sábado, 12 de dezembro de 2015

A Consciência Humana é uma prova da existência de Deus?

Por David Langness.


Consciência: (1) conhecimento imediato da própria actividade psíquica; (2) faculdade de se conhecer intuitivamente; (3) sentimento de si próprio; (4) conhecimento espontâneo e mais ou menos vago; impressão; (5) [psicologia] parte da actividade psíquica de que o sujeito tem um conhecimento intuitivo; (6) [filosofia] estado no qual o sujeito se conhece enquanto tal, e se distingue dos objectos que o rodeiam; (Dicionário Porto-Editora)

... o mais longo alcance da evolução, talvez seja (apenas talvez) a consciência de um indivíduo atingir, de facto, o infinito ... (Ken Wilber)
Pense rapidamente num número entre um e dez. Pensou? O facto de conseguir fazer isso prova que você é humano. Porquê? Porque os seres humanos têm o dom único e notável da consciência, o conhecimento interior de si próprios como seres sensíveis, o que nos dá a capacidade de pensar em termos abstractos.

Todas as grandes conquistas da civilização humana vieram da nossa consciência.

Todos os filósofos e os neurocientistas tentaram definir essa qualidade humana indescritível chamada consciência, com diferentes graus de sucesso. A maioria, porém, concordaria que consciência significa que temos pensamentos, sentimentos e auto-percepção. Temos uma vida interior na mente, no coração e na alma. A capacidade de estar ciente de nós próprios é o que nos torna humanos.

Essa consciência plenamente desenvolvida sobre a vida e a ordem do universo, é na sua forma mais elevada, aquilo a que chamamos iluminação. Esta faculdade humana distingue-nos de qualquer outra coisa na criação:
Na diferenciação da vida no mundo de existência, existem quatro níveis ou reinos, - o mineral, vegetal, animal e humano. O reino mineral possui uma determinada qualidade que designamos coesão. O reino vegetal possui a qualidade da coesão e ainda o poder do crescimento ou o poder aumentativo. O reino animal possui as qualidades do mineral e do vegetal, acrescidos dos poderes dos sentidos. Mas o animal, embora dotado de sentidos, está totalmente privado de consciência, absolutamente sem contacto com o mundo da consciência e espírito. O animal não possui qualquer poder com o qual possa fazer descobertas que estejam além do domínio dos sentidos. Ele não tem poder de criação intelectual. Por exemplo, um animal localizado na Europa não é capaz de descobrir o continente da América. Apenas compreende fenómenos que estejam no âmbito dos seus sentidos e instintos. Não consegue raciocinar de forma abstracta. O animal não pode conceber que a terra seja esférica ou que rode sobre o seu eixo. Ele não consegue perceber que as pequenas estrelas no céu são mundos enormes, imensamente maiores do que a terra. O animal não tem raciocínio intelectual abstracto. Não está dotado com esses poderes. Portanto, esses poderes são característicos do homem e torna-se evidente que no reino humano há uma realidade que o animal não tem. Qual é essa realidade? É o espírito do homem. Por isso o homem distingue-se acima de todos os outros reinos materiais. Embora ele possua todas as qualidades dos reinos inferiores que ele está ainda dotado da faculdade espiritual, o dom celestial da consciência. ('Abdu'l-Baha, Foundations of World Unity, pp. 90-91)
E porque existe consciência, os filósofos têm afirmado que ela deve ter sido criada por uma consciência maior, uma fonte derradeira. Aqui fica a estrutura desse raciocínio lógico sobre a existência de um Criador, que os filósofos designam como o argumento da consciência:

  • A consciência faz-nos humanos;
  • A nossa consciência deve ter uma origem;
  • Nada mais na natureza tem uma consciência humana;
  • Por definição, a parte não pode possuir qualquer coisa que não exista no todo;
  • Nós somos parte de um todo maior do que a natureza;
  • Esse todo maior só pode ser representado por uma Consciência Superior.

Esta prova da existência de um Criador tem subjacente uma lógica particularmente subtil e perspicaz. Numa carta ao famoso cientista suíço Auguste Forel, 'Abdu'l-Bahá explica:
... A mente prova a existência de uma Realidade invisível que envolve todos os seres, e que existe e se revela em todas as fases, cuja essência está além do alcance da mente. Assim, o mundo mineral não entende nem a natureza, nem as perfeições do mundo vegetal; o mundo vegetal não entende a natureza do mundo animal, nem o mundo animal entende a natureza da realidade do homem, que descobre e envolve todas as coisas...

O homem tem os poderes da vontade e compreensão, mas a natureza não os tem. A natureza está limitada; o homem é livre. A natureza está privada de raciocínio; o homem raciocina. A natureza não tem conhecimento de eventos passados; mas o homem está ciente deles. A natureza não prevê o futuro; homem com o seu poder de discernimento vê o que está para vir. A natureza não tem consciência de si própria; o homem tem conhecimento sobre todas as coisas.

... A alma sábia e pensante saberá, com certeza, que este universo infinito com toda a sua grandeza e ordem perfeita não poderia ter vindo à existência por si próprio. ('Abdu'l-Baha, Tablet to Auguste Forel, pp 10-17)
Este argumento da consciência apresenta uma prova particularmente moderna sobre a existência de Deus:
A prova racional da imortalidade do espírito é esta: nenhum efeito pode ser produzido a partir de uma coisa inexistente; ou seja, é impossível que qualquer efeito possa aparecer do nada absoluto. Porque o efeito de uma coisa é secundário à sua existência, e o que é secundário está condicionado pela existência daquilo que é primário. Assim, a partir de um sol inexistente nenhum raio pode brilhar; de um mar inexistente nenhumas ondas podem surgir; a partir de uma nuvem inexistente nenhuma chuva pode cair; de uma árvore inexistente nenhuma fruta pode aparecer; de um homem inexistente nada pode se manifestar ou produzir. Portanto, porque os sinais da existência são visíveis, estes provam que existe o autor desse efeito...

Esta questão é muito subtil; considere-a atentamente. Estamos a apresentar uma prova racional, que as mentes racionais podem avaliar na balança da razão e da imparcialidade. ('Abdu'l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, pp. 259-260)

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Texto original: Does Human Consciousness Prove that God Exists? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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