sábado, 30 de julho de 2016

Um Mundo aberto significa Migração em Massa?

Por David Langness.


Será que uma economia aberta e global implica migrações massivas e descontroladas de populações?

Por enquanto parece que sim, não é verdade?

O recente referendo do Brexit no Reino Unido focou-se muito nesta questão. Quando o Reino Unido aderiu à UE, aceitou a livre circulação de cidadãos europeus através das suas fronteiras e abdicou de controlo nacional sobre a imigração europeia. Como consequência de ser membro da UE e de ter relaxado as suas leis de imigração para outros países não europeus - como a Índia e o Paquistão - a população estrangeira nascida no Reino Unido cresceu tremendamente em duas décadas, de 3,8 milhões para 8,3 milhões de pessoas.

Isto foi deixando os Britânicos cada vez mais nervosos. Inicialmente o Reino Unido recebeu com agrado os migrantes porque a sua taxa de natalidade estava abaixo dos níveis de reposição e havia falta de mão-de-obra. Mas em 2008 deu-se a crise financeira e a criação de emprego praticamente acabou. E assim, de repente, os imigrantes e os britânicos competiam por trabalho - e muitos imigrantes aceitavam ordenados mais baixos. A taxa de desemprego subiu. O Serviço Nacional de Saúde (SNS) do Reino Unido começou a perder muito dinheiro e outros programas da Segurança Social deram sinais de tensão. E da mesma forma que já tinha acontecido no passado, noutros lugares, começou uma reacção anti-imigrante.

Os políticos do Reino Unido viram a reacção e agarraram-na. Culparam a própria UE e os imigrantes em particular. Quando rebentou a guerra na Síria e as guerras americanas (ou por proxies) no Afeganistão e Iraque se intensificaram, milhões de pessoas fugiram para a Europa. O grupo Estado Islâmico formou-se, expandiu-se e atacou. E apesar da Alemanha e da Suécia terem concordado em aceitar a maior parte dos refugiados que estas guerras produziam, e o Reino Unido até hoje só ter recebido 4300 refugiados sírios, as forças do Brexit usaram imagens assustadoras de hordas de refugiados na sua campanha anti-UE. Foi essa campanha de medo que venceu.

Refugiados chegam à fronteira da Alemanha
Mas esses receios tinham alguma razão de ser. As Nações Unidas calcularam recentemente que 65 milhões de pessoas são hoje refugiados ou migrantes involuntários, um número nunca visto. Guerras e conflitos regionais, fomes generalizadas, genocídios e limpezas étnicas, culturas de gangues criminosos e impossibilidade de trabalhar - tudo isto contribui para uma migração em massa sem precedentes que testemunhámos num passado recente. Este enorme número de pessoas que fogem dos seus países coloca ao mundo uma questão difícil: Um mundo aberto significa migração em massa?

Praticamente todas as pessoas de todos os quadrantes políticos - representantes eleitos, estrategas políticos, economistas, planeadores, futuristas, especialistas de direitos humanos e especialistas de política internacional - concordam que um mundo aberto funciona melhor que um mundo fechado. Maior vigilância nas fronteiras, aumento de tarifas comerciais, militarização de zonas fronteiriças, restrições ao movimento de pessoas, bens, serviços e capitais - tudo contribui para uma economia global mais pobre, mais lenta, e altamente disfuncional. Quando o comércio, o capital e as pessoas se podem deslocar livremente no planeta, então o mundo funciona melhor; isto tem sido amplamente demonstrado em todo o mundo.

Esta situação tem levado os observadores e comentadores sensatos a uma conclusão inevitável: o mundo tem que encontrar uma forma de criar um sistema de governação global, que tenha o poder de regular e controlar o fluxo de refugiados e migrantes - e, primeiro que tudo, acabar com as crises e as guerras que causam estas devastadoras migrações forçadas.

Focando-se simultaneamente nos sintomas e na cura, uma autoridade global com poderes executivos poderia imediatamente cortar o fluxo de bens, dinheiro e recursos às nações beligerantes, forçando a cessação das hostilidades e das guerras civis. Poderia consolidar a aplicação da lei internacional ao realizar processos de negociação e consultas para resolver os diferendos. Poderia resolver disputas de longa data entre nações em conflito e eliminar totalmente a horrível praga da guerra. Poderia regular e racionalizar o controlo das migrações dos povos do mundo, proteger os direitos humanos dos refugiados assim como os direitos dos que se encontram em países de acolhimento. Poderia, se quiséssemos, construir o - há muito desejado - futuro global unificado da humanidade com o qual que poetas e profetas sonharam desde o início dos tempos:
Unificação da humanidade inteira é a marca distintiva da etapa que a sociedade humana actualmente se aproxima. A unidade da família, da tribo, da cidade-estado e da nação foram sucessivamente tentadas e completamente conseguidas. A unidade do mundo é o objectivo para o qual a humanidade aflita se encaminha. A construção de nações terminou. A anarquia inerente à soberania do Estado está a dirigir-se em direcção a um clímax. Um mundo em amadurecimento deve abandonar esse fetiche, reconhecer a unidade e a integridade das relações humanas e estabelecer, de uma vez por todas, o mecanismo que melhor possa concretizar este princípio fundamental da sua vida...

As rivalidades nacionais, os ódios e as intrigas cessarão e a animosidade e o preconceito raciais serão substituídos pela amizade, compreensão e cooperação raciais. As causas de conflitos religiosos serão eliminados permanentemente, barreiras e restrições económicas serão completamente abolidas, e a desmesurada diferença entre as classes será obliterada. A destituição por um lado, e excessiva acumulação de bens por outro, irá desaparecer. A enorme energia que se gasta e desperdiça na guerra, seja económica ou política, será consagrada a objectivos, como o alargamento do alcance das invenções humanas e do desenvolvimento técnico, ao aumento da produtividade da humanidade, ao extermínio da doença, à extensão de investigação científica, à melhoria do nível de saúde física, ao aperfeiçoamento e refinamento do cérebro humano, à exploração dos recursos insuspeitos e não utilizados do planeta, ao prolongamento da vida humana e à promoção de qualquer outro meio que estimule a vida intelectual, moral e espiritual de toda a raça humana. (Shoghi Effendi, The World Order of Baha’u’llah, p. 203)

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Texto original: Does an Open World Mean Mass Migration? (www.bahaiteachings.org)

Artigo Anterior: Ser Global, ser Cidadão do Mundo

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David Langness é jornalista e crítico de literatura na revista Paste. É também editor e autor do site bahaiteachings.org. Vive em Sierra Foothills, California, EUA.

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