terça-feira, 18 de março de 2014

Cosmos e a Fé Bahá’í

Por Mitko Gerensky, no blog Befriend Stranger.

Durante minha juventude na Bulgária comunista, vi na televisão estatal um programa fascinante pelo notável cientista americano Carl Sagan, "Cosmos", que reafirmou o meu fascínio pela ciência e pela incansável busca da verdade. A noção de Deus quase não existia na minha vida diária pois a ideologia estatal do materialismo histórico tinha naquela época obliterado na maioria das pessoas da minha geração qualquer referência a um Criador inteligente. No entanto, sempre houve uma busca por algo mais do que os olhos podiam ver. Apaixonei-me pela ficção científica como uma ferramenta criativa que dava as asas à minha imaginação e antevia um mundo em que todos coexistíamos pacificamente e explorávamos o universo. Ao terminar a universidade, conheci um grupo de Bahá’ís que me disse que de acordo com Bahá'u'lláh, a ciência e a religião devem estar em harmonia. A minha descrença transformou-se num abraço à evolução da religião através da sua revelação progressiva. Tornei-me Bahá’í.

Cosmos: Uma Odisseia no Espaço-Tempo
Ontem, vi o primeiro episódio do inspirador - e actualizado - da série Cosmos: Uma Odisseia no Espaço-Tempo, desta vez conduzido pela vedeta da ciência, Neil deGrasse Tyson, que é o verdadeiro sucessor de Carl Sagan.


Fiquei tão fascinado e inspirado com o primeiro episódio que hoje voltei a vê-lo com as minhas filhas que gostaram muito. A mais jovem, Juliet, comentou o quão pequena se sentia ao testemunhar a imagem notável da vastidão do universo. E quem é que não se sente pequeno ao perceber que a Criação é ilimitada, o que para mim, apesar de (ou devido a) ter crescido como ateu, é uma grande prova da existência de um Criador infinito.

Anoitecer e Amanhecer

Apesar de ter sido ateu na minha juventude, nunca deixei de me maravilhar com o poderoso papel que a religião desempenhou como inspiradora de conhecimento - juntamente com a sua revelação – e as tentativas que fez para o silenciar durante o seu declínio. "Nightfall", um romance brilhante escrito pelos meus dois escritores preferidos de ficção científica, Isaac Asimov e Robert Silverberg, ilustrava, aquilo que me tinha sido apresentado na Fé Bahá'í: que, de facto, a verdadeira ciência e a verdadeira religião não têm de ser mutuamente exclusivas. Apesar de ter a certeza que "Cosmos" e a sua atitude em relação à religião e a Deus pode ser interpretado de inúmeras maneiras, para mim, pessoalmente, reafirma a crença de que por detrás da incrível Criação existe um Criador inteligente, e a religião - tal como a ciência - continuará a actualizar-se através daquilo a que a Fé Bahá'í chama revelação progressiva, a fim de nos iluminar e nos guiar para a plena realização do glorioso destino da humanidade.

Hoje à noite, após o encontro de oraçoes, decidi procurar referências nas Sagradas Escrituras a alguns dos tremendos diversificados e interligados tópicos da série "Cosmos". Não surpreendentemente, encontrei uma infinidade de citações inspiradoras que as imagens de "Cosmos" parecem ilustrar de forma tão bela. Aqui, por razões de brevidade, deixo apenas algumas:
"Magnificado seja o Teu nome, ó Senhor meu Deus! És Aquele a quem todas as coisas adoram e que venera a ninguém, Aquele que é o Senhor de todas as coisas e vassalo de nenhuma, Aquele que conhece todas as coisas e é conhecido de nenhuma. Desejaste-Te tornar-Te conhecido aos homens e, assim, através de uma palavra da Tua boca, trouxeste a criação à existência e formaste o universo. Não há outro Deus senão Tu, o Formador, o Criador, o Omnipotente, o Mais Poderoso." (Prayers and Meditations by Bahá’u’lláh, pag. 6)

"Uma gota do oceano encapelado da Sua infinita mercê adornou toda a criação com o ornamento da existência, e um sopro, emanado do Seu incomparável Paraíso envolveu todos os seres com o manto da Sua santidade e glória. Um salpico das insondáveis profundezas da Sua vontade soberana e predominante chamou das profundezas do nada absoluto à existência uma criação de infinita extensão e imortal duração. As maravilhas da Sua generosidade não podem cessar, e o fluxo da Sua graça misericordiosa jamais será detido. O processo da Sua criação não teve início, e não poderá ter fim.

