quinta-feira, 6 de junho de 2013

Cinco Anos de Injustiça

A Situação Penosa dos Bahá'ís no Irão

O texto que se segue é de autoria do Dr. Firuz Kazemzadeh, professor emérito de história na Universidade de Yale e ex-comissário na Comissão dos EUA sobre Liberdade Religiosa Internacional. Foi publicado ontem na secção On Faith do Washington Post.
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"Eu nunca vi minha mãe tão arrasada como quando ela voltou de uma visita à prisão de Evin para ver a minha irmã, Fariba", recorda Iraj Kamalabadi ao descrever a visita da sua mãe à sua irmã, Fariba Kamalabadi, no Irão. Tinham passado quatro anos desde que a mãe e a irmã se tinham visto uma à outra. Kamalabadi explicou que durante a visita da sua mãe, cada minuto de espera parecia um ano. Finalmente, uma voz áspera chamou, "Visitantes de Fariba Kamalabadi, cheguem à frente."

Como a mãe de Kamalabadi avançou ansiosa e não viu sua filha, começou a entrar em pânico; imediatamente a sua neta chamou-a para uma janela onde estava um rosto desconhecido, mas sorridente. Atrás do vidro estava sentada uma senhora de idade, com cabelos brancos, as maçãs do rosto pronunciadas, e um rosto cheio de manchas escuras.

Era sua filha. Incrédula e em choque, não conseguiu controlar lágrimas.

No passado dia 14 de Maio de 2013 assinalaram-se cinco anos desde que os sete Bahá’ís do Irão, incluindo Fariba Kamalabadi, foram presos, julgados à porta fechada, e condenado a 20 anos de prisão. O seu crime: liderança informal de uma comunidade, a maior minoria religiosa não-muçulmana do país, proibida pelo governo da República Islâmica como seita subversiva e "perversa".

Relatos na comunicação social controlada pelo governo iraniano afirmam que os sete membros dos Yaran-i-Iran ("amigos do Irão"), como o grupo era conhecido - Sra. Fariba Kamalabadi, Sr. Jamaloddin Khanjani, Sr. Afif Naeimi, o Sr. Saeid Rezaie, Sra. Mahvash Sabet, Sr. Behrouz Tavakkoli, e o Sr. Vahid Tizfahm - foram acusados formalmente de espionagem, actividades de propaganda contra a ordem islâmica, estabelecimento de uma administração ilegal, cooperação com Israel, envio de documentos secretos para fora do país, actos contra a segurança do país, e corrupção na terra. Os sete negaram categoricamente todas as acusações.

À medida que o processo legal avançava, aos sete Yaran foi negado o acesso a advogados por mais de um ano e só lhes foi permitida uma hora de consulta antes do início do julgamento. Foram condenados sem que o governo apresentasse qualquer evidência da sua suposta culpa.

O destino dos cinco homens e duas mulheres foi partilhado ao longo dos últimos 34 anos por centenas de outros Bahá’ís - médicos, advogados, funcionários públicos, empresários e agricultores - acusados e condenados por actividades anti-islâmica, espionagem, e "corrupção na terra". Em muitos casos, foram simplesmente condenados por serem Bahá’ís.

Em anos recentes, a pressão sobre a comunidade Bahá’í iraniana tem vindo a aumentar. O número de Bahá’ís na prisão duplicou nos últimos dois anos para mais de 110 e houve um aumento significativo de casos de ameaças, prisões, espancamentos, intimidação e destruição de propriedades.

Nos últimos anos, em Semnan, uma cidade situada a nordeste de Teerão, os mullahs pregaram nas mesquitas e em seminários especiais sobre a necessidade de combater os infiéis Bahá’ís. Estes sermões provocaram ataques contra indivíduos Bahá’ís e seus negócios. Quando foram incendiadas casas, a polícia não fez qualquer tentativa para capturar os incendiários. Na verdade, as autoridades governamentais foram coniventes com os mullahs e juntaram-se ao ataque. Licenças comerciais foram revogadas às empresas dos Bahá'ís, privando os seus funcionários (tanto Bahá’ís como Muçulmanos) da sua subsistência. Nem mesmo as crianças não foram poupadas.

Em 2012, pelo menos duas mulheres foram, e continuam, detidas juntamente com os seus filhos. Não houve recurso pois as autoridades cooperam com as instituições clericais. Actos similares foram perpetrados contra Bahá’ís de Yazd, Shiraz, Isfahan, Gorgan, e outras cidades e aldeias, grandes e pequenas.

O Conselho de Direitos Humanos da ONU chamou repetidamente a atenção para as violações dos direitos humanos por parte do governo do Irão e a Assembleia Geral da ONU condenou os actos de violência e privação de direitos humanos contra os Bahá’ís e outras minorias religiosas. Os parlamentos de vários países aprovaram resoluções exigindo que os direitos humanos de todas as minorias sejam respeitados. O Congresso dos EUA aprovou 12 resoluções (apoiadas pelos dois partidos) condenando especificamente o tratamento dos Bahá’ís iranianos, tendo o mais recente ocorrido em 1 de Janeiro deste ano. Tais protestos têm tido um efeito inibidor sobre as autoridades iranianas, que prestam pelo menos um pouco de atenção às opiniões da comunidade internacional.

É importante manter o holofote da verdade sobre o Irão e, enquanto se presta atenção a questões nucleares e outras, não podemos fechar os olhos às políticas repressivas e acções do governo iraniano contra seu próprio povo.

Enquanto não soubermos quantas mais vezes a mãe de Kamalabadi poderá visitá-la, é claro que essa injustiça não pode continuar. Cinco anos é algo inaceitável.

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FONTE: Five years of injustice: The plight of seven Baha’i leaders in Iran (Washington Post) 

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