sexta-feira, 10 de julho de 2009

Reis e Governantes, em 1867

Há alguns atrás, neste blog escrevi sobre a Epístola de Bahá'u'lláh aos Reis (Súriy-i-Mulúk). Trata-se de uma Epístola revelada em 1867, durante o terceiro exílio de Bahá'u'lláh. Nesse texto o fundador da religião Bahá’í dirige-se colectivamente a todos os reis da Terra, aconselhando-os a ser justos e a reduzirem os armamentos, de forma a permitir a prosperidade dos seus súbditos. Também afirma que os conflitos devem ser resolvidos de forma diplomática, e que as nações apenas devem ter exércitos com dimensão suficiente para proteger os seus domínios.

Nesse mesmo ano de 1867, realizou-se em Paris a Grande Exposição Universal. O evento era uma afirmação da frança como grande potência europeia e contava com expositores de vários países do mundo. Uma das recordações desse evento é uma ilustração onde estavam representados o Imperador Francês e outros monarcas que visitaram a Exposição. Curiosamente, quase todos eles foram destinatários de uma Epístola de Bahá'u'lláh.

Aqui fica a referida ilustração (clique na imagem para ampliar):



Excertos da Epístola aos Reis (Súriy-i-Mulúk):

Ó REIS DA TERRA! Aquele que é o Senhor soberano de todos já veio. O Reino é de Deus, o Protector Omnipotente, O que subsiste por Si Próprio. Não adoreis senão a Deus e, com corações radiantes, levantai a vossa face para o vosso Senhor, Senhor de todos os nomes. Esta é uma Revelação com a qual nenhuma de vossas possessões jamais será comparável – se apenas pudésseis saber isso.

(...)

Sois apenas vassalos, ó reis da terra! Aquele que é Rei dos Reis apareceu, adornado com a sua mais maravilhosa Glória, e convoca-vos a Ele Mesmo, o Amparo no Perigo, O que subsiste por Si Próprio. Acautelai-vos para que o orgulho não vos impeça de reconhecer a Fonte da Revelação, nem as coisas deste mundo vos excluam, como se o fosse por um véu, daquele que é Criador do Céu. Levantai-vos e servi Aquele que é o Desejo de todas as nações, que vos criou através de uma palavra Sua e ordenou que fôsseis, para todo o sempre, os símbolos da Sua soberania.

(...)

Passaram-se vinte anos, ó reis, durante os quais saboreamos a cada dia a agonia de uma nova tribulação. Nenhum dos que Nos antecedeu suportou o que Nós temos suportado. Oxalá pudésseis perceber isso! Os que se levantaram contra Nós, têm-nos levado à morte, têm derramado o Nosso sangue, têm saqueado os Nossos bens e violado a Nossa honra. Vós, porém, embora cientes da maior parte das Nossas aflições, não detivestes a mão do agressor. E não é claramente vosso dever reprimir a tirania do opressor e tratar com equidade os vossos súditos, a fim de demonstrar plenamente a toda a humanidade o vosso elevado sentido de justiça?

Deus entregou às vossas mãos as rédeas do governo do povo, para que possais governar com justiça sobre eles, salvaguardando os direitos dos espezinhados e punindo os malfeitores. Se negligenciares o dever que Deus vos prescreveu no Seu Livro, os vossos nomes serão incluídos nos que são injustos aos Seus olhos. Lastimável, de facto, será o vosso erro. Agarrai-vos ao que as vossas imaginações conceberam e repelis os mandamentos de Deus, o Excelso, o Inatingível, o Predominante, o Todo-Poderoso? Renunciai àquilo que vós possuís, e segurai-vos àquilo que Deus vos mandou observar. Procurai a Sua graça é o que deveis buscar, pois quem a procura trilha o Seu Caminho recto...

(...)

Ó REI DA TERRA! Nós vos vemos aumentar, todos os anos, as vossas despesas, cujo o peso colocais sobre os vossos súditos. Isso, em verdade, é inteira e grosseiramente injusto. Temei os suspiros e as lágrimas deste Injuriado e não ponhais encargos excessivos sobre os vossos povos. Não os roubeis a fim de erguerdes palácios para vós próprios; não, antes, escolhei para eles o que escolheis para vós próprios. Assim expomos perante os vossos olhos o que vos é proveitoso – se apenas o percebêsseis. Os vossos povos são os vossos tesouros. Acautelai-vos para que a vossa governação não viole os mandamentos de Deus, e não entregueis vossas tutelas nas mãos do ladrão. É pelos vossos povos que governais, por meio deles subsistis, pela sua ajuda que conquistais. No entanto, com que desdém olhais para eles! Que estranho, muito estranho!

Agora que recusastes a Paz Maior, segurai-vos a essa, a Paz Menor, a fim de que possais, de alguma forma, melhorar a vossa própria condição e a dos vossos dependentes.

Ó governantes da terra! Reconciliai-vos, para que não mais necessiteis de armamentos, salvo na medida necessária para proteger os vossos territórios e domínios. Acautelai-vos para não desprezar o conselho do Omnisciente, do Fiel.

Uni-vos, ó reis da terra, pois assim a tempestade da discórdia se aquietará entre vós, e o vosso povo encontrará a tranquilidade - se sois dos que compreendem. Se alguém dentre vós pegar em armas contra outro, levantai-vos contra ele, pois isso nada mais é que justiça manifesta.

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Sobre esta Epístola:
* Epístola aos Reis – Introdução
* Epístola aos Reis (1): A Proclamação
* Epístola aos Reis (2): O Sultão e os Ministros
* Epístola aos Reis (3): Os Embaixadores
* Epístola aos Reis (4): Sacerdotes, Sábios e Filósofos

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