Em cada era e ciclo, Ele, através da luz esplendorosa emanada dos Manifestantes da Sua maravilhosa Essência, tem recriado todas as coisas, de modo que nada nos céus e na terra que reflicta os sinais da Sua glória seja privado das emanações da Sua misericórdia, nem desespere das chuvas dos Seus favores. Como são abrangentes as maravilhas da Sua infinita graça! Vede como têm impregnado a criação inteira. Tamanha é a sua virtude que não se encontra em todo o universo um só átomo que não declare as evidências do Seu poder, que não glorifique o Seu santo Nome ou expresse a luz fulgente da Sua unidade. Tão perfeita e vasta é a Sua criação, que nunca alguma mente ou coração poderá, por mais apurada ou pura que seja, abranger a natureza da mais insignificante das Suas criaturas e, muito menos, sondar o mistério d'Aquele que é o Sol da Verdade, Aquele que é a Essência invisível e incognoscível. (…)

Como me sinto confuso, insignificante que sou, ao tentar sondar as sagradas profundezas do Teu conhecimento! Quão fúteis os meus esforços ao imaginar a magnitude do poder inerente à Tua obra - a revelação do Teu poder criador! Como podem os meus olhos, que não têm a faculdade de se perceberem a si próprios, alegar terem discernido a Tua Essência, e como pode o meu coração, já incapaz de entender o que significam as suas próprias potencialidades, ter a pretensão de haver abarcado a Tua natureza? Como posso eu dizer que Te tenha conhecido, quando a criação inteira se encontra perplexa diante do Teu mistério, e como posso confessar eu não Te ter conhecido, quando, eis, todo o universo proclama a Tua Presença e dá testemunho da Tua verdade? (Selecção dos Escritos de Bahá'u'lláh , sec. XXVI)
Vocês já viram a série "Cosmos"? Que ideias vos inspirou? Que perguntas levantou? Que respostas vos deu?

-----------------------------------
Texto Original: Cosmos and the Baha’i Faith (Befriend Stranger)

2 comentários:

Luiz Mourão disse...

Ótimo e tocante texto, principalmente para aqueles, que como eu, provindos de uma geração que cresceu vendo as descobertas do Cosmos e os contos, filmes e livros de Carl Sagan e Isaac Asimov!! O texto me fez lembrar que sinais e evidências da relação do Divino com a natureza também estão expressos nas belíssimas palavras sagradas que se seguem:
" ... em tudo que contemplo eu imediatamente descubro que este Te toma conhecido a mim e me relembra Teus sinais e Tuas evidências e Teus testemunhos. Pela Tua Glória! Toda vez que levanto os meus olhos ao Teu céu, lembro-me da Tua alteza e Tua sublimidade e Tua incomparável glória e grandeza, e toda vez que fixo o meu olhar na Tua terra sou obrigado a reconhecer as evidências de Teu poder e os sinais de Tua generosidade. E quando contemplo o mar, descubro que me fala de Tua majestade, e da potência do Teu poder, e da Tua soberania e da Tua grandeza. E a qualquer momento que contemplo as montanhas, sou levado a descobrir as insígnias de Tua vitória e os estandartes de Tua onipotência. " Bahá'ú´lláh (Orações e meditações , 176, pag 218, 1ª edição, Ed. Bahá'í do Brasil)
Obrigado por compartilhar artigo tão significativo!
Luiz Mourão, Brasília, Brasil

Marco Oliveira disse...

Obrigado pelo seu comentário, Luiz.

No que toda a diálogo entre ciência e religião existem duas citações que eu gosto muito.

Carl Sagan disse:
"A melhor maneira que conheço para estimular a sensibilidade religiosa, o sentimento de respeito, é, sem dúvida, olhar para cima numa noite límpida… Penso que todas as pessoas, em qualquer cultura, já tiveram esse sentimento de respeito e admiração ao olharem para o céu. Isto é visível no mundo inteiro, tanto na ciência como na religião."

Bahá'u'lláh afirmou:

"Tu Me perguntaste, ademais, sobre a natureza das esferas celestes. A fim de se compreender a sua natureza, seria necessário inquirir o sentido das alusões feitas nos Livros da antiguidade às esferas celestes e aos céus, e descobrir o carácter da sua relação com este mundo físico e a influência que sobre ele exercem. Todo coração se maravilha diante de um tema tão deslumbrante e toda mente se confunde diante de seu mistério... Sabe tu, que cada estrela fixa tem seus próprios planetas, e cada planeta, suas próprias criaturas, cujo número homem algum pode calcular." (SEB, LXXXII)