sábado, 28 de fevereiro de 2015

Guerras Trinitárias: Lógica, Razão e Fé

Por Tom Tai-Seale.


É certo que a ideia da Trindade contém alguma verdade, mas isso depende de como se definem as suas partes componentes. Os cristãos nem sempre usam o termo "Filho" de formas consistentes. Às vezes, é apenas um sinónimo de Logos, o primeiro atributo de Deus: a Sua Palavra ou a Razão.

Neste caso, é fácil perceber como o Filho é co-eterno com Deus, da mesma forma que o sol é inconcebível sem os seus raios de luz. Usando esta metáfora, poderíamos falar do Pai e do Filho - do sol e dos raios de sol - como sendo da mesma substância luminosa. Noutros casos, porém, o termo "Filho" refere-se apenas ao homem Jesus. Aqui o Filho é apenas um sinónimo do Jesus histórico, o único que tinha um corpo e que sofreu e morreu na cruz. Este filho não era, obviamente, fisicamente grande como o Pai. Alem disto, os cristãos, por vezes, também usam o termo "Filho" para se referirem a natureza de Jesus.

É óbvio que existem dificuldades com o uso ocasional do termo "Filho de Deus". Para os muçulmanos isto ameaça banalizar o poder e transcendência de Deus, atribuindo-lhe uma função humana de ter um filho. Como dissemos anteriormente, isto também faz do Jesus histórico um parceiro com Deus, ignorando os seus aspectos humano e subordinado. Como veremos, os ensinamentos cristãos, muçulmanos e bahá’ís exigem que seja reconhecida a humanidade de Jesus e a humanidade de cada um dos Eleitos de Deus. Estes Eleitos são servos, segundo o Alcorão. O Deus único e verdadeiro não pode ter igual, nem parceiro, e nem filho. Tentar atribuir outras coisas ao Deus Único é uma tentativa para atribuir a Deus as limitações do nosso mundo e da nossa linguagem. Os muçulmanos, corretamente, resistiram a isto. Os cristãos deviam fazer o mesmo.

S. Tomás de Aquino
Por outro lado, uma grande parte desta questão da Trindade gira em torno da lógica e da racionalidade. A maioria dos teólogos cristãos que tentaram explicar a doutrina da Trindade falhou. O conhecido filósofo cristão Agostinho, quando tentou explicar a doutrina da Trindade, acabou por concluir que a explicação não está ao alcance da linguagem humana, dizendo que "devemos acreditar antes de compreender". Este apelo à fé em detrimento da razão funcionou durante algum tempo na idade média; mas à medida que a humanidade progredia e educação se tornava mais difundida, o simples apelo para aceitar uma doutrina apenas com base na fé começou a perder o seu encanto.

Depois do fracasso de Agostinho para descrever a Trindade, em termos lógicos ou compreensíveis, o grande teólogo e pensador cristão Tomás de Aquino concluiu que tanto a razão como a fé devem ser requisitos da teologia; e declarou, no seu majestoso trabalho Summa Theologica, que a teoria de três pessoas da Trindade não poderia ser defendida de qualquer forma racional ou compreensível:
Dir-se-ia que não há várias pessoas em Deus. Pois a pessoa é a substância individual de uma natureza racional. Então, se existirem várias pessoas em Deus, deve haver várias substâncias; e isso aparenta ser uma heresia.
A perspectiva Bahá’í sobre a Trindade coloca uma ênfase semelhante na unicidade de Deus, e também defende a racionalidade, pedindo que ninguém seja obrigado a aceitar um dogma de fé que não pode ser entendido de forma racional e lógica:
A questão da Trindade, desde o tempo de Sua Santidade Cristo até agora, é a crença dos cristãos, e até hoje todos os sábios entre eles estão perplexos e confundidos. Todos confessaram que a questão está além do alcance da razão, pois três não se podem tornar um, nem um em três. Unir estes é impossível; ou é um, ou é três. (‘Abdu'l-Baha, Tablets de Abdu'l-Baha v3, p. 512)
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Texto Original (em inglês): The Trinity Wars: Logic, Reason and Faith (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A&M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

1 comentário:

Emmanuel disse...

THANKS

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