sábado, 23 de janeiro de 2016

E se o Universo não tivesse início?

Por David Langness.


Tal como escreveu um poeta persa: "O Universo Celestial está formado de tal maneira que mundo inferior reflecte o mundo superior." Isso quer dizer que tudo o que existe no céu é reflectido neste mundo dos fenómenos. - Abdu'l-Baha, Abdu'l-Bahá in London, p. 45.
Será que o universo sempre existiu, ou teve um início?

Vou responder a esta pergunta com outra pergunta: já ouviram falar de sacerdote Católico belga, astrónomo e físico chamado Georges Henri Joseph Édouard Lemaître?

Pe. Georges Lemaître
Não? Eu também não, até que comecei a recolher informação para uma série de artigos sobre a imensidão do universo. Acontece que o Padre Lemaître - falecido em 1966 - foi o primeiro a propor o conceito de Big Bang, também conhecida como a teoria da expansão do universo. A sua teoria é agora o modelo cientificamente (e publicamente) aceite sobre tempo e criação cosmológicos.

Quando ensinava física na Universidade Católica de Lovaina, na Bélgica, Lemaître fez a estimativa inicial, em 1927, daquilo a que a ciência agora chama a Constante de Hubble - a taxa de aceleração de todos os objectos no universo conhecido. Edwin Hubble, o famoso astrónomo americano, confirmou a teoria de Lemaître dois anos depois. Hubble recebe frequentemente o crédito pela descoberta, mas, na verdade, foi Lemaître quem chegou lá primeiro, quando concluiu que todo o universo tinha sido uma única entidade num ponto de ultra-massivo, extremamente denso e super-quente, que depois se expandiu para o infinito.

No início, poucos cientistas aceitaram o conceito do Big Bang. Ao contrário de um universo em expansão, a maioria acreditava num universo estático, estacionário e de dimensão finita, especialmente os físicos influentes como Albert Einstein. Einstein disse a Lemaître, "Os seus cálculos estão correctos, mas sua física é atroz." Até mesmo o nome popular da teoria (que Lemaître começou por designar como "hipótese do átomo primitivo"), veio de um programa de rádio da BBC em 1931, quando o astrónomo inglês Fred Hoyle se referiu sarcasticamente à ideia como "The Big Bang" (a grande explosão). O nome pegou, e agora é utilizado sem qualquer sarcasmo.

Einstein e Lemaître
(Talvez lhe interesse saber que que Einstein, para seu crédito, mais tarde chamou à sua teoria de universo estático o seu maior erro. Em 1931, foi especialmente até ao Observatório Mount Wilson, na Califórnia para agradecer a Edwin Hubble o facto de ter revolucionado a nossa compreensão moderna do universo. Dois anos depois, Einstein e Lemaître viajaram pela Califórnia para fazer uma série de palestras, e Einstein proferiu a famosa frase "Esta é a explicação mais bonita e satisfatória sobre a criação que eu já ouvi.")

Hoje, muitas pessoas concordam, e acreditam firmemente, no conceito do Big Bang - que o universo começou há 13.8 mil milhões de anos atrás, com uma explosão colossal de matéria e energia. Praticamente todos os textos sobre física contemporânea abordam a teoria de Lemaître como a ciência aceite. No entanto - e isto ilustra as limitações do nosso conhecimento científico - os físicos sabem que todos os conceitos sobre o princípio do universo são apenas um palpite. Isso porque as leis da física não se aplicavam no momento da criação, se é que houve esse momento. Além desse problema essencial, não temos nenhuma prova real de como o universo se formou, ou mesmo se se formou, porque não temos nenhuma maneira de testar a teoria do Big Bang.

Os ensinamentos Bahá'ís - que defendem a harmonia essencial entre ciência e religião como um princípio básico –apresentam outro ponto de vista, que se correlaciona muito bem com as mais recentes descobertas científicas:
O universo nunca teve um início. Do ponto de vista da essência, ele transforma-se. Deus é eterno na essência e no tempo. Ele é a sua própria existência e causa. É por isso que o mundo material é eterno em essência, pois o poder de Deus é eterno. (‘Abdu'l-Bahá, Divine Philosophy, p. 107)
Alguns cientistas, entre os quais o famoso físico Roger Penrose, têm teorizado que existiu outro universo antes deste, e que o Big Bang foi possivelmente um de muitos eventos formativos. Outros concluíram que nunca houve qualquer Big Bang, e que o universo não teve um verdadeiro início. Recentemente, os físicos Ahmed Ali Farag e Saurya Das na Universidade de Lethbridge, em Alberta, Canadá, escreveram na revista Physics Letters B que o seu novo modelo da relatividade quântica mostra que o universo não teve início nem fim.

Difícil de imaginar? Os ensinamentos Bahá'ís proclamam há mais de um século:
Bahá'u'lláh diz: "O universo não teve princípio nem fim." Ele pôs de lado as teorias complexas e opiniões exaustivas de cientistas e filósofos materialistas com a simples declaração, "Não há princípio, nem fim." Os teólogos e religiosos apresentam provas plausíveis de que a criação do universo remonta há seis mil anos; os cientistas exibem factos indiscutíveis e afirmam: "Não! Essas evidências indicam dez, vinte, cinquenta mil anos atrás", etc. Há discussões intermináveis a favor e contra. Bahá'u'lláh deixa de lado essas discussões com uma palavra e afirmação. Ele diz: "A soberania divina não tem princípio nem fim." Com esta proclamação e sua demonstração Ele estabeleceu um padrão de concordância entre aqueles que reflectem sobre essa questão da soberania divina; Ele trouxe a reconciliação e a paz a essa guerra de opinião e discussão.

Resumidamente, houve muitos ciclos universais anteriores a este em que vivemos. Eles consumaram-se, concluíram-se e os seus vestígios foram obliterados. Neles, o propósito divino e criativo foi a evolução espiritual do homem, tal como é neste ciclo. O círculo de existência é o mesmo círculo; ele retorna. A árvore da vida já gerou o mesmo fruto celestial. ('Abdu'l-Bahá, The Promulgation of Universal Peace, p. 220)
Se o nosso universo não tem princípio nem fim, o que isso significa para o nosso conceito de um Criador e uma criação? Vamos abordar essa questão fascinante e intrigante no próximo artigo nesta série.

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Texto original: What if the Universe had no Beginning? (www.bahaiteachings.org)

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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