sábado, 13 de junho de 2015

Conspirações e Pseudociência

Por David Langness.


Se for contrária à ciência e à razão, então é superstição. Uma teoria que não é aceitável para a mente do homem e que a ciência rejeita, está privada de realidade. ('Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 2, p. 7)
Ultimamente tenho notado que alguns dos meus amigos começaram a acreditar em coisas muito estranhas.

Já ouviram falar em "Geoengenharia" e "Rastos Quimicos” (chemtrails)? Essa ideia sustenta a existência de uma vasta conspiração entre os governos e as companhias aéreas para pulverizar a atmosfera superior com produtos químicos tóxicos. Supostamente, os produtos químicos são feitos para: 1) alterar o clima; 2) manipular psicologicamente os seres humanos; 3) fazer uma guerra biológica. Esta crença pressupõe a existência de um plano secreto e diabólico, que envolve 40 mil pilotos de companhias aéreas comerciais que participam numa conspiração para nos envenenar a nós, e aos seus próprios filhos.

Apesar da conspiração dos "Rastos Químicos" ter sido investigada e refutada por muitas universidades famosas e conceituadas, pelas mais conhecidas as organizações científicas, e pelas principais publicações científicas, ela ainda persiste.

Depois, há o “movimento da verdade”, uma teoria da conspiração sobre o “11 de Setembro”, na qual os cépticos afirmam que a tragédia terrorista do 11 de Setembro nos Estados Unidos foi "um trabalho interno", organizado secretamente e realizado por elementos conspiradores e ocultos dentro do próprio governo dos EUA.

O movimento dos “negacionistas” das alterações climática questiona a validade e o âmbito da ciência do clima, apesar do nível crescente do aquecimento global ter sido repetidamente provado e aceite pela grande maioria dos cientistas e organizações científicas mundiais.

E também já ouvimos falar do o movimento "anti-vacinação", que rejeita as vacinas para as crianças e usa "evidências" pseudocientíficas desacreditadas para provar suas alegações.

E há a ideia ridícula de que os governos ocidentais estão a monitorizar todas as nossas comunicações telefónicas e e-mail ... Umm, esperem. Esta tem um pouco de verdade, não é?

Como é que nós - cidadãos, membros do público, maioritariamente não-cientistas - avaliamos todas essas teorias e suas afirmações distintas? Como podemos distinguir entre a pseudociência e a realidade?

Os ensinamentos Bahá'ís recomendam dois rumos de acção muito claros para cada um de nós. Em primeiro lugar, educar; e, em segundo, investigar:
... A educação é a base indispensável de toda excelência humana e permite ao homem fazer o seu caminho até aos cumes da glória eterna. ('Abdu'l-Bahá, Seleção dos Escritos de 'Abdu'l-Bahá, nº 103)

Para encontrar a verdade, devemos desistir das nossas pequenas ideias. O facto de imaginarmos estar certos e todos os outros para estarem errados, é o maior obstáculo... Assim, devemos renunciar aos nossos próprios preconceitos e superstições particulares, se somos sinceros na nossa busca da verdade. A menos que façamos uma distinção clara entre dogma, superstição, preconceito, por um lado, e Verdade, por outro, nunca seremos bem sucedidos. Quando queremos encontrar uma coisa, procuramo-la em todos os lugares; por isso temos de seguir este princípio na nossa busca da verdade. A ciência deve ser aceite. A luz é boa em qualquer lâmpada que brilhe; uma rosa é bela em qualquer jardim onde cresça; uma estrela tem o mesmo brilho onde quer que surja. (‘Abdu'l-Bahá, Star of the West, Volume 2, pp 3-4)

... Temos de pôr de lado essas crenças e investigar a realidade. Aquilo que descobrirmos ser real e estiver conforme a razão deve ser aceite, e qualquer que a ciência e a razão não possam sustentar, deve ser rejeitado como imitação e não realidade. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 175
Os Bahá'ís confiam na ciência e não na superstição. Em matéria de política, facto e fé, os ensinamentos Bahá'ís dizem que os nossos sistemas de crenças devem todos ser objecto de análise lúcida da razão e da racionalidade:
[A religião] deve concordar com factos e provas científicas para que a ciência aprove a religião e a religião fortaleça a ciência. Ambas estão indissociavelmente ligadas e unidas na realidade. Se as afirmações e ensinamentos da religião forem contrários à ciência e à razão, então são resultado da superstição e da imaginação. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 175)
Assim, se podem existir cabalas e conspirações hostis, a nossa responsabilidade como indivíduos implica que nos informemos sobre os factos reais e usemos a razão e a ciência para determinar a verdade. Teorias da conspiração e pseudociência podem confortar-nos, levando-nos a acreditar que nós, humanos, construímos convulsões aleatórias e complexas que perturbam o mundo, e conseguimos ver padrões onde eles não existem; mas temos de ver para lá do conforto das nossas noções e descobrir a ciência e da base factual da realidade.

Se conseguirmos fazer isso nas nossas interacções diárias com o mundo, também podemos fazê-lo com as nossas crenças religiosas:
Se as afirmações e ensinamentos da religião forem contrários à ciência e à religião, eles são resultado da superstição e da imaginação. Inúmeras doutrinas e crenças desse tipo surgiram nos tempos do passado. Considerai as superstições e mitologia dos romanos, dos gregos e dos egípcios; todas eram contrárias à religião e ciência. Agora é evidente que as crenças dessas nações eram superstições, mas naqueles tempos eles acreditavam firmemente nelas. Por exemplo, um dos muitos ídolos egípcios era para essas pessoas um verdadeiro milagre, quando na realidade era um bloco de pedra. Como a ciência não poderia aceitar a origem e natureza milagrosa de um pedaço de rocha, a crença nela deve ter sido superstição. É agora evidente que era superstição. Portanto, devemos pôr de lado essas crenças e investigar a realidade. Aquilo que for considerado real e conforme a razão deve ser aceite, e qualquer coisa a ciência e a razão não possam suportar, deve ser considerado imitação e não realidade. Assim, as diferenças de crença irão desaparecer. Tudo se tornará como uma única família, um só povo, e a mesma susceptibilidade à generosidade e educação divina será testemunhada entre a humanidade. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, pp 175-176)

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Texto original: Conspiracies and Pseudoscience - How to Separate Fact from Theory (bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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