sábado, 10 de janeiro de 2015

As experiências de quase-morte provam alguma coisa?

Por David Langness.

Saibam com toda a certeza que o homem não foi criado para a vida neste mundo pois esta é mortal e não há segurança nela. Será possível que esta grande e gloriosa criação deva terminar com a mortalidade? Será que o resultado da grande criação de Deus que é ilimitada - ou seja, o homem - deva viver neste mundo durante um certo número de dias com muitas dificuldades, problemas, sem repouso, nem descanso, e depois morra e termine na mortalidade? Não; em verdade, isto não é correcto! Não, pelo contrário, este ser glorioso e grandiosa criação foi feito para a vida eterna, a felicidade espiritual, as revelações do coração, a inspiração divina, as perfeições celestiais e virtudes do reino. ('Abdu'l-Baha, Tablet to the Baha’is of Ithaca, New York, Star of the West, Volume 9)
Durante a guerra do Vietname, tive muitos amigos que morreram em tiroteios. Apenas um voltou.

Evacuação de militares feridos no Vietname
O nosso pelotão, em patrulha na selva a leste de um local chamado Phu Bai, deparou-se com uma grande força de tropas norte-vietnamitas, e o tiroteio começou. O meu amigo Colin, um sargento de S. Francisco, foi atingido quase imediatamente. Com três ferimentos de balas de AK-47 no tronco, não tinha sinais vitais quando chegámos junto dele, mas um helicóptero Medevac pousou, e eu com outro soldado chamado Hamilton colocámos o corpo do Colin numa maca e levámo-lo dali para o helicóptero. Retirei-lhe o capacete e disse uma rápida oração antes do helicóptero levantar.

No dia seguinte, estava à espera de ouvir que o nosso pelotão ia fazer uma colecta para enviar umas flores à sua família. Em vez disso, ouvi dizer que os enfermeiros no helicóptero e os médicos num hospital de campo o tinham ressuscitado. Milagrosamente, ele estava vivo e esperava-se que recuperasse.

Uma semana mais tarde fui ao hospital de campanha na nossa base militar para tentar visitar o Colin.

Experiência de Quase-Morte do sargento Colin

"Eu morri", disse ele, sorrindo.

"Sim, eu sei", disse-lhe, acenando espantado com a cabeça. "Eras um caso perdido quando te apanhámos."

Encontrei o Colin deitado numa cama de hospital, com pensos, costuras, e ligado a vários tubos. O seu precioso amuleto da sorte, um símbolo da paz revestido a couro que ele usava sempre ao pescoço, ainda estava no seu peito. Alguns do seu sangue seco tinha manchado o couro.

Obviamente, ainda dorido e imobilizado, fez um largo sorriso quando me viu e os seus olhos brilharam.

Fiquei ali à frente dele, olhando-o pasmado.

"Quanto tempo estive ausente?" perguntou-me.

"Talvez alguns minutos antes te colocarmos no helicóptero”, respondi.

"Eu vi-te a fazer isso, tu e o Hamilton."

"O que é que queres dizer com isso?", perguntei-lhe intrigado. "Tu estavas morto, homem! Não estavas a ver nada!"

"Eu podia ver tudo, podia ouvir tudo. Depois de tu e o Hamilton me colocarem na maca ", disse Colin, olhando para o seu corpo, como se ainda pudesse ver a coisa a acontecer. "Ele pegou na parte da frente, e tu levantaste a parte de trás. Tu tiraste o meu capacete. O Hamilton disse: 'Vou ter saudades deste hippie palerma'. "

Senti um calafrio nas costas, porque aquelas tinham sido as palavras exactas do Hamilton.

Prova de Vida Após a Morte?

Este surpreendente incidente de guerra, e outros como este, despertaram o meu interesse pelas experiências de quase-morte. Desde então, tenho lido vários livros e estudos de investigação sobre "EQM" (NDE, near-death experience, em inglês), encontrei-me e falei com várias pessoas que tiveram experiências similares, após terem sido declaradas clinicamente mortas.

Assim, nesta série de artigos, vamos analisar as experiências de quase-morte e explorar o que podem significar, se são cientificamente credíveis, e se realmente provam alguma coisa sobre a vida depois da morte.

Os Bahá’ís acreditam fortemente, assim como a maioria das grandes religiões do mundo, que a vida humana continua após a morte. Como se pode ver na citação anterior de 'Abdu’l-Bahá, os ensinamentos Bahá'ís afirmam que o propósito desta existência física inclui atingir esse mundo imortal.

Por outras palavras, vivemos neste plano de existência como uma preparação para o próximo.

É claro que ninguém descobriu qualquer prova científica da existência desse outro mundo. Durante séculos as pessoas tentaram atravessar as barreiras da morte e do tempo, mas ninguém conseguiu. Isso é compreensível, porque a ciência, pela sua própria definição, estuda e mede o universo físico, não o espiritual ou metafísico. Os Bahá’ís acreditam que nos aguarda uma existência não-material, imortal e transcendente; isso, por definição, está para lá dos limites da investigação científica e das provas físicas.

Isso significa que os relatos de quem passou por experiências de quase-morte são provavelmente o mais próximo que conseguiremos chegar para compreender o que nos aguarda quando nossos corpos deixarem de funcionar e as nossas almas seguirem o seu caminho.

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Texto original: Do Near-Death Experiences Prove Anything? (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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