sexta-feira, 19 de junho de 2009

Porque é que a Modernidade surgiu no Ocidente?

No livro Cristo Filósofo, Frederic Lenoir escreve:
Porque será que aquilo a que chamamos «modernidade» não teve lugar em outro lugar - na China, na Índia ou no Império Otomano, por exemplo - e num outro período da História? A questão é crucial. A modernidade ocidental e os seus principais componentes - razão crítica, autonomia do sujeito, universalidade, laicidade - apenas puderam desenvolver-se no seio de um mundo específico que reunia todos os factores passíveis de propiciar que tais componentes eclodissem e se ligassem entre si. Ora, historicamente, este mundo específico foi o mundo cristão. E por mais paradoxal que isso possa parecer à primeira vista, de tal forma o espírito moderno e as instituições religiosas se opuseram que a Modernidade só pôde desenvolver-se ao termo de um longo processo de amadurecimento no seio da sua própria matriz religiosa - o Cristianismo - e, depois, de emancipação e viragem contra ela. O essencial da história do Ocidente resume-se a este espantoso encadeamento de factos.(p. 163)
COMENTÁRIO:
O título deste post é um tema de reflexão demorada de Frederic Lenoir. E penso que é um tema merecedor de reflexão por parte de todas as pessoas que estudam o fenómeno religioso. Aqui ficam algumas considerações:

1 - O facto dos valores da modernidade terem surgido no Ocidente, como herança ou fruto do Cristianismo, isso não significa que não pudessem ter aparecido noutro lugar. Parece-me mais correcto dizer que noutros tempos e noutros lugares não se proporcionaram as condições para que isso acontecesse.

2 - Noto que Frederic Lenoir tem o cuidado de nunca considerar que as religiões não-cristãs foram obstáculos ao surgimento da modernidade; o importante é o conjunto de circunstâncias históricas e a sucessão de acontecimentos. Nas Escrituras Baha’is refere-se que todas as religiões surgiram com potencial para transformar a humanidade. Mas esse potencial acabou por não se revelar, devido à distorção dos ensinamentos originais dessas religiões.

3 - O facto dos valores da modernidade terem raízes no mundo Ocidental, marcado pela cultura cristã, isso não nos pode levar a deduzir que o Cristianismo seja superior às outras religiões. Se alguém for tentado por esse raciocínio, lembro que estes valores da modernidade surgem como resultado de um “longo processo de amadurecimento”. Na Fé Bahá'í, esses valores são um ponto de partida, na medida em que se encontram entre os ensinamentos de Bahá'u'lláh. E isso não acontece porque a Fé Bahá'í seja superior a outras religiões, mas antes, porque os seus ensinamentos são adequados à nossa maturidade e necessidades dos tempos actuais.

5 comentários:

O Vizinho do Lado disse...

A modernidade foi fruto de muitos passos na civilização ocidental, e mais importante que a religiao cristã, foram por exemplo a revolução industrial, os filosofos gregos, a arte renascentista ou o imperio romano. O sul da Europa apesar de cristão não foi impulsionador da modernidade. A religiao crista contribuiu para a modernidade, mas de longe, não é o seu principal motor.

José Fernandes disse...

E se chamassem as coisas pelos seus nomes em vez das erudições bacocas como: Modernidade, Pós-Modernidade e Hodiernidade?
Enfim... só coisas que'ma atormentam.
E por que é a água corre para o mar...?
Sempre me pareceu que os pseudo-filósofos e afins se quiseram apropriar do Cristo para as suas fileiras.
E porque é que todas as religiões nasceram no Oriente?
Qualquer dia ainda apresentam O Báb e Bahá'u'lláh como apenas mais dois filósofos do século XIX.
Como eu gosto de filosofar lembro-me sempre de Alguém que disse:"Afastai-vos daquelas artes e profissões que começam com palavras e acabam com palavras".
Pois, cá para mim, ninguém me tira da cabeça que os filósofos são isso mesmo: "empesan con charlas e terminan con charlas."
Porque será que isto traduzido para bom português dá, pura e simplesmente, CHARLATÃES.
Tenho, para mim, a opinião que Sua Santidade O Cristo nunca aqui estaria incluído a não ser que os tais que charlam queiram dar alguma credibilidade às suas cavilações.

Xiii, pá, se calhar excedi-me um bocadito..., desculpa lá, pá.

Marco Oliveira disse...

Vizinho,
A análise do Frederic Lenoir não se centra na experiência do sul da Europa, mas na Europa como um todo. Lembro, por exemplo, que Erasmo era Católico, e foi ele um dos grandes impulsionadores da mudança na cultura europeia.

José Fernandes,
Lembro só uma coisa: Baha'u'lláh referiu-se a Platão como "o Divino Platão" e a Aristóteles como "o famoso homem de sabedoria".
A expressão "conhecimento que começa por palavras e termina com palavras deve ser entendida no contexto correcto do texto em causa. E Os historiadores consideram que se trata de uma referência à teologia especulativa de clérigos xiitas.

O Vizinho do Lado disse...

Bom exemplo de um verdadeiro Moderno, Marco, porém uma rara excepção.

O outro post é simplesmente "spooky". parece saído de uma seita cristã suicida ou algo semelhante...
"Alguém que disse:"Afastai-vos daquelas artes e profissões que começam com palavras e acabam com palavras".- Assustador!
A seguir deve vir uma frase do género "como Alguem disse: matem os homosexuais, os ateus e os ciganos".
Valha-nos deus

Marco Oliveira disse...

Vizinho,

A referência que foi feita às palavras de Bahá'u'lláh deve ser contextualizada. A frase correcta é: "Os estudos académicos que começam com palavras e terminam com palavras nunca tiveram e jamais terão valor algum"; como disse, trata-se de uma referência aos hábitos de alguns teólogos xiitas. Não se trata obviamente de uma condenação do estudo da literatura, direitos, filosofia, teologia... Isso seria contraditório com o princípio baha'i que considera a educação o principal meio para revelar o potencial humano.