saber se serão suficientes.

Há quem acredite que é necessário um colapso total do sistema político e económico mundial, antes de conseguirmos iniciar a construção de uma nova ordem mundial com o envolvimento de todos os governos e povos do mundo. Não consigo acreditar nisso; na minha opinião, estamos a assistir à actuação simultânea de um processo de desintegração da velha ordem mundial, e outro de construção. E parece-me óbvio que a crise económica que vivemos faz parte do processo de desintegração, e a importância que agora se atribui ao G-20 (em detrimento do G-8) é um pequeno passo no processo de integração.

É óbvio que não sabemos até onde poderá ir (e que consequência poderá ter) o processo de desintegração; mas podemos perceber que existem iniciativas que exigiram uma grande vontade política na reforma das instituições mundiais que actualmente influenciam o mundo. Num organismo como o FMI, fará sentido que os Estados Unidos ainda possuam direito de veto? E que dizer do Conselho de Segurança das Nações Unidas? Que sentido faz que ainda existam países com direito de veto? Que sentido faz que países com crescente peso político e económico no palco internacional, como o Brasil e a Índia, não sejam membros permanentes desse organismo?

As exigências do processo de integração são tremendas. Esperemos que assim que se verificarem os primeiros sinais de atenuação da actual crise mundial, as vozes do situacionismo não ganhem força. O pior que nos podia acontecer, era sairmos desta crise e ficarmos numa situação semelhante em que estávamos quando ela se iniciou.

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