segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Até na morte, os Bahá'ís do Irão enfrentam perseguições

Há dezoito anos atrás, os Bahá’ís da cidade de Sanandaj, receberam um terreno - com cerca de um hectare - junto a uma estrada, para ser usado como cemitério.Tratava-se de uma encosta, desprovida de vegetação, que dificilmente interessaria para construção imobiliária. No Outono de1993, após o primeiro funeral, os Baha’is locais decidiram mudar a paisagem do local: removeram rochas, substituíram o solo e plantaram centenas de ciprestes e abetos, oferecidos pelo Departamento de Agricultura. Seguiu-se a colocação de energia eléctrica e a construção de um espaço destinado à preparação dos corpos.

Para cada etapa deste empreendimento, foram solicitadas e recebidas as respectivas autorizações. Mesmo para abrir um poço, foi solicitada e recebida a autorização do Conselho Regional das Águas; cada vez que uma autorização caducava, a respectiva renovação foi obtida sem problemas.

Em Sanandaj, a 400 km de Teerão, o Cemitério Bahá'í pode vir a ser confiscado pelas autoridades

Impressionado com a transformação do lugar, o Gabinete de Recursos Naturais sugeriu aos Bahá’ís que plantassem árvores no terreno público adjacente ao cemitério, ampliando assim a zona verde. Como resultado, os moradores - na maior parte muçulmanos sunitas de Sanandaj - acabaram por respeitar o lugar, como um símbolo da presença pacífica da comunidade Bahá'í na sua cidade.

Mas agora, a beleza da área e a vegetação, parece ter instigado uma mudança de atitude das autoridades oficiais: querem reaver o cemitério, reivindicando o direito do Estado sobre a terra - apesar dos Bahá’ís terem sido anteriormente autorizados a fazer as obras. No final deste mês será emitida, em tribunal, uma ordem para que este seja confiscado, e os edifícios e as sepulturas destruídos.

A hostilidade recente para com os Bahá’ís em Sanandaj não augura nada de bom para o veredicto. No passado dia 19 de Dezembro, agentes dos Serviços Secretos efectuaram rusgas em 12 residências de famílias Bahá’ís na cidade. Livros Bahá’ís, panfletos, fotografias, cassetes áudio, computadores, telemóveis, drives de computador e vários documentos pessoais foram confiscados.

"À luz desta vaga de perseguições aos Bahá'ís de Sanandaj, parece que o destino do cemitério já foi decidido, por ordem dos Serviços Secretos", comentou Diane Ala'i, a representante da Comunidade Bahá'í Internacional, junto das Nações Unidas, em Genebra.

PERTURBANDO OS QUE PARTIRAM

Sob o actual regime do Irão, o caso de Sanandaj não é único. Desde 2007, houve mais de 30 incidentes de vandalismo, ataques incendiários, e outros problemas relacionados com cemitérios Bahá’ís e com o esforço dos Bahá’ís, para sepultar devidamente os seus mortos.

"Não satisfeitos por perseguirem os vivos, as autoridades iranianas tratam de perturbar a paz, mesmo daqueles que já faleceram", disse Ala'i. "Este é o mais recente de uma longa série de ataques a cemitérios Bahá’ís e aos ritos de sepultamento. São uma violação flagrante das normas internacionais de direitos humanos e da compreensão de qualquer pessoa decente sobre respeito pelos mortos."

Alguns exemplos recentes:

- Um cemitério recém-construído em Sangsar, província de Semnan, oferecido aos Bahá’ís locais pelo município, foi vandalizado por invasores desconhecidos em Março de 2011. As sepulturas ficaram atulhadas de lixo, as árvores foram arrancadas, e as duas pequenas salas foram destruídas.

- Em Julho de 2010, sepulturas no cemitério Bahá’í de Jiroft, província de Kerman, foram destruídas por invasores desconhecidos que utilizaram bulldozers.

- No final de Maio de 2010, o cemitério Bahá’í em Mashhad, foi vandalizado durante a noite usando uma pá carregadora e outra maquinaria pesada. As paredes do cemitério, o necrotério e o lugar onde as orações eram recitadas, foram severamente danificados.

Noutros incidentes, as autoridades desenvolveram esforços para interferir com os ritos de sepultamento Bahá’í.

Em Tabriz, por exemplo, há anos que tinha sido permitido aos Bahá’ís o acesso ao cemitério público da cidade. Em Agosto do ano passado, foi dito à família de uma mulher Bahá’í falecida nessa altura, que ela teria de ser sepultada com os ritos muçulmanos. Os seus restos mortais tiveram de ser enterrados num cemitério Bahá’í noutra cidade. Um incidente semelhante ocorreu em Outubro passado, quando o corpo de um homem Bahá’í foi levado de Tabriz para outro cemitério Bahá’í a cerca de 100 quilómetros de distância e enterrado sem a família ter sido informada.

"As autoridades iranianas, nos fóruns internacionais, afirmam com muita firmeza, que os bahá'ís não são tratados de forma diferente dos outros e só são 'punidos' quando fazem algo ilegal", disse Diane Ala'i. "O que terão feito estas pessoas mortas para merecerem tal tratamento?"

"O embelezamento do cemitério em Sanandaj e seus arredores é uma evidência da contribuição sincera e positiva que os Bahá’ís iranianos desejam fazer ao seu país. O que parece igualmente evidente é que as autoridades iranianas consideram tal coisa impossível de aceitar."

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FONTE: Even in death, Iran's Baha'is face persecution (BWNS)

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