quinta-feira, 21 de setembro de 2017

O que eu aprendi com o furação Irma

Por Rebecca Sherry Eshraghi.


Vivo na Flórida, exactamente no trajecto de destruição do furacão Irma. Por sorte, a minha família e eu saímos a tempo.

O Irma causou uma tremenda devastação na Flórida e nas ilhas das Caraíbas, por isso sinto-me abençoada por ter conseguido sair antes que a tempestade chegasse, e porque a nossa casa sofreu estragos mínimos. Claro que fiquei extremamente preocupada com todos aqueles que não puderam partir.

Vocês aperceberam-se? Aparentemente está a ocorrer um aumento de desastres naturais em todo o mundo. Há quem defenda que sempre foi assim, e há outros que dizem que aumentaram em frequência e intensidade. Eu costumo concordar com estes últimos.

Por isso, pergunto-me a mim e aos outros: porquê? Quem têm uma visão científica geralmente acredita que é devido às alterações climáticas, e quem tem uma visão mais religiosa diz que é profecia e ira de Deus. E há ainda quem diga, simplesmente, que é assim que a natureza funciona. Como Bahá’í, eu sou religiosa - mas, como todos os Bahá’ís, também acredito fortemente na ciência e tento encontrar as ligações entre os dois em relação aos desastres naturais.

Os ensinamentos Bahá’ís dizem que a natureza é governada por uma lei universal, e que a religião e a ciência concordam nas suas verdades essenciais:
... a natureza está sujeita a uma sólida organização, a leis invioláveis, a uma ordem impecável e a uma concepção perfeita, das quais nunca se afasta. Até certo ponto, é verdade que se a contemplasses com olhos da percepção e do discernimento, observarias que todas as coisas - desde o menor átomo invisível até aos maiores globos do mundo da existência, tais como o sol ou outras grandes estrelas e corpos luminosos - estão perfeitamente organizadas, no que diz respeito à sua ordem, à sua composição, à sua forma exterior ou ao seu movimento, e que todas estão sujeitas a uma lei universal da qual nunca se afastarão. (‘Abdu’l-Bahá, Some Answered Questions, newly revised edition, p. 3)
Assim, a natureza tem uma ordem - mas não tem consciência, nem livre vontade - e reage à manipulação de forças externas. Nós, os seres humanos, somos parte da natureza; mas porque temos consciência, intelecto e espírito, acreditamos que estamos acima da natureza, principalmente porque conseguimos influenciar a natureza em grande parte para nosso favor.

Há vários anos que tenho estado a estudar microbiota com fascínio. A microbiota humana é o nosso ecossistema interno, especialmente no nosso intestino, o sistema digestivo. As evidências científicas mostram que os biliões de micróbios que residem nos nossos corpos podem influenciar a nossa saúde intestinal, afectando os nossos riscos de obesidade, diabetes, saúde do cólon, sistema imunitário, causando cancro e outras coisas. Manipular esse mundo microbiano invisível dentro de nós afecta muitas partes do nosso corpo e o corpo como um todo - até pode afectar a nossa função cerebral. O facto de pequenos micróbios invisíveis que residem dentro de nós poderem ser tão poderosos recorda-me o que ‘Abdu’l-Bahá explicou, de que existe uma ordem desde o micromundo dos átomos até ao macromundo dos planetas.

Se retirarmos um electrão do átomo ou adicionarmos um protão, criamos um novo átomo. Essa manipulação também se aplica ao macromundo.

Se temos uma poluição maciça numa parte do mundo, exploração excessiva de petróleo noutra parte do mundo, consumismo e materialismo extremo que causa lixo supérfluo, como equipamentos electrónicos usados, resíduos nucleares e outras coisas, então estamos a manipular e a devastar o nosso meio ambiente.

Quando visitei a Alemanha no verão passado, pude observar o esforço que a Alemanha faz para proteger o meio ambiente. Não sabia se devia ficar feliz ou triste, porque sabia que noutras partes do mundo não se faz 1% do esforço que a Alemanha faz na protecção do meio ambiente e senti que não era justo.

Agora, a questão: "O que é que a religião e a profecia têm a ver com isso?" Bem, enquanto há quem pense que os chamados " desastres naturais" são a ira de Deus, eu diria que são uma consequência de ignorar os mandamentos de Deus.

A Fé Bahá’í afirma que a ciência e a religião devem andar de mãos dadas. Apesar de termos feito um grande progresso científico no mundo e termos construído civilizações tecnologicamente avançadas, se a ciência for conduzida sem valores religiosos e morais, torna-se mais prejudicial do que útil. A ciência precisa ser conduzida sem o objectivo da ganância, com a mais alta integridade em relação aos resultados obtidos, para responder a todos e não apenas a alguns, com respeito pela natureza, e com a percepção de que somos parte da natureza e precisamos trabalhar com ela, e não contra ela.

Os Bahá’ís reconhecem que, em última análise, o mundo tem que se unir como um todo para resolver os graves problemas globais. Assim como os membros de um corpo não podem ser separados, o mundo não deve ser considerado segregado - porque o que acontece numa parte do mundo afectará as outras partes. Se não respondermos a este apelo para nos unirmos num esforço humano colectivo, Bahá’u’lláh adverte-nos:
Ó povos do mundo! Saibam, em verdade, que uma calamidade imprevista vos persegue, e esse castigo severo vos aguarda. Não pensem que os actos que cometeram foram apagados da Minha vista. (SEB, CIV)

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Texto original: What Hurricane Irma Taught Me (www.bahaiteachings.org)

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Rebecca Sherry Eshraghi é uma Bahá'í que vive na Flórida. É casada e tem dois filhos. Cresceu na Alemanha num ambiente multicultural, onde obteve o seu diploma em Negócios Internacionais. Recentemente concluiu o doutoramento em Medicina Natural.

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