sábado, 21 de fevereiro de 2015

Como falar sobre Deus com um Cientista

Por Gregory Samsa e Jerry Schoendorf.

Numa manhã de 1613, ao pequeno-almoço, Cosimo de Medici e a sua mãe, a grã-duquesa italiana Cristina, começaram a discutir a verdade sobre os satélites de Júpiter. Benedetto Castelli, estudante de Galileu, que estava presente, pediu mais tarde a Galileu para comentar sobre o tema central da conversa: o conflito entre a Bíblia e a doutrina heliocêntrica, a ideia herética de que a Terra girava à volta do Sol

A resposta, a famosa "Carta à Grã-Duquesa Cristina” de Galileu, circulou amplamente nessa época na forma de manuscrito. Nela, Galileu declarou que a Bíblia ensina como se vai para o céu, e não como funciona o céu. A crença de Galileu na verdade da teoria de Copérnico alarmou alguns católicos proeminentes da época, e a Inquisição examinou a carta de Galileu para Christina. Assim começaram problemas de Galileu com a Igreja Católica. (Starry Messenger)
A história de Galileu ilustra não apenas as suas contribuições significativas para o desenvolvimento da ciência e da investigação científica; descreve também uma suposição moderna generalizada sobre a incompatibilidade básica entre ciência e religião. As opiniões sobre esta relação variam muito. Muitas pessoas, incluindo alguns líderes religiosos, ainda insistem na fidelidade escrupulosa e literal à escritura religiosa da Bíblia, do Alcorão, e outros. Outras religiões, incluindo a Fé Bahá'í, têm uma visão mais favorável em relação à ciência, dizendo que:
A religião deve estar em conformidade com a razão e estar de acordo com as conclusões da ciência. [Porque] religião, razão e ciência são realidades; portanto, esses três [religião, ciência e razão], sendo realidades, devem estar em conformidade e reconciliar-se. Uma questão ou princípio que tem natureza religiosa deve ser sancionado pela ciência. A ciência deve declará-lo válido, e a razão deve confirmá-lo, para que ele possa inspirar confiança. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 394)
Galileu
Os problemas que Galileu viveu no século XVII não seriam problemas do mundo de hoje, porque o pêndulo da verdade popular, afastou-se para muito longe do clima de certeza religiosa daquela época.

Se os dogmas religiosos costumavam ser uma forte ameaça há 400 anos, agora tornaram-se definitivamente menos assertivos à luz de tanta informação que hoje possuímos. Hoje, a ciência é por vezes creditada como tendo revelado tanto da realidade do mundo material que não há espaço livre para uma noção de Deus. Ou seja, muito daquilo que costumava ser misterioso - a existência da humanidade, a perfeição do surgimento da vida na Terra, o funcionamento do universo - agora pode ser explicado através da biologia, da astronomia, da física e de outras áreas da ciência. E apesar de subsistirem enormes mistérios cósmicos, muitas pessoas acreditam que a ciência acabará por entender plenamente o universo, não deixando qualquer espaço para Deus.

No entanto, o que tem a ciência a dizer sobre a abstracção, a ética, a estética, as virtudes, a criatividade, etc.? Porque é que ainda nos perguntamos porque estamos aqui? De onde viemos? Será que temos um propósito? Será que temos valor intrínseco? O que acontece quando morremos? Em 1912, ‘Abdu'l-Bahá questionou uma audiência em Minneapolis:
Se perguntarmos a mil pessoas "Quais são as provas da realidade da Divindade?", talvez nem uma seja capaz de responder. E se perguntarmos ainda "Que provas tem sobre a essência de Deus?" "Como é que explica a inspiração e a revelação?" "Quais são as evidências de uma inteligência consciente para além do universo material?" "Consegue sugerir um plano e um método para melhorar as moralidades humanas?" "Consegue definir e diferenciar com clareza o mundo da natureza e do mundo da Divindade?"- receberíamos muito pouco conhecimento real ou esclarecimento sobre estas questões. (The Promulgation of Universal Peace, p. 326)
'Adbu’l-Bahá continuou a falar das várias razões para isso, referindo que o "desenvolvimento das virtudes ideais tem sido negligenciado". As pessoas não podem investigar estes assuntos por si próprias, salientou ‘Adbu’l-Bahá; em vez disso, confiam em superstições e tradições do passado para lhes dar uma compreensão sobre os conceitos espirituais. O cidadão médio pode ter mais a dizer sobre o clima do que sobre as questões colocadas por ‘Abdu’l-Bahá.

Então, talvez nos devêssemos perguntar: quais são as nossas convicções morais, éticas, espirituais ou religiosas? De onde vêm essas convicções? Quais são as razões ou factos que sustentam as nossas crenças? É importante que as nossas crenças sejam suportadas pela ciência? Sentimos que o uso da ciência e do método científico é uma forma inteligente para determinar as coisas que podem sustentam nossas crenças?

E, claro, que rumo deveremos tomar se concluirmos que a maioria das religiões não são credíveis, e se desejamos seguir princípios éticos, morais e espirituais que sejam inteligente e razoáveis?

Esta série de pequenos artigos presume que a maioria das pessoas desejam tomar as suas próprias decisões sobre a divindade, Deus e a revelação, e esperam fazer essas escolhas de uma forma razoável e inteligente de uma forma com a qual possam viver e explicar aos outros. Por isso, lançamos esta questão: quais os métodos que podem ajudar a definir a realidade e verdade; que podem orientar a própria busca de um significado e propósito para a vida; e estabelecer a integridade e um código de ética que possam proporcionar satisfação e contentamento permanentes?

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Texto original: How to Talk to a Scientist About God (bahaiteachings.org)

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Gregory Samsa é director de estudos de pós-Graduação no Departamento de Bioestatística e Bioinformática na Universidade de Duke (EUA), e entre os seus interesses intelectuais está a desconstrução da prática estatística em componentes que podem ser estudadas cientificamente. Um pai de 5 filhos e treinador de futebol em escolas de ensino secundário.
Jerry Schoendorf é um ilustrador médico reformado e anaplastologista que trabalhou na Universidade de Duke e mais tarde num consultório particular em Durham (Carolina do Norte, EUA). Vive em Chapel Hill, Carolina do Norte, onde se dedica à ilustração, apicultura, e olaria.

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