domingo, 23 de fevereiro de 2014

A religião provoca conflito?

Por Tom Tai-Seale.

A humanidade tem-se envolvido em guerras por causa da religião; pelo menos é isso, que dizem os livros de história.

Mas raramente o conflito "religioso" resulta apenas da religião. Se assim fosse, então o palco apropriado para a resolução seria a comparação, discussão e interpretação das escrituras. Definitivamente não é isto que acontece.

A religião tornou-se como uma luz que só é vista através de muitos candeeiros coloridos. Apesar dos candeeiros poderem ser bonitos, estes, inevitavelmente, vão colorir a luz com as especificidades da nossa interpretação. Por isso, quando nos deparamos com outras religiões, sentimo-las como diferentes da nossa, porque aquilo que primeiramente vemos é o candeeiro - e não a luz que o anima. Em vez de ver um povo que respondeu a uma luz evidente, da mesma forma que nós teríamos respondido à luz - se estivéssemos no seu lugar no espaço e no tempo - vemos uma religião diferente e questionamo-nos como subvertê-la. Os Bahá’ís acreditam na origem de todas as verdadeiras religiões há uma luz comum e que na unicidade desta luz os povos podem encontrar paz e concórdia:
As fundações de todas as religiões divinas são a paz e a concórdia, mas têm-se desenvolvido desentendimentos e ignorância. Se estes desaparecerem, vereis que todos os agentes religiosos trabalharão pela paz e promulgação da unidade da humanidade. Pois a base de toda é a realidade; e a realidade não é múltipla ou divisível. ('Abdu'l-Bahá, Promulgation of Universal Peace, p. 122)
Os grandes académicos religiosos do nosso tempo compreendem este princípio. Joseph Campbell escreve depois de concluir o conjunto de quatro volumes intitulado The Masks of God (As Máscaras de Deus):
Hoje, olhando para trás para os doze anos maravilhosos que passei nesse empreendimento recompensador, percebo que o seu principal resultado para mim foi a confirmação de um conceito que há muito tempo nutria fielmente: da unidade da raça do homem, não apenas na sua biologia, mas também na sua história espiritual, que em todos os lugares se revelou como se fosse uma sinfonia única, com os seus temas anunciados, desenvolvidos, amplificados e transformados, distorcidos, reafirmados, e hoje, como um grande fortissimo de todas as seções soando juntas, avança irresistivelmente para algum tipo de clímax poderoso, do qual emergirá o próximo grande movimento.
De alguma forma todos os que já tiveram um momento para olhar de forma séria os diferentes candeeiros de qualquer religião revelada devem admitir que ali existe uma beleza. E onde há um belo candeeiro, deve haver uma bela luz para iluminá-lo. Como diz o Novo Testamento, um bom fruto só pode vir de uma boa árvore. Este reconhecimento da beleza das religiões, até mesmo da sua expressão externa, tornou-se muito importante. Pode, pelo menos, permitir-nos a conviver com outros grupos religiosos, enquanto fazemos investigações mais sérias sobre os fundamentos da fé.

A sétima cruzada contra Jerusalem, por Francisco Hayez
Mas explorar a fé não é fácil num mundo que evolui rapidamente, impulsionado por uma explosão de tecnologia, comunicação social, viagens e informações - facto que está longe de ser acidental e que os Bahá’ís salientarão ter tido início em meados do século 19. Fomos lançados numa época em que as nossas próprias identidades foram desafiadas. A maioria dos nossos problemas devem-se ao facto de que não conseguirmos perceber as grandes mudanças desta era.

Apenas nas últimas décadas, a explosão da informação e as viagens fez todos nós cidadãos do mundo. O mundo inteiro tornou-se o nosso assunto - e isso inclui todas as suas religiões. A religião é transmitida formal ou informalmente. Antigamente, éramos educados numa única religião. Nestes dias, porém, a comunicação social traz todas as religiões para as nossas salas de estar. É claro que a qualidade da informação que recebemos é tão boa quanto a fonte - e os operadores dos meios de comunicação não podem ser considerados universalmente honestos. Mas, através da educação formal e informal, somos levados a conhecer todas as fés. Isso nunca aconteceu antes.

Assim, pela primeira vez, temos não só a capacidade, mas também o dever - como cidadãos do mundo - de comparar a religião na nossa investigação da verdade. Se falharmos, ou fizermos um mau trabalho, a nossa própria paz e segurança também irá sofrer. Porquê? Porque já não somos pessoas isoladas. Somos um só povo, embora tenhamos sido lentos a reconhecer isso. Nós somos o mundo, e, consequentemente, as suas religiões. Para estar à altura das exigências da nossa nova era, devemos avaliar de forma honesta as religiões com quem contactamos, e isso inclui nossa própria religião tradicional.

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Texto Original: Does Religion Cause Conflict? (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

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