terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Guerras Trinitárias: Problemas com Palavras

Por Tom Tai-Seale.


O conceito de Trindade tornou-se simultaneamente popular e controverso de um dia para o outro. A simplicidade do Credo de Constantinopla facilitou a sua divulgação, mas ao mesmo tempo a ideia de uma substância comum a três pessoas ocultava uma tremenda diversidade de significados possíveis. Um cristão podia entendê-la como significando qualquer coisa desde um politeísmo aberto (três deuses agindo em conjunto) até à divisão de Deus em partes (um Deus com três funções) e quase incontáveis interpretações entre estes dois.

A palavra substância (homoousia), por exemplo, torna-se um desafio quando a própria substância não está definida. Depois, há problemas com o termo "pessoa". O que significa a palavra "pessoa" quando falamos de Deus? E mesmo um grande trinitarista como Agostinho não gostou do termo hipóstase, que é usado para designar uma das três "pessoas" na Trindade.

Maomé recebendo a Revelação
Seiscentos anos depois de Cristo - 3 séculos após o primeiro credo trinitário - o conceito enfrentou o seu primeiro grande desafio por parte de uma voz com autoridade. Maomé advertiu:
Povo do Livro, não exagereis na vossa religião e dizei apenas a verdade sobre Deus: Jesus Cristo, o filho de Maria, era apenas um mensageiro de Deus e da Sua Palavra que Ele lançou em Maria, e um espírito proveniente Dele. Acreditai em Deus e nos Seus mensageiros, e não digais: Três. Abstei-vos! Será melhor para vós. Só Deus é Deus; Glória a Ele; longe Dele ter tido algum filho! Ele possui tudo o que está nos Céus e tudo o que está na Terra. Deus é suficiente como Guardião. (Alcorão 4:171)
É de notar que os muçulmanos aceitam claramente as três componentes da fé: Deus, o Seu Mensageiro (que eles reconhecem como Jesus para os Cristãos) e o Espírito Santo. Eles aceitam que Jesus era a Palavra de Deus, que Ele nasceu de uma virgem (ver 21:91 e 19:16-36), e que Ele procedeu de Deus. Mas opõem-se ao conceito não-bíblico de trinitarismo, dizendo que Deus é uno.

A sua fé está de acordo com o livro do Apocalipse, que proclama: "Adorai aquele que fez o céu e a terra, o mar, e as fontes de água. (Ap. 14:7 Veja também 19:10 e 22:9). Deus, na sua opinião, é o único objecto da adoração.

É claro que isso está de acordo com muitos grandes pensadores cristãos. Deus é a fonte; sem Ele não haveria nem Filho, nem espírito. Tertuliano, o grande apologista cristão do início do século III, lembra-nos:
Pois o Pai é toda a substância, mas o Filho é uma derivação e porção do todo ... Assim, o Pai é distinto do Filho, sendo maior do que o Filho, na medida em que aquele que gera é um e aquele que é gerado é outro. (Against Praxeas 9. James P. Mackey Jesus the Man and the Myth SCM Press, LTD. 1979 p. 225)
Toda esta teoria dogmática vem de uma incompreensão fundamental do simbolismo que Cristo usa na Bíblia. A perspectiva Bahá’í sobre este tipo de pensamento literalista retorcido é simples; e ‘Abdu'l-Bahá ilustra-o contando uma história:
Sua santidade Cristo afirmou "O Pai está em mim." Isso nós devemos compreender através de provas lógicas e científicas, pois, se os princípios religiosos não estão de acordo com a ciência e a razão, eles não enchem o coração com confiança e segurança.

Diz-se que uma vez que João Crisóstomo estava a caminhar à beira-mar a pensar sobre a questão da trindade e a tentar conciliá-la com a razão finita; a sua atenção foi atraída por um rapaz sentado na areia que colocava água num copo. Aproximando-se dele, perguntou-lhe: "Meu filho, o que estás a fazer?" "Estou a tentar colocar o mar neste copo", foi a resposta. "Como és tonto", disse João, "a tentar fazer o impossível." A criança respondeu: "O teu trabalho é mais estranho do que o meu, porque estás a esforçar-te para compreender o conceito da trindade com o intelecto humano ". (‘Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, p. 152)

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Texto Original: The Trinity Wars: Term Trouble (bahaiteachings.org)

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Tom Tai-Seale é professor de saúde pública na Texas A & M University e investigador de religião. É autor de numerosos artigos sobre saúde pública e também de uma introdução bíblica à Fé Bahai: Thy Kingdom Come, da Kalimat Press

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