segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Laudato Si’: Erradicar a Corrupção do Sistema Económico

Por Arthur Lyon Dahl.


Deve existir uma solução para os problemas sociais e questões económicas baseada na justiça para todos (’Abdu’l-Baha, Star of the West, Volume 6, p. 314.)
Na sua recente encíclica sobre a pobreza e o ambiente intitulada Laudato Si ', o Papa refere frequentemente o problemas da corrupção:
…quando é a cultura que se corrompe deixando de reconhecer qualquer verdade objectiva ou quaisquer princípios universalmente válidos, as leis só se poderão entender como imposições arbitrárias e obstáculos a evitar.. (¶123)
A encíclica critica a forma como os métodos e os objectivos da ciência e da tecnologia se tornam um paradigma epistemológico, com um reducionismo em que os produtos tecnológicos acabam por condicionar estilos de vida e moldar possibilidades sociais segundo regras ditadas pelos interesses de certos grupos poderosos. O paradigma tecnológico tornou-se tão dominante que seria difícil viver sem os seus recursos e ainda mais difícil de utilizá-los sem ser dominado pela sua lógica interna. Especialização tecnológica torna difícil ver o panorama geral:
A fragmentação do saber realiza a sua função no momento de se obter aplicações concretas, mas frequentemente leva a perder o sentido da totalidade, das relações que existem entre as coisas, do horizonte alargado: um sentido, que se torna irrelevante. Isto impede de individuar caminhos adequados para resolver os problemas mais complexos do mundo actual, sobretudo os do meio ambiente e dos pobres, que não se podem enfrentar a partir duma única perspectiva nem dum único tipo de interesses. Uma ciência, que pretenda oferecer soluções para os grandes problemas, deveria necessariamente ter em conta tudo o que o conhecimento gerou nas outras áreas do saber, incluindo a filosofia e a ética social. (¶110)
Esta referência a uma ciência de "grandes questões" reflecte os apelos da comunidade científica para uma nova ciência da sustentabilidade integrada em todas as disciplinas. Também reflecte os ensinamentos Bahá'ís sobre entendimento básico e equilíbrio necessário entre a ciência e a religião:
Qualquer crença religiosa que não esteja de acordo com provas e investigações científicas é superstição, pois a verdadeira ciência é a razão e a realidade, e a religião é essencialmente a realidade e a razão pura; assim, os dois devem concordar. O ensinamento religioso que estiver em desacordo com a ciência e a razão é invenção humana e imaginação indigna de aceitação, pois a antítese e oposto do conhecimento é a superstição nascida da ignorância do homem. Se dizemos que a religião se opõe à ciência, então não temos conhecimento da verdadeira ciência ou da religião verdadeira, pois ambas se baseiam nos pressupostos e conclusões da razão, e ambos devem passar no seu teste. (Abdu'l-Baha, The Promulgation of Universal Peace, p. 104.)
A ampla crítica do Papa à corrupção alarga-se ao sistema económico, e à aceitação fácil de:
...a ideia dum crescimento infinito ou ilimitado, que tanto entusiasmou os economistas, os teóricos da finança e da tecnologia. Isto supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a «espremê-lo» até ao limite e para além do mesmo. (¶106)
O poder absoluto do sistema financeiro só vai dar origem a novas crises, diz o Papa:
A crise financeira dos anos 2007 e 2008 era a ocasião para o desenvolvimento duma nova economia mais atenta aos princípios éticos e para uma nova regulamentação da actividade financeira especulativa e da riqueza virtual. Mas não houve uma reacção que fizesse repensar os critérios obsoletos que continuam a governar o mundo. (¶189)
O paradigma tecnocrático tende a exercer o seu domínio também sobre a economia e a política. A economia assume todo o desenvolvimento tecnológico em função do lucro, sem prestar atenção a eventuais consequências negativas para o ser humano. A finança sufoca a economia real. Não se aprendeu a lição da crise financeira mundial e, muito lentamente, se aprende a lição do deterioramento ambiental… quando parece não preocupar-se com o justo nível da produção, uma melhor distribuição da riqueza, um cuidado responsável do meio ambiente ou os direitos das gerações futuras. … Não temos suficiente consciência de quais sejam as raízes mais profundas dos desequilíbrios actuais: estes têm a ver com a orientação, os fins, o sentido e o contexto social do crescimento tecnológico e económico. (¶109) 
As previsões catastróficas já não se podem olhar com desprezo e ironia. Às próximas gerações, poderíamos deixar demasiadas ruínas, desertos e lixo. O ritmo de consumo, desperdício e alteração do meio ambiente superou de tal maneira as possibilidades do planeta, que o estilo de vida actual – por ser insustentável – só pode desembocar em catástrofes, como aliás já está a acontecer periodicamente em várias regiões. A atenuação dos efeitos do desequilíbrio actual depende do que fizermos agora, sobretudo se pensarmos na responsabilidade que nos atribuirão aqueles que deverão suportar as piores consequências. (¶161)
Os ensinamentos Bahá'ís concordam e exigem uma solução espiritual para crise económica e para a corrupção:
Nenhum livro religioso dos profetas do passado fala da questão económica, mas este problema foi resolvido completamente nos ensinamentos de Bahá'u'lláh. Algumas leis foram reveladas para garantir o bem-estar de toda a humanidade. Tal como o homem rico gosta do seu repouso e dos seus prazeres rodeado por luxos, o pobre homem também deve ter um lar, dispor de sustento, e não viver carenciado. Enquanto isto não for realizado, a felicidade é impossível. Todos são iguais aos olhos de Deus; os seus direitos são um e não há distinção entre as almas; todos estão protegidos sob a justiça de Deus. ('Abdu'l-Baha, Star of the West, Volume 6, p. 5)

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Texto original: Rooting Out the Corruption in our Economic Systems (bahaiteachings.org)

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Arthur Lyon Dahl foi investigador do Museu de História Natural de Washington e consultor da UNCED (United Nations Conference on Environment and Development). É autor de diversas publicações e actualmente é Presidente do Forum Ambiental Internacional, em Genebra (Suiça)

1 comentário:

Adriano disse...

não deveria existir dinheiro no mundo...deviamos todos ser livres até nesse ponto.