sábado, 6 de dezembro de 2014

Os Iconoclastas e a Religião: destruir os ídolos

Por David Langness.

... A Essência de Deus é incompreensível, assim como também são os mundos além deste e a sua condição. É concedida ao homem a capacidade para obter conhecimento, para atingir a grande perfeição espiritual, para descobrir verdades ocultas e até manifestar os atributos de Deus; mas, apesar disso, o homem não pode compreender a essência de Deus. Quando o sempre crescente círculo do conhecimento do homem se encontra com o mundo espiritual, um Manifestante de Deus é enviado para espelhar o Seu esplendor. ('Abdu'l-Bahá, 'Abdu'l-Baha in London, p. 66)
O leitor considera-se um iconoclasta?

Geralmente, usamos esse termo para referir as pessoas que desafiam o dogma, as crenças ou as instituições tradicionais quando julgam que as ideias e conceitos amplamente aceites estão erradas. Mas a palavra nem sempre teve esse significado.

Consegue adivinhar de onde veio a palavra? Sim, você provavelmente está a pensar correctamente que a origem da palavra é ícone, que originalmente se aplicava a ícones religiosos, aquelas representações físicas da Divindade que algumas pessoas de facto adoravam. Iconoclasta originalmente significava alguém que deliberadamente destruía ícones e imagens religiosas. [Iconoclasta vem do grego Eikon, que significa imagem; e o verbo grego klaein, que significa quebrar.] Em sentido inverso, a iconodulia significa a adoração de ídolos, ícones, estátuas, ou, por extensão, alguém que venera os sistemas de crenças tradicionais.

Abraão destruindo os ídolos
Visto desta maneira, os grandes iconoclastas foram os fundadores e os profetas de grandes religiões mundiais - Abraão, Moisés, Jesus, Maomé e Bahá'u'lláh, por exemplo - que destruíram todos os ídolos, de forma literal ou figurativa. Eles revolucionaram o mundo da fé, mudando a vida de milhões de pessoas e fazendo evoluir o conhecimento espiritual do mundo, desafiando sempre a tradição e o dogma aceites, substituindo-os por um novo conjunto de ensinamentos. Eles destruíram os nossos ícones, e pediram-nos que víssemos para lá do material, para o espiritual.

O leitor pensa em si próprio como um iconoclasta ou um iconodulista? Se se sente mais atraído mais pelo ponto de vista iconoclasta, provavelmente concorda que é disparatado tentar entender Deus de forma literal e fundamentalista, ou até mesmo pensar num Criador em termos humanos limitados.

Também é exactamente isso que as escrituras Bahá’ís afirmam. Os Bahá’ís acreditam que os seres humanos necessitam de um intermediário para começar a entender um Deus, que em última análise é incognoscível. Esses intermediários - os profetas e fundadores das grandes religiões do mundo, esses poderosos mensageiros que os ensinamentos Bahá'ís descrevem como "Manifestantes de Deus" - trazem-nos provas reais dos atributos de Deus. Nas suas vidas, nas suas condutas, no seu amor por toda a humanidade, esses Manifestantes dão-nos uma noção do potencial das nossas próprias almas, em que lugar gracioso que 'Abdu'l-Bahá refere como "o círculo cada vez maior do conhecimento do homem que encontra o espiritual mundo ".

Este parágrafo único de Bahá'u'lláh, o profeta e fundador da Fé Bahá'í, resume de forma única e lógica a forma como os Bahá’ís vêem esta verdade fundamental:
A porta do conhecimento do Ser Antigo sempre esteve, e sempre estará, fechada perante a face dos homens. Nenhuma compreensão humana conseguirá jamais ter acesso à sua Corte sagrada. Como um sinal da Sua misericórdia, porém, e como uma prova da Sua amorosa bondade, Ele tem manifestado aos homens os Sóis da Sua orientação divina, os Símbolos da Sua unidade divina, e ordenou o conhecimento destes santificados seres fosse idêntico ao conhecimento do seu próprio Ser. Quem os reconheceu, reconheceu Deus. Quem escutou o seu chamamento, escutou a Voz de Deus, e quem testemunhou a verdade da sua revelação, testemunhou a verdade de Deus. Quem se afastou deles, afastou-se de Deus, e quem não acreditou neles, não acreditou em Deus. Cada um deles é o Caminho de Deus que liga este mundo com os reinos do além, e é o Estandarte da Sua Verdade para todos os que estão nos reinos da terra e do céu. Eles são os Manifestantes de Deus entre os homens, as evidências da Sua verdade, e os sinais da Sua glória. (Bahá'u'lláh, Seleção dos Escritos de Bahá'u'lláh, sec. XXI)
Esta mensagem profunda, a mesmo que Cristo proferiu quando disse: "Quem me vê, vê o Pai" (Jo, 14:9), aparece repetidamente ao longo da história. Os Manifestantes de Deus demonstram os atributos radiantes do Criador - amor, paz, unidade, bondade, conhecimento, compreensão e compaixão. Quer se chamem Buda, Moisés, Cristo ou Bahá'u'lláh, esses Mensageiros transmitem ao mundo os mistérios de Deus, tendo vidas de enorme sacrifício para transmitir os Seus ensinamentos.

Será que isso significa, de alguma forma, que Deus Se torna um ser humano e desce à terra? Esta ideia, o conceito de encarnação, afirma que Deus assume uma forma humana. A resposta é um Não definitivo. Os ensinamentos Bahá’ís declaram:
O sol não deixa o seu lugar no céu e desce para o espelho, pois os actos de subir e descer, ir e voltar, não pertencem ao Infinito; tratam-se de métodos de seres finitos. No Manifestante de Deus, o espelho polido perfeito, surgem as qualidades do Divino numa forma que o homem é capaz de compreender. ('Abdu'l-Baha, Paris Talks, p. 25)
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Texto original: Iconoclasts and Religion - Smashing the Idols (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site BahaiTeachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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