segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Proibidos de representar o seu país

 Em qualquer país do mundo, um adolescente campeão de xadrez, um destacado judoca nacional e um pianista talentoso seriam considerados como importantes contributos para a sociedade. Mas no caso de três jovens iranianos, porém, pelo facto de serem Bahá'ís foi-lhes proibido representar o país em eventos internacionais.

O judoca Khashayar Zarei, o xadrezista Pedram Atoufi e a pianista Pegah Yazdani são todos vítimas da política sistemática do para "bloquear" o progresso e o desenvolvimento dos bahá'ís e "negar-lhes qualquer posição com influência".

A pianista Pegah Yazdani, o xadrezista Pedram Atoufi e o judoca Khashayar Zarei


A HISTÓRIA DE KHASHAYAR

Depois do Irão ter conseguido um número record de medalhas nos Jogos Olímpicos de 2012, Khashayar Zarei, com 19 anos, apenas pôde sonhar com o que poderia ter sido. Na sua idade e classe de peso, Khashayar é um dos melhores judocas do país, mas foi impedido de concorrer, por ser Bahá'í.

"Apesar do facto de em três ocasiões sido o primeiro do meu peso na equipa nacional, como resultado de minha crença na Fé Bahá'í, fui proibido de participar nas competições mundiais asiáticas", escreveu ele numa carta publicada pela Agência de Notícias dos Direitos Humanos.

Recentemente, para aumentar a sua decepção, teve de interromper os seus estudos de arquitectura na Universidade de Shiraz por causa de suas crenças religiosas. Foi-lhe dito que tinham recebido instruções para expulsá-lo através de uma carta confidencial do Ministério da Ciência, Investigação e Tecnologia. Isso também faz parte da política oficial do governo: assim que se torna conhecido que um estudante é Bahá'í, ele ou ela devem ser expulsos.

Khashayar não está sozinho entre a juventude iraniana com esperanças frustradas.

Os formulários de inscrição para admissão em programas especiais, para alunos superdotados, exigem que o candidato especifique a sua religião, permitindo aos administradores desqualificar candidatos bahá'ís e não há a opção de deixar a linha em branco. Um Bahá'í - um estudante distinto do 2º ano do ensino secundário na cidade de Sari - foi recentemente expulso da sua escola. A outros dois foi negada a oportunidade de participar numa Olimpíada de Ciência e Matemática, para sobredotados.

Em Teerão, uma notável estudante Bahá'í, que alcançou um alto nível nos preliminares para a iniciativa tecnológica "Robocup" foi impedida de se registar numa escola para se preparar para competir a nível nacional e internacional.

Em 2008, a Comunidade Internacional Bahá'í soube que os pais de um aluno foram informados por um simpático administrador da escola, que todos os directores de escolas em Marvdasht tinham recebido instruções verbais para dar aos alunos de "seita Bahaista" e outras minorias, apenas a mais baixa nota de passagem em exames escolares - independentemente do seu nível real de desempenho - de modo a impedir que sejam elegíveis para ingressarem em universidades.

CAMPEÃO DE XADREZ

Este tipo de exclusão não é novo. Depois de ganhar um campeonato nacional de xadrez, em 1991, com a idade de 16 anos, foi dito a Pedram Atoufi que não poderia representar o Irão no Campeonato de Xadrez da Ásia porque era Bahá’í.

Após a revolução islâmica de 1979, o xadrez foi proibido no Irão durante uma década inteira. Quando Pedram venceu o primeiro torneio nacional do país, para jovens, ficou entusiasmado com a oportunidade de representar o seu país nas competições internacionais mas, quando tentou obter o passaporte, foi-lhe entregue um formulário em que tinha de colocar a sua religião.

"Eu escrevi Bahá'í", disse ele. "A pessoa que estava a processar o meu formulário disse: “Se você escrever Bahá'í, não vai ser fácil obter um passaporte".

Pedram foi informado de que a única alternativa era pedir ao presidente da Federação Iraniana de Xadrez, que lhe desse um visto de equipa. O presidente, no entanto, ficou furioso quando soube que Pedram era Bahá'í e enviou uma carta a todos membros da Federação dizendo que Pedram estava impedido de competir em qualquer torneio oficial de xadrez. Naquele ano, ninguém foi enviado para competir pelo Irão no Campeonato Asiático de Xadrez.

A proibição foi gradualmente atenuada ao longo de quatro anos, mantendo-se apenas a proibição de concorrer a nível internacional. Quando a sua equipa venceu o campeonato nacional em 1997, ele foi substituído e os seus companheiros representaram o Irão nos torneios internacionais.

Hoje, Pedram, vive em Scottsdale, Arizona (EUA), onde dirige um clube que visa desenvolver o conceito de unidade através do xadrez. Não pode voltar ao seu país natal. Um amigo seu que foi ao campeonato juvenil de xadrez com ele, só agora foi libertado da prisão.

PIANISTA NO EXÍLIO

A negação do ensino superior para os bahá'ís aplica-se também a outras formas de educação artística e profissional. Impedida de prosseguir as suas ambições musicais no Irão, Pegah Yazdani mudou-se para Moscovo, em 1998, para estudar piano. Chorou durante toda a viagem.

"Emocionalmente, foi um tempo muito difícil; tive que deixar toda a gente para trás", disse. "Ao mesmo tempo, estava muito entusiasmada porque ia perseguir o meu sonho." Ao fim de cinco anos, obteve o seu diploma e voltou para o Irão, junto da sua família, esperando poder executar e abrir uma escola de piano.

Foi-lhe oferecido um emprego, em part-time, no Conservatório de Teerão. Mas quando teve de preencher um formulário e lhe pediram para indicar a sua religião, Pegah foi demitida e proibida de dar aulas de música ou tocar em recitais.

"Se eles virem escrito a palavra ‘Bahá'í’, nem olham para nós; simplesmente não aceitam o formulário", afirma. "Eu não ia conseguir fazer nada no Irão. Não conseguiria estudar lá. Não conseguiria trabalhar lá. Não iria conseguir viver lá normalmente."

Em 2007, Pegah concluiu o mestrado no London College of Music and Media, em Piano e agora vive no Canadá, onde se encontra verdadeiramente envolvida na música – tocar e ensinar piano, e a trabalhar como acompanhante de ballet.

Apesar das suas provações, Pegah - agora com 36 anos - diz que ainda ama muito o seu país e que deseja poder voltar. Espera que um dia, em breve, aos bahá'ís que permanecem no Irão lhes seja permitido dar o seu contributo pleno.

Bani Dugal, a principal representante da Comunidade Internacional Bahá'í nas Nações Unidas, diz que a estratégia do governo iraniano para os bahá'ís está a privar o país de uma série de talentos e capacidades. "As dificuldades para os jovens bahá'ís ingressarem no ensino superior tem aumentado cada vez mais e são cada vez mais complicados", disse. "Estas histórias são exemplos lamentáveis de uma campanha patrocinada pelo Estado que, no final, só priva o Irão das valiosas e excitantes contribuições, que poderiam ser dadas por alguns dos melhores e mais brilhantes jovens do país".

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FONTE: Banned from making their mark (BWNS) 

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