sábado, 6 de setembro de 2014

Os Bahá’ís acreditam no inferno?

Por Maya Bohnhoff.


Se existe um "paraíso" na religião Bahá’í, como se vai para lá? Há alguma coisa que se deva fazer? Ou toda a gente pode entrar?

Bahá'u'lláh afirmou que os conceitos de céu e inferno não representam lugares físicos, mas sim estados de existência que podemos experimentar aqui neste mundo físico - e na próxima vida. Em qual destes estados habitamos depende inteiramente de nós, e da graça de Deus.

O conceito Bahá'í de "paraíso" ou “céu” não nada semelhante ao conceito de “céu” que me foi transmitido quando era jovem e frequentava igrejas. Os ensinamentos Bahá’ís não descrevem o céu como um lugar para onde se vai se Deus autoriza, ou se se acredita numa doutrina, numa igreja ou num sistema específico.

Em vez disso, Bahá'u'lláh compara o céu com proximidade de Deus, e o inferno com afastamento de Deus.

Do ponto de vista Bahá’í, temos de fazer escolhas - aqui neste nível de existência - sobre que tipo de pessoa que vamos ser e que qualidades espirituais (ou vícios animais) vamos desenvolver. Se nos esforçamos por desenvolver qualidades divinas (amor, perdão, lealdade, justiça, etc) isso irá nutrir e estimular faculdades espirituais que nos permitirão prosperar na próxima vida. Se não as desenvolvermos, não iremos prosperar - em vez disso, entraremos na vida futura com deficiências espirituais significativas.

E além disso, se não as desenvolvermos, não vamos crescer espiritualmente neste mundo. Nem vamos ajudar os outros a crescer.

A minha opinião pessoal sobre isto é semelhante à minha opinião sobre as leis da física. Quem tenta violar uma das leis da física, pode sofrer um choque violento. Um passo fora do telhado de um edifício e lei da gravidade entra em acção - podemos acabar com uma perna partida. Buda disse que "O ódio não cessa com o ódio; o ódio cessa com o amor. Esta é uma lei eterna". Outros professores Divinos também ensinaram que o amor é a primeira lei. Se violarmos essa lei espiritual fundamental, então podemos estragar ou destruir alguma coisa - uma amizade, uma família, uma comunidade, uma nação, o nosso próprio espírito. Violar essa lei tem consequências. Vemos essas consequências expostas todos os dias nas notícias. Eu vejo-as sempre que falo com pessoas envoltas em ódio contra outros seres humanos. Penso que isso é uma boa definição de inferno.

Bahá'u'lláh também diz que as pessoas têm diferentes capacidades para crescer espiritualmente:
O dever integral do homem neste Dia, é atingir aquela parte do fluxo de graça que Deus derrama para ele. Que ninguém, portanto, considere a grandeza ou pequenez do recipiente. A porção de alguns pode estar na palma da mão de um homem, a porção de outros pode encher uma taça, e a de outros, pode até ter a medida de um galão. (SEB, V)
Por este motivo, não estamos autorizados, nem obrigados, a julgar os outros. Um pequeno teste para uma alma pode ser uma imensa tarefa para outra, e só Deus sabe a diferença.

Jesus falou sobre a "porta estreita" que conduz à vida eterna: "estreita é a porta, e apertado o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram." (Mateus 7:14). Essa porta estreita, no contexto das Suas palavras, é este mandamento que Ele dá imediatamente antes de advertir sobre a estreiteza da porta. Este existe nas escrituras de todas as religiões reveladas: "... o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas" (Mateus 7: 12)

Assim, nós não adoramos a Deus porque desejamos o "céu" ou porque temos medo do "inferno". O Báb escreveu:
Adora tu a Deus de tal maneira que, se a tua adoração te levasse ao fogo, nenhuma alteração se mostraria na tua adoração, e, o mesmo aconteceria se o paraíso fosse a recompensa. Assim - e somente assim - deveria ser a adoração digna do Deus Uno e Verdadeiro. Fosse tu adorá-Lo por medo, isso seria impróprio na Corte santificada da Sua presença, e não poderia ser considerado como um acto teu dedicado à Unicidade do Seu Ser. Ou se o teu olhar fixasse no paraíso, e tu O adorasses nutrindo essa esperança, estarias a fazer da criação de Deus um parceiro d’Ele, não obstante o facto de o paraíso ser desejado pelos homens. (Selecção das Escrituras do Báb)
Bahá’ís não acreditam que apenas os Bahá’ís "vão para o céu", mas simplesmente que Bahá'u'lláh tem os ensinamentos de Deus para esta época - tal como Cristo tinha os ensinamentos adequados para um povo de outra época e também falou sobre a próxima etapa do seu desenvolvimento. Bahá'u'lláh descreve a situação desta forma:
O Médico Omnisciente tem o Seu dedo no pulso da humanidade. Ele percebe a doença e, na Sua sabedoria infalível, prescreve o remédio. Cada era tem o seu próprio problema, e cada alma a sua aspiração particular. O remédio a que o mundo necessita nas suas aflições actuais nunca poderá ser o mesmo exigido numa era posterior. Preocupai-vos impacientemente com as necessidades da era em que viveis e concentrai as vossas deliberações nas suas exigências e nos seus requisitos. (SEB, CVI)

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Texto original: Do Baha’is Believe in Hell? (bahaiteachings.org)


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Maya Bohnhoff é Baha'i e autora de sucesso do New York Times nas áreas de ficção científica, fantasia e história alternativa. É também compositora/cantora (juntamente com seu marido Jeff). É um dos membros fundadores do Book View Café, onde escreve um blog bi-mensal, e ela tem um blog semanal na www.commongroundgroup.net.

